A Rede Mater Dei fez seu IPO há um ano e meio prometendo mais que dobrar de tamanho em três a cinco anos.

Mas antes de completar 12 meses na Bolsa, a companhia mineira já havia cumprido a promessa com cinco M&As e um projeto greenfield em Salvador que adicionaram 1.500 leitos à sua rede.

A ação da Mater Dei, no entanto, afundou com todo o setor de saúde, afetado pela inflação médica e a alta alavancagem da maioria das empresas, que estão brigando com uma Selic de quase 14%.

Nos últimos 12 meses, Mater Dei cai 54%, em linha com a Rede D’Or (que perde 51%), Dasa (54%), Kora (65%) e Hapvida (47%). Além do ambiente ruim para os hospitais, a Mater Dei sofreu por ter um free float muito reduzido – só 16% do capital – e pelos resgates tomados por uma gestora que tem posição relevante na ação.

Mas o grande problema do papel hoje é a falta de triggers no curto prazo, segundo um gestor comprado na tese.

A Mater Dei já dobrou de tamanho desde o IPO

“Foram muitas aquisições num espaço curto de tempo, e isso precisa ser digerido. Eles nunca tinham feito um M&A e precisam mostrar que são capazes de integrar todos esses negócios,” disse o gestor. “É uma empresa do jeito que a gente gosta: ‘de dono’, bem gerida e com um modelo de sucesso. Mas quem ficar na ação vai ter que ter paciência.”

Outro gestor, que desfez sua posição na empresa, disse que a Mater Dei tem que provar que consegue replicar em outras regiões a margem próxima a 40% que ela entrega em Belo Horizonte.

“Eles compraram operações piores do que a que construíram em BH. Então, o primeiro momento é de margem menor com receita maior. A ação só vai engrenar à medida que a empresa aumentar as receitas e a margem,” disse o gestor. “O trigger para essa ação será o foco e a entrega de resultados.”

Apesar dessa percepção de boa parte do mercado, o CEO Henrique Salvador disse ao Brazil Journal que as coisas estão melhores do que parecem.

Segundo ele, depois que a Hapvida comprou a Intermédica e a Rede D’Or anunciou a compra da SulAmérica, essa concentração de mercado está fazendo as operadoras de saúde serem mais amistosas com a Mater Dei.

“Esses movimentos recentes criaram oportunidades e nos aproximaram muito de potenciais parceiros,” disse Henrique, filho do fundador José Salvador Silva, hoje com 91 anos e o chairman da companhia.

Um exemplo é o hospital da rede em Salvador – um mercado onde a presença de Rede D’Or e SulAmérica é muito relevante. O hospital da Mater Dei foi inaugurado em maio e já tem mais de 430 mil vidas credenciadas junto a operadoras de planos, um número muito acima da média.

“Diante da possível concentração nessa praça, as operadoras foram mais flexíveis no credenciamento do nosso hospital,” disse Henrique. Segundo ele, além de cuidar das aquisições recentes, a Mater Dei está analisando M&As menores em regiões onde já está, bem como negócios em lugares onde ainda não opera.

“Rio e São Paulo, por exemplo, são os dois principais mercados do Brasil, temos de estar sempre de olho. Mas não adianta entrar se já não for com um posicionamento estratégico que seja relevante,” disse o CEO.

A Mater Dei ainda vê oportunidades em praças estratégicas em parceria com outros stakeholders do setor; e está costurando novos acordos com operadores.

“Apesar da instabilidade política e econômica, o momento é de ebulição para o setor. Temos que dançar conforme a música e somos bons nisso,” disse o CEO, acrescentando que só fará M&As que agreguem valor ao negócio.

Existe amplo espaço no balanço para novas aquisições. Diferentemente das concorrentes, a empresa está pouco alavancada: a relação entre a dívida líquida e o EBITDA é de 1,8x.

Diante da queda das ações, a empresa também tem sido abordada por fundos interessados em capitalizar o negócio. … leia mais em Brazil Journal 20/09/2022