Vender sim, mas não a qualquer preço.

Jean-Charles Naouri, CEO do Casino, controlador do Grupo Pão de Açúcar (GPA), afirmou ontem, em Paris, que a venda da Via Varejo – que reúne as Casas Bahia e Pontofrio – será realizada, mas só quando o preço das ações atingirem um valor considerado satisfatório.

No fim de 2016, quando a venda da operação foi anunciada, as ações da Via Varejo valiam R$ 8. Desde então, os preços mais do que triplicaram e se situam na faixa de R$ 26 a R$ 28.

“Estamos muito contentes de ter esperado. Tivemos várias pressões para vender a Via Varejo e fizemos bem de não ter vendido”, declarou Naouri após a apresentação do balanço anual do grupo para analistas. “Teríamos ficado com um gosto amargo se tivéssemos vendido a R$ 13.” Na prática, com a valorização, a empresa brasileira está avaliada hoje em cerca de € 3 bilhões (quase R$ 12 bilhões).

Mas para Naouri, o valor real da Via Varejo “ainda não foi completamente revelado pelo mercado.” Outros parâmetros usados para calcular o preço (previsão de cash-flow líquido ou valor intrínseco) resultariam, para o grupo, em uma cotação superior à atual. O CEO cita o exemplo do Magazine Luiza, com papel bem mais valorizado, sugerindo que não haveria motivo para tanta discrepância.

O objetivo é aguardar o momento oportuno. O Casino, diz Naouri, poderia vender “imediatamente” a Via Varejo em “block trade” (transação envolvendo um grande número de ações e realizada fora do pregão tradicional), mas tem recusado as várias propostas de bancos para fazer isso.

A recuperação da economia brasileira e das vendas da Via Varejo – que devem crescer, segundo ele, mais de 20%, após queda de 20% há dois anos sinalizam perspectivas mais favoráveis para as atividades, o que deve contribuir para valorizar a companhia.

Na apresentação do balanço anual ontem, Naouri destacou a “boa performance” das atividades do Casino em 2017. O faturamento global, de € 37,8 bilhões, cresceu 5% em relação ao ano anterior. O lucro operacional, de € 1,2 bilhão, teve progressão de 20%, mas descontados os efeitos do câmbio e de um crédito de impostos no Brasil, a alta foi de apenas 5,2%.

Apesar do melhor desempenho, inclusive na França, onde as vendas cresceram 0,8%, o mercado não perdoou: as ações do grupo caíram 3,7% ontem e chegaram, durante o pregão, a registrar a pior queda do índice FSB da bolsa de Paris. Analistas apontaram falta de clareza nos números, incluindo os das previsões para este ano.

Além disso, a dívida do Casino teve forte aumento, passando de € 3,4 bilhões para € 4,1 bilhões. O grupo promete reduzi-la em 2018.

O Casino anunciou ontem projetos de expansão na França e nos demais países onde atua, incluindo o Brasil. A rede Assaí de “atacarejo” (mistura de atacado com varejo) já é, aliás, o principal negócio do grupo francês no mundo.

A meta é continuar abrindo lojas de bandeiras com bom desempenho. Na França, além do Monoprix, mais sofisticado e considerado a “pepita de ouro no país”, o grupo passou a ter outras duas redes rentáveis, a Franprix – com 50 inaugurações prevista neste ano, o mesmo número de 2017 – e os supermercados Casino. A Naturalia, de orgânicos, deve ganhar 32 novas lojas.

Ao mesmo tempo, o Casino vai também reforçar seus negócios na internet. O Cdiscount seria a segunda maior empresa de comércio eletrônico da França, atrás apenas da Amazon, segundo Naouri. O Cdiscount passou a vender até energia elétrica.

A rede Monoprix terá peso na estratégia de expansão das vendas on-line.
Para isso, o grupo fez uma parceria com o britânico Ocado, líder mundial do comércio de alimentos na web, para desenvolver a entrega a domicílio. Isso reduzirá os custos operacionais. De acordo com o CEO, o sistema será implementado antes de 2020 e será uma inovação importante para o Monoprix.

A compra do site Sarenza na França, especializado em calçados, vai desenvolver os negócios de moda, beleza e decoração na internet do Monoprix. Jornalista: Daniela Fernandes Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 09/03/2018