Depois das fintechs, as healthtechs são a maior oportunidade de investimento do mercado de tecnologia

O setor de saúde é onde, depois do financeiro, estão as maiores oportunidades para o mercado de tecnologia, na opinião de Gustavo Araujo, cofundador da plataforma de conexões de empresas e startups Distrito. A justificativa é simples: “O setor de saúde tem muitos problemas”.

A consultoria KPMG, que faz um tradicional relatório de investimentos de venture capital, colocou as soluções de saúde entre as áreas ‘quentes’ de investimentos para 2022. No último Venture Pulse de 2021, destacou que a covid-19 aumentou o interesse pelas healthtechs e startups de biotecnologia, além de ter acelerado a implantação de tecnologias digitais, ferramentas de rastreamento e monitoramento, e serviços. Só no quarto trimestre, empresas de tecnologia de saúde atraíram US$ 100 milhões em financiamento.

“Os investidores passaram a olhar mais para o setor, não era um setor que atraía tanto a atenção do capital de risco”, diz Andrei Golfeto, do Cubo Itaú, hub com 400 startups. Ele confirma que a pandemia contribuiu para vencer resistências a inovações, citando o caso da telemedicina. Golfeto conta que startups presentes na vertical de saúde do Cubo estão recebendo aportes de investimentos de variados valores. No segmento que tem como proposta ampliar o aceso de brasileiros a atendimentos, a Vidia, por exemplo, acaba de captar R$ 9 milhões. Segundo seu fundador, Thiago Bonino, ao mesmo tempo em que há milhões de pessoas em filas de cirurgia no SUS, nos hospitais particulares, os centros cirúrgicos estão ociosos em 60% do tempo. Para ocupar essa lacuna, a Vidia negociou contratos com hospitais, entre eles o Infantil Sabará e o Oswaldo Cruz, para realizar cirurgias cerca de 40% mais baratas que planos de saúde, segundo o executivo.

Com inovações e prevenção de doenças

Nos valores cobrados estão incluídos exames, consultas, equipe médica e estadia no hospital. Outro grande diferencial é que o pagamento é financiado, o cliente sabe exatamente quanto vai pagar pelo procedimento e tudo pode ser contratado on-line. No rol de cirurgias estão catarata, varizes, amígdalas, vasectomia e reversão, ginecomastia, refrativa, hérnia, blefaroplastia, entre outras.

Outra que recebeu aporte, de R$ 127 milhões, no final do ano passado e está em uma fase mais avançada é a Alice, um plano de saúde com base na prevenção de doenças. “A partir de uma empresa de tecnologia, criamos uma gestora de planos”, diz André Florence, cofundador da healthtech. Hoje, com 10 mil membros, sua sistemática de atuação começa com o levantamento do perfil de cada pessoa e, a partir disso, monta uma jornada de saúde para ela com o suporte do chamado “time de saúde”, formado por profissionais multidisciplinares — médicos, psicólogos, nutricionistas e enfermeiros, por exemplo.

Essa equipe pode ser acionada 24 horas por dia durante toda a semana por telefone, mensagens ou vídeo, através do aplicativo da empresa, ou presencialmente nas duas unidades da Casa Alice (neste caso, em horários agendados). A proposta é que o time tente resolver o problema do cliente logo no primeiro contato, com base nos dados do paciente. “Resolvemos até 80% dos casos com nosso time de saúde e, quando não é possível solucionar, fazemos a coordenação para encaminhar a pessoa a um especialista ou a um hospital, quando há necessidade”, diz Florence. A atuação preventiva, segundo ele, ajuda a evitar desperdícios, idas sem necessidade a especialistas e a pronto-socorros, que têm custo alto para os planos de saúde. Lançada com foco no cliente individual, a Alice agora também oferece seu plano para empresas com até 50 funcionários em São Paulo.

Na visão de Guilherme Hug, cofundador da gestora Fuse, o sistema de saúde se exauriu porque funciona voltado para sinistros. Usa-se um plano de saúde apenas quando há um problema, e não se investe na profilaxia. A partir dessa ideia, direcionou recursos de seu fundo Fuse Capital Fund I para investir também em healthtechs que contribuam na preservação da saúde por meio da prevenção. Entre as escolhidas, estão a inglesa DnaNudge, que faz mapeamento genético e oferece conselhos de nutrição personalizados, e a brasileira W.Dental, de planos de tratamento dental a preços acessíveis… leia mais em Valor Econômico 05/10/2022