“Abrir o capital nos EUA é o nosso principal projeto”, diz o CEO global da JBS
Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, afirma ao NeoFeed que a listagem no exterior é prioridade para a companhia e detalha o que a gigante, com faturamento de R$ 204,5 bilhões em 2019, está fazendo no campo da inovação
Não é de hoje que a JBS, um colosso com faturamento de R$ 204,5 bilhões em 2019, estuda abrir capital nos Estados Unidos. Afinal, mais de 70% de sua receita vem do exterior. Mas o projeto que parecia ter sido engavetado está novamente na mira de seus executivos.
“Hoje, a nossa estrutura de capital não reflete a nossa estrutura de operação”, diz Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, ao NeoFeed. Justamente por isso, devido a esse descasamento, a empresa pretende listar suas ações na bolsa americana e, obviamente, acessar um mercado com custo de capital mais barato.
“Será diferente porque teremos uma empresa americana. Esse é um grande projeto que queremos fazer”, diz Tomazoni. Indagado sobre a urgência e a data que pretende colocar o plano em prática, o executivo prefere não revelar. “Não falamos para quando, mas é prioridade e vai ser feito no momento adequado”, afirma, acrescentando que isso vai gerar muito valor aos acionistas.
Aliás, o comandante da companhia com 240 mil funcionários no mundo, dos quais 130 mil deles no Brasil, faz comparação com os concorrentes nos Estados Unidos. “Os nossos pares nos EUA têm um faturamento menor, uma geração de caixa menor e um endividamento maior. No entanto, um valor de mercado 50% maior do que o nosso.”
Na entrevista que segue, Tomazoni fala sobre o impacto da pandemia nos negócios, os investimentos em carne de proteína vegetal, a criação de laboratórios de inovação nos Estados Unidos e o uso da automação e inteligência artificial nos processos de abate dos animais.
Tomazoni também disse porque a JBS fez uma das maiores doações no combate à Covid-19. Foram R$ 700 milhões – R$ 400 milhões no Brasil e R$ 300 milhões nos Estados Unidos. “É um valor alto, mas necessário. É o maior desafio da nossa geração. Estamos enfrentando uma emergência de saúde, uma emergência social e o Brasil é a nossa casa”, afirma. Acompanhe:
No ano passado, a JBS apresentou os melhores resultados de sua história, com lucro líquido de R$ 6,1 bilhões. Mas neste começo de ano veio a pandemia. A empresa estava preparada para isso?
O ano de 2019 foi especial para nós. Não só pelos resultados financeiros, que foram muito relevantes, mas também porque reestruturamos todo o perfil da nossa dívida. Terminamos com uma liquidez muito grande, estou falando de mais de R$ 25 bilhões. Com a reestruturação que fizemos, podemos pagar nossas dívidas até 2025 mesmo se não gerarmos caixa. Essa crise veio em um momento em que a companhia estava, financeiramente, em seu melhor momento.
De certa forma, a companhia estava preparada para a crise?
Foi uma coincidência. Fizemos esse trabalho de alongamento da dívida, de trabalhar a liquidez porque achávamos que era a melhor maneira de conduzir a empresa. Foi uma questão de estratégia mesmo. E tivemos um ano muito bom operacionalmente.
Mas no primeiro trimestre de 2020 a companhia teve prejuízo…
Se você olha simplesmente o resultado, tivemos uma perda (de R$ 5,9 bilhões). Mas, quando você olha o lucro líquido ajustado, você vai ver que apresentamos um resultado de R$ 800 milhões. A grande diferença é que fizemos uma variação cambial de R$ 8,2 bilhões no trimestre, que não tem efeito caixa. O fato disso acontecer é que o nosso balanço é feito em real e mais de 70% das nossas operações estão fora do Brasil. O que acontece? Você traz para o real a sua dívida em dólar. No entanto, você não está trazendo de lá a variação cambial de todo o investimento que você tem no exterior. Nos Estados Unidos não mudou nada. Você recebe em dólar e paga em dólar. Essa distorção acontece porque o nosso balanço é feito aqui e em reais. Depende da lente que você usa para olhar o balanço aqui.
De todos os projetos que temos de construção para os acionistas, esse é o de maior valor. Além de você destravar um valor enorme. Se comparar com os nossos pares nos EUA, eles têm um faturamento menor, uma geração de caixa menor e um endividamento maior. No entanto, tem um valor de mercado 50% maior do que o nosso.
Por quê?
Por causa da geografia. Há fundos que têm, por política, não investir em empresas de mercados emergentes. Apesar de termos nossa operação nos EUA, a nossa estrutura de capital não reflete a nossa estrutura de operação. Temos um descasamento de estrutura de capital e de operação. Aqui no Brasil, somos uma empresa de acima de R$ 50 bilhões, mas temos um pedaço muito importante lá fora. A outra questão é que, a partir do momento de estarmos listados lá, o custo de capital será diferente porque teremos uma empresa americana. Esse é um grande projeto que queremos fazer.
Mas o plano está evoluindo?
Abrir o capital nos EUA é o nosso principal projeto.
Para quando?
Não falamos para quando, mas é prioridade e vai ser feito no momento adequado. Há muita volatilidade no mercado e o momento exige tranquilidade.
Estamos vivendo um momento de crise, com muitas empresas endividadas. A JBS está analisando aquisições?
Se você olhar a história da JBS, ela é uma empresa que foi formada por aquisições. Então, estar olhando oportunidades de mercado é uma prática nossa desde sempre. É uma constante aqui e não paramos por conta da pandemia. É rotina aqui dentro.
Mas agora está melhor para comprar, não?
É um momento ideal de grande volatilidade. Quando você compra uma empresa, você olha para o passado, mas muito mais para o futuro. Então, tem que precificar as coisas do jeito correto. Muita volatilidade é um momento de grandes oportunidades, mas tem que analisar os riscos porque não está muito claro o que vai acontecer daqui para frente.... Leia mais NeoFeed 10/06/2020