Há dois anos, a Boa Vista (BOAS3) estreou na B3 (B3SA3) com uma tese sedutora: comprar startups e reforçar sua plataforma de serviços para a cadeia de crédito, que tinha previsões de escalar no país após a Selic cair ao piso histórico de 2% ao ano.

Agora, na esteira do maior ciclo de alta de juros no país em 23 anos para debelar a inflação e o medo de recessão global que estancou o fluxo de recursos para negócios de alto crescimento, a companhia tem tentando moderar a ansiedade de investidores, mesmo ainda tendo cerca de 1,2 bilhão de reais em caixa.

“Os investidores puxaram nossa orelha, porque fizemos só duas aquisições”, disse à Reuters o presidente-executivo da Boa Vista, Dirceu Gardel. “Mas avaliamos que devíamos ‘barrigar’ algumas aquisições para o ano que vem, esperando por preços melhores”, acrescentou, lembrando que há chance de ao menos uma aquisição ainda em 2022.

Desde o IPO, a Boa Vista comprou a fintech de renegociação de dívidas Acordo Certo por um valor inicial de 37 milhões de reais, e a fornecedora de soluções antifraude Konduto, por 172 milhões. Segundo Gardel, a Boa Vista vê oportunidades de acrescentar mais soluções antifraude, o que pode vir com mais movimentos não orgânicos.

Dona de uma das maiores bases de dados de crédito no país, a Boa Vista tende a ser uma das instituições com maior potencial de rentabilizar o crescimento do Cadastro Positivo, o sistema com histórico de adimplência de pessoas e empresas que é visto como potencial impulsionador dos empréstimos no país.

Mesmo com o boom de crédito adiado pelo ciclo de juros altos e com a empresa preferindo aguardar os preços de fintechs caírem ainda mais antes de voltar às compras, analistas veem a Boa Vista com otimismo, avaliando que ela se aproxima de colher os frutos do investimento para ter uma operação 100% na nuvem, o que Gardel disse que deve ser concluída em 2023.

A Boa Vista teve alta consecutiva das receitas por cinco trimestres até junho passado.

Porém, isso foi suficiente apenas para sustentar a estabilidade das ações no acumulado do ano, quase em linha com o Ibovespa.

Segundo a Refinitiv, dos cinco analistas que avaliam a empresa, três têm recomendação de compra para as ações, enquanto outros dois sugerem manter o papel.

O Itaú recentemente reforçou a recomendação de compra para as ações da empresa, apontando para os ganho potencial do caixa cheio para consolidar verticais de negócios, além de ela mesma ser um alvo interessante para bancos e grupos de tecnologia.

Cadastro Positivo

Segundo Gardel, o Cadastro Positivo “ainda não entregou todo o potencial que pode. Criado em 2011, só há 3 anos o sistema passou a ser automático, exceto quando o dono dos dados rejeita. Estima-se que atualmente mais de 140 milhões de pessoas tenham suas informações no ambiente.

Ainda assim, só recentemente o cadastro começou a receber dados das concessionárias de serviços públicos, como de eletricidade, o que incluiu informações de cerca de 12 milhões de pessoas… leia mais em Money Times 30/09/2022