A distância entre o agronegócio e a Av. Brigadeiro Faria Lima, na capital paulista, não é grande só em termos geográficos. Durante décadas, os riscos elevados e o excesso de regulamentação, fragmentação e informalidade do campo afugentaram o mercado de capitais. Isso começou a mudar nos últimos dois anos — e esse movimento deverá ganhar ainda mais impulso. O que tem feito a diferença são os investidores individuais, que vêm por meio dos fundos de investimento dedicados ao agronegócio (Fiagro). A perspectiva de um fluxo de dinheiro novo está abrindo o apetite de quem quer diversificar.

A prova disso vem na forma de números recentes. A plataforma de negociação de commodities Engelhart está preparando uma captação de R$ 1 bilhão por meio de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Esses títulos de renda fixa antecipam recursos para o setor e recebem pagamentos regulares. A principal vantagem para o investidor é a isenção de impostos sobre os rendimentos. Seu tamanho sempre foi muito inferior ao dos primos-irmãos, o Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e emissões de CRA desse porte são inéditas.

A Engelhart foi criada pelo BTG Pactual em 2013, quando o banco enfeixou seus negócios com commodities em uma empresa à parte. Atualmente, a Engelhart é uma potência. Tem 13 unidades em seis países, e suas atividades vão além do trading. Ela também usa a musculatura financeira herdada do BTG para financiar as cadeias produtivas. Ao buscar captar R$ 1 bilhão em dinheiro de terceiros para isso, a companhia mostra que o mercado de capitais abandonou os pruridos e vai entrar fundo nessa fatia da economia.

“Gradativamente, instrumentos como os Fiagro estão ajudando a aproximar o setor das fontes privadas de recursos” Daniel Pegorini, CEO da Holding Financeira Valora.

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A Faria Lima vai ao campo

DINHEIRO PÚBLICO Será um acréscimo bem-vindo ao dinheiro estatal. Na quinta-feira (28), a conversa em Brasília era de onde sairiam os recursos necessários para reforçar o Plano Safra no segundo semestre. Apesar de o plano anterior ter dedicado a polpuda quantia de R$ 251 bilhões para a safra 2021/2022, essa montanha de dinheiro não é suficiente para as necessidades do setor, que inclui tanto agricultores familiares e pequenas cooperativas quanto gigantes com ações listadas em bolsa. “O financiamento público já não é mais capaz de financiar o agronegócio”, afirmou o fundador da holding financeira Valora, Daniel Pegorini. “Gradativamente, instrumentos como os Fiagro estão ajudando a aproximar o setor das fontes privadas de recursos.”

Os CRAs podem ser a alternativa. Em 2021 foram emitidos R$ 25,3 bilhões nesses títulos, um valor recorde e 60% superior à cifra de 2020. Ainda é um universo restrito. Segundo dados da empresa de informações financeiras Uqbar, 90% desse total tem como lastro recebíveis gerados por empresas de grande porte e conglomerados. Os pequenos produtores responderam apenas pelos 10% restantes, percentual inferior à média de 15% dos anos anteriores. Os setores que dominam os negócios também são os mais concentrados, com pecuária e açúcar e álcool na liderança. “Os Fiagros vão estimular a desconcentração”, disse Pegorini. O primeiro fundo desse tipo listou suas cotas na B3 em outubro do ano passado. Atualmente já são 22 carteiras em negociação, e várias outras devem chegar nos próximos meses… leia mais em Isto é Dinheiro 29/04/2022