Após vetos do Cade, Ultra vai mirar negócios no exterior
Após ver duas tentativas de aquisição frustradas pelo órgão antitruste no Brasil nos últimos sete meses, o grupo Ultra reconhece que não será mais possível crescer, por aquisições, no mercado doméstico de distribuição de combustíveis e gás liquefeito de petróleo (GLP).
Engordar esses negócios por meio de compras, portanto, só no mercado internacional.
Mas não há, neste momento, pressão por um novo passo grandioso, que possa acelerar o crescimento no curto prazo, como foram as ofertas de R$ 2,17 bilhões pela rede Alesat e de R$ 2,8 bilhões pela Liquigás, disse ao Valor o presidente da Ultrapar, Frederico Curado, na primeira entrevista concedida após o veto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) à compra da distribuidora de GLP da Petrobras.
O executivo destacou que o grupo seguirá avaliando oportunidades de compra que surgirem fora do país. No Brasil, em outros negócios, como varejo farmacêutico, especialidades químicas e de logística de granéis líquidos. “Se, numa visão integrada de negócio, acharmos que há oportunidade de crescimento inorgânico, poderia ser fora do Brasil também”, afirmou.
A companhia tem R$ 6,4 bilhões em caixa e plano de investimentos de R$ 2,7 bilhões neste ano.
O Ultra já andou olhando ativos fora do país, apurou o Valor. A companhia analisou os negócios da Shell colocados à venda na Argentina, que incluem distribuição de combustíveis e refino. Preço e o fato de a operação de refino integrar o pacote levaram o grupo a não entrar na disputa. A concorrente Raízen Combustíveis deve ser a compradora dos ativos.
Do ponto de vista concorrencial, a notícia positiva depois dos vetos do Cade é que os concorrentes mais próximos de Ipiranga e Ultragaz, as duas empresas do Ultra nessas áreas, também não conseguirão fechar grandes compras no país. A mensagem do órgão foi claramente entendida pelos maiores players do mercado.
Aquisições ajudaram a forjar o tamanho do grupo, que teve receita líquida de R$ 80 bilhões em 2017, especialmente nos últimos dez anos. Tanto a Ipiranga quanto a Extrafarma foram compradas e marcaram a entrada do Ultra em novos negócios. Texaco, Distribuidora Nacional de Petróleo (DNP), União Terminais e terminal Temmar são alguns dos ativos incorporados ao grupo nesse período.
Antes disso, o grupo já tinha comprado a Canamex, produtora de especialidades químicas, com unidades no México, hoje parte da Oxiteno.
Outras operações no Uruguai e Venezuela foram compradas pelo braço químico do grupo posteriormente. A Ultragaz, por sua vez, levou em 2011 a filial de distribuição de GLP da Repsol no país. E chegou a olhar operações da Shell Gás na Europa.
O tamanho do caixa da holding, de R$ 6,4 bilhões no fim do ano passado, levantou questionamentos sobre o uso desse dinheiro. Mas o grupo avalia que essa posição não é exagerada e, sim, confortável ante os compromissos financeiros e plano de investimentos em curso. “Julgamos que nosso atual nível de caixa é confortável”, afirmou Curado. À medida que o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) avançar, essa posição poderá ser gradualmente reduzida.
No fim de 2016, a holding tinha R$ 5,7 bilhões entre caixa e aplicações financeiras, abaixo do valor atual. Historicamente, o grupo aborda a alavancagem financeira com um olhar conservador. Em dezembro, a dívida líquida correspondia a apenas 1,78 vez o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), que foi de R$ 4,06 bilhões em 2017.
Os investimentos previstos para este ano, que correspondem praticamente ao que seria gasto na compra da Liquigás, são os maiores já executados pelo grupo. Há projetos em todas as cinco áreas, que passam por aceleração da abertura de postos da Ipiranga e lojas da Extrafarma e inauguração da nova fábrica da Oxiteno em Pasadena, nos Estados Unidos. “O desafio da execução do investimento já é grande”, observou Curado. Fonte: Valor Econômico Autor: Stella Fontes Leia mais em tudofarma 16/03/2018