Seja para grandes operadoras ou para pequenos provedores, aquisições e fusões movimentaram o setor de telecom nos últimos anos. O cenário reflete na demanda de assessoria financeira e jurídica especializada. Escritórios que acompanham os processos compartilharam com o Tele.Síntese o trabalho por trás dos contratos que impactam o mercado.

Tomás Paiva, sócio do Demarest Advogados, conta que o setor mobilizou atenção do escritório. “A gente optou nos últimos meses por estruturar uma área muito focada na indústria de telecomunicações para suportar todo esse movimento de M&As [Mergers and Acquisitions ou fusões e aquisições] que está acontecendo e que vai continuar acontecendo nos próximos anos”, conta Paiva.

“A importância de você ter uma área com super expertise focada no setor de telecomunicações é porque esse é um mercado bastante regulado, com normas específicas e com dores que precisam ser muito bem compreendidas em todo esse processo de M&As”, complementa o advogado.

De acordo com o especialista, cada segmento tem suas especificidades que demandam atenção. “Por exemplo, temos muita sensibilidade quando a gente fala do mercado de fibra, porque se refere ao uso dos postes. Então, é necessário que toda a estruturação considere as possibilidades de concessão do contrato de uso de poste, verificar se há sanção que tenha sido aplicada à empresa e que pode gerar efeitos ao grupo comprador”, exemplifica.

Como as fusões em telecom movimentam assessorias

Pontos levantados em auditorias sobre os riscos das operações, no fim, são considerados nas cláusulas dos contratos e seguem em acompanhamento mesmo após a conclusão do acordo entre as partes.

“Temos os processos de controle posterior à implementação da operação, que requer toda a parte de recomendação para a Anatel, dialogar com o regulador para endereçar possíveis regulações que possam decorrer da operação”, diz o representante da Demarest.

Regulamentação À Risca

A mobilização de time especializado também faz parte da preparação da Manesco Advogados. Milene Louise Renée Coscione, sócia e coordenadora da área de telecomunicações e tecnologia do escritório, conta que viu o mercado se transformar.

“No passado, essas operações eram mais esporádicas e envolviam, normalmente, as grandes operadoras do setor. Com o tempo, esse perfil foi mudando. Começamos a ter outras operadoras de médio e pequeno porte”, lembra Coscione.

A advogada cita o leilão do 5G como um dos mais recentes impactos no mercado, quando houve maiores aquisições de ISPs, por médias e pequenas operadoras, o que, na sua visão, deve se manter nos próximos anos e com assessoramento especializado.

“A gente faz um overview da vida da empresa [a ser adquirida] sob o enfoque jurídico e identifica todos os problemas legais e normativos que há. Analisando os passivos jurídicos, a gente consegue também contribuir para a precificação do negócio em si e estruturar o contrato de compra e venda”, afirma Coscione.

De acordo com a advogada, todo o processo tem envolvido a formação de equipes que incluem especialistas em tributação, contratos e regulação.

No mesmo sentido, Eduardo Carvalhaes, sócio da prática de Direito Público e Regulação do Lefosse, destaca que o tema de litígios é uma das especialidades que se tornaram necessárias ao assistir o setor de telecom.

“Precisamos entender quais são as licenças que eles [as partes no processo de M&A] têm, tanto da Anatel quanto das prefeituras para poder operar de maneira legítima”, resume Carvalhaes.

O especialista explica que este é um processo essencial antes de qualquer acordo para que caminhos de soluções estejam no contrato.

“Obviamente, será preciso identificar quais os problemas que as empresas têm atualmente e dar uma solução para eles no contrato de combinação de negócios ou de aquisição. Se você não fizer isso agora, é um problema que pode aparecer lá na frente e, não tendo um endereçamento contratual, pode acabar levando à disputa judicial, administrativa ou arbitragem”, diz o especialistas.

TENDÊNCIAS NAS FUSÕES DE TELES

Fábio Jamra, sócio da RGS Partners, avalia novas mudanças no mercado. “Neste ano, houve resfriamento nas fusões e aquisições dos pequenos provedores, que são os detentores das carteiras de clientes. Em compensação, houve um aquecimento das grandes transações, principalmente olhando a infraestrutura – estamos falando das redes neutras”, observa.

O especialista cita entre os principais fatores do esfriamento o fato de que “os ISPs independentes começaram a ficar menos abundantes”. No entanto, reconhece que o aquecimento do ano passado ainda gera alguns impactos, no entanto, com “menos compradores e menos alvos”.

“Falando de ISPS, a gente continua com alguns compradores que são empresas capitalizadas, como: a Desktop que fez IPO; a AmericaNet, que é de fundo de investimento; a Tecpar, no Sul, que está com um plano de extensão bem agressivo”, cita Jamra… leia mais Tele Síntese 24/08/2022