Extrair o maior valor possível do capital humano e, ao mesmo tempo, manter os funcionários satisfeitos — de preferência reduzindo a rotatividade. Esse é o desafio básico do gestor de RH, uma tarefa complexa e esbarra no grau de subjetividade das análises de perfis, performance e senso de propósito dos colaboradores.

A Talent Academy, startup brasileira de recursos humanos — uma HRTechs, como são mais conhecidas no mercado de venture capital —, aposta numa solução para esse desafio com o uso dos princípios da psicometria. O modelo atraiu a ACE, que acaba liderar a rodada seed de R$ 3 milhões da startup.

Com as ferramentas da plataforma, é possível acompanhar toda a jornada dos funcionários, desde o autoconhecimento, passando pela experiência e desenvolvimento na função, até dados sobre performance. Em um teste de 15 minutos inspirado no conceito japonês do Ikigai, o funcionário pode entender quais são seus talentos, em qual perfil se adequa melhor e qual seu propósito, facilitando também decisões da gestão sobre alocação.

“Quando a gente começou a implementar esses conceitos da psicologia positiva, enfrentamos muita resistência do mercado, achavam que era coisa de gente que abraça árvore”, lembra Renata Betti, um das fundadoras. “Hoje, está provado o valor do produto. Acreditamos que o futuro do RH está muito relacionado a entender e dominar essa jornada completa do colaborador.

Fundada em 2018 pelos irmãos Maurício e Renata Betti, junto com a psicóloga Jaqueline Padilha, a startup é um spinoff da consultoria MBA Empresarial — empresa familiar fundada pelo casal de celebridades do coaching de carreira, Sandra e Ricardo Betti, ao lado da psicóloga Satiko Monobe. De volta ao Brasil após um MBA no MIT, Maurício interrompeu a carreira em grandes consultorias, como BCG e Bain, para trabalhar com os pais.

“Quando eu entrei na empresa, vi uma oportunidade gigante de escalar o que eles faziam com o uso de tecnologia. A MBA realiza um trabalho consultivo pra RHs, com avaliação dos perfis dos colaboradores e aconselhamento sobre alocação. Nasceu ali a primeira versão da plataforma”, conta Maurício. “Sugeri a plataforma e eles ficaram muito orgulhosos. Mas logo ficou claro que nosso ritmo e estratégia seria outro. Foi então que decidimos separar.”

No mundo, várias plataformas semelhantes já atingiram status de unicórnio. Em 2021, a australiana Culture Amp atingiu valuation de US$ 2 bilhões e, mesmo com um down round no ano seguinte, ainda é avaliada em mais de US$ 1,5 bilhão. A americana Lattice também chegou à sua série F valendo mais de US$ 3 bilhões. A BetterUp, mais voltada ao coaching, vale US$ 4,7 bilhões.

Por aqui, plataformas de recrutamento, como Revelo e Gupy, também aplicam o conceito, mas a Talent é pioneira em pensar da porta da empresa para dentro. O modelo da Talent já chamou a atenção no exterior. Em 2021, a startup foi a primeira brasileira a ser selecionada pelo programa de aceleração Berkeley SkyDeck, da universidade homônima, na Califórnia. Como parte do projeto, receberam US$105 mil. Neste ano, a HRTech pode ainda receber outro cheque, de até R$ 1,5 milhão, da Meta Ventures, também resultado de um programa de impulsionamento.

Além da ACE, a rodada seed renovou a aposta de 1289 Capital e o Bossanova, que já eram investidores da startup e acompanharam a rodada como um follow-on. Desde a fundação, a startup já captou cerca de R$ 5 milhões, contando a rodada atual e o aporte inicial, feito pela empresa dos pais dos fundadores, como investidores-anjo. O novo cheque vai permitir dobrar a equipe, para 100 pessoas, com fortalecimento na equipe de tecnologia e para montar uma área de comercial.

De forma orgânica, a Talent já atraiu grandes corporações como a Raízen. A controlada de Cosan e Shell vai agregar, já em fevereiro, 40 mil usuários à base de mais de 60 mil colaboradores que a plataforma já atendia… leia mais em Pipeline 26/01/2023