Em um momento de seca de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) e de cheques mais raros e magros de fundos de venture capital, 80% das fintechs estão em busca de capital ou pretendem fazê-lo nos próximos 12 meses. O dado é da pesquisa Fintech Deep Dive 2022, feita pela PwC em parceria com a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). Segundo o estudo, 69% das fintechs financiam suas atividades com recursos próprios.

“A crise reduziu o apetite dos investidores a riscos. Atualmente, há pouca disponibilidade de capital de risco para financiar a inovação das startups, em razão de alguns investimentos estarem congelados por causa do período eleitoral brasileiro e das incertezas relacionadas a preços e juros em todo o mundo, que foram agravadas com a invasão da Ucrânia pela Rússia no início de 2022”, diz o estudo. Uma fatia de 56% das 156 fintechs ouvidas diz que nunca participou de uma rodada de investimentos.

Entre as fintechs que conseguiram captar recursos no último ano, 49% angariaram entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões. As que estão buscando recursos, 60% pretendem receber entre R$ 1 milhão e R$ 30 milhões.

Diego Perez, presidente da ABFintechs, explica que as entrevistas foram feitas em março e abril, mas com dados referentes a 2021. Ou seja, não captam ainda os efeitos da guerra na Ucrânia e do movimento mais concreto de aperto monetário nos Estados Unidos. A perspectiva é a de que os investimentos em fintechs caiam ainda mais neste ano. “Não entendo o movimento dos anos anteriores como uma bolha, mas talvez cenários mais adversos, como a pandemia e as tensões geopolíticas, tenham sido subestimados, ou mesmo não considerados”, afirma.

Busca por capital abrange 80% das fintechs

Segundo ele, o momento atual é de investidores mais seletivos, mas com capacidade de realizar aportes. “Esses investimentos estão represados neste momento, mas sempre após uma tempestade vem a recuperação. A tendência é que os investimentos diminuam neste ano, mas eles não vão desaparecer, estão esperando o momento certo chegar.”

Para Luís Ruivo, sócio e líder de consultoria em serviços financeiros da PwC, o segmento de fintechs se consolidou nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que já não se vê mais o “boom” de novas empresas que havia cinco anos atrás, as fintechs que conseguiram andar sozinhas muitas vezes o fizeram apoiadas em uma base de clientes grande, mas ainda sem registrar lucro. “Todas têm em comum o pioneirismo de entrar em um mercado subatendido usando a receita certa. Hoje, no entanto, os espaços estão ocupados até mesmo pelas fintechs, e o desafio é crescer e gerar rentabilidade em um cenário de escassez de capital para investimentos.”

Atualmente, a maioria (31%) das fintechs fatura até R$ 350 mil por ano. Na edição anterior, 38% diziam não ter receita. As que faturam acima de R$ 10 milhões são 16% do total. Embora 65% esperem dobrar a receita neste ano, apenas 35% já atingiram o equilíbrio com as despesas (“breakeven”). Na divisão por segmentos, 21% operam em crédito; 16%, em meios de pagamento; 13%, como bancos digitais; 8% fazem gestão financeira e 8%, gestão de investimentos… leia mais em Valor Econômico 24/08/2022