Cerca de um ano depois de levantar R$ 3 milhões numa rodada seed, a Central da Visão emenda uma tranche de R$ 1,6 milhão de investidores como o Columbia Ventures, grupo de anjos egressos da Columbia University, e a Sororitê, rede de investidoras que apoiam iniciativas geridas por mulheres. Os líderes do aporte anterior, Gávea Angels, Hangar 8 e e 4am Capital, também acompanharam, com aumento de valuation.

O negócio da companhia são as cirurgias oftalmológicas com condições facilitadas de pagamento, explorando a capacidade ociosa de clínicas e hospitais, para atender pacientes que não têm plano de saúde. A healthtech estima, com base em dados de incidência da OMS, que cerca de 500 mil pessoas esperam hoje na fila do SUS somente pela cirurgia de catarata. E já que a população idosa deve chegar a 20% do total no país até 2050, a demanda tende a aumentar.

Central da Visão atrai anjos da Columbia e Sororité

“Quando o paciente tem um problema de saúde como esse, fica difícil trabalhar, estudar, conviver. É uma questão de dignidade. A gente sempre se emociona com as histórias”, conta Marta Luconi, CEO e sócia-fundadora da healthtech. “Hoje, a cada 10 pacientes que consultam por meio do nosso sistema, sete decidem seguir para a cirurgia. Para a clínica, é um bom negócio também, porque é uma receita incremental de um cliente que jamais iria até lá por conta própria. Nós estimamos que a cada R$ 1 investidos aqui, retornamos R$ 19 para a sociedade.”

Desde que iniciou as operações, em 2017, a Central já realizou 8 mil cirurgias — metade disso só no ano passado. Em 2022, o volume em procedimentos chegou a R$ 18 milhões. Agora, a healthtech quer expandir a operação para novas regiões e entrar em outras especialidades médicas, além de iniciar operações financeiras via parcerias. Até então, a healthtech não trabalhava com crédito, dependendo das clínicas para o parcelamento.

A healthtech acaba de fechar contrato com a Creditas para consignado com desconto em folha de pagamento. Outra parceira recente é com a FinanZero, uma plataforma que faz comparação entre empréstimos para oferecer a solução mais adequada ao cliente. A Central negocia também com a BV para oferecer produtos.

Ao lidar com as classes mais baixas, com maior incidência de analfabetos, a Central da Visão teve de adaptar o atendimento. Os consultores entram em contato com os interessados por telefone ou por áudio no WhatsApp, quando necessário, e já informam o valor do procedimento desde o início — para evitar surpresas e afastar a insegurança do paciente de ir até uma clínica médica de alto padrão, como são a maioria das parceiras. A forma de pagamento também é facilitada, com parcelamentos a partir de 10 vezes e em mais de um cartão.

São cerca de 45 clínicas afiliadas, em mais de 10 estados do país, que oferecem descontos de 15% a 50% a depender da região e da especialidade — valor próximo do que receberiam dos convênios. Quase todas são de alto padrão e trabalham com lentes importadas, mas é possível personalizar o serviço para caber no orçamento do paciente. As cirurgias são feitas em horários vagos, mediante encaixe entre um procedimento e outro — leva em torno de 10 minutos para um médico experiente operar uma pessoa sem comorbidades, o que torna o modelo altamente escalável, dizem os sócios.

A healthtech, que nasceu como Central da Catarata em 2017, foi idealizada por Guilherme de Almeida Prado (sem relação com a farmacêutica de homeopáticos homônima). Ele vem de uma família de empresários – o avô, Miguel de Carvalho Dias, fundou a CBA ao lado de Ermírio de Moraes, empresa na qual atuou como VP por mais de 50 anos. O bisavô, Lindolpho de Carvalho Dias, foi quem trouxe a Danone ao Brasil, por meio da JV da Laticínios Poços de Caldas, com outros dois sócios.

Empreendedor desde 2012, Guilherme fundou quatro empresas, incluindo a Konkero, mais tarde adquirida pela WebRock Ventures. No portal de educação financeira, percebeu que acessibilidade da informação e linguagem tem papel fundamental ao lidar com o grande público, conceito que levou para seu negócio de impacto. A partir da experiência da mãe ao fazer uma cirurgia na retina, teve a ideia de criar o serviço para quem não tinha acesso. Além de Luconi, que liderou times multifuncionais em gigantes como Coca-Cola e Unilever, convidou Ronaldo Abati, ex-Safra e Serasa, para fundar a healthtech.

Ainda em 2023, a Central da Visão quer fazer sua captação série A. O setor passa por consolidação, com diferentes teses e públicos, atraindo investidores institucionais. A rede oftalmológica Opty tem como investidor o private equity Pátria e a Vision One é uma holding consolidadora criada pelo fundo de participação da XP leia mais em Pipeline 24/02/2023