A Copagaz protocolou hoje no Cade uma manifestação jurídica e um parecer econômico com uma lista de motivos contra a operação anunciada por Ultragaz (do grupo Ultra) e Supergasbras, apurou o Pipeline. A companhia já tinha entrado como terceira interessada no processo de análise do consórcio entre as concorrentes, que há seis meses anunciaram um consórcio operacional que a rival leu como fusão disfarçada.

O mercado de GLP já é concentrado no país, o que levou à reprovação pelo Cade, há cinco anos, da aquisição da Liquigás pela Ultragaz – a distribuidora da Petrobras acabou sendo vendida então à Copagaz e Itaúsa. Diante do contexto, o grupo Ultra formatou agora um arranjo que não envolve transação societária.

Com a intenção de ganhar eficiência e otimizar investimentos, as duas companhias querem compartilhar parte de suas estruturas operacionais de produção de GLP envasado e a granel.

Copagaz vai ao Cade contra operação da Supergasbras e Ultragaz

A Copagaz anexou um parecer econômico feito pela consultoria Ferres, avaliando que a troca de informação sensível entre as duas companhias na gestão dessas bases aumentaria o incentivo das distribuidoras para uma estratégia coordenada em relação a volumes e abordagens de mercado.

O entendimento da consultoria e da concorrente é que, ainda que sem troca de ações e com outra nomenclatura, o desenho traz efeitos semelhantes ao de uma fusão – como redução da assimetria de custos e de informação entre as empresas, a movimentação coordenada de expansão e retração de oferta entre as empresas, e maior assimetria entre as duas e as concorrentes, subindo a barreira de entrada.

Como o Cade costuma avaliar a concentração por estado, a Ferres destaca que em alguns deles a dupla parceira passaria de metade do mercado. Passariam de 40% do volume de mercado de GLP envasado em oito estados e de GLP a granel em 14 estados, excedendo 50% em 10 deles no granel – na Bahia, por exemplo, chegariam a 71,9% e a 66% no Distrito Federal, segundo a consultoria.

A Ferres diz ainda que não há incentivos ao repasse destas eficiências ao consumidor final nesse modelo de consórcio, mas sim uma reconfiguração do mercado como duopólio.

Ao Cade e ao mercado, Ultragaz e Supergasbras fazem referência aos chamados contratos de congêneres, já utilizados no mercado de gás de cozinha para complementar a atuação em estados que uma distribuidora não detém infraestrutura. Isso, no entanto, costuma ser feito em proporções bem menores do que a proposta das duas companhias.

Um dos argumentos da concorrência é justamente a sobreposição de bases, e não a complementariedade. O consórcio envolveria 35 bases de carregamento e envase de GLP em 15 estados, sendo que em nove estados as distribuidoras teriam sobreposição.

Na prática, as companhias teriam um hub de coordenação das operações, discutindo capex, trocando informações comerciais, tecnologia e compartilhando decisões. “É muito diferente do que existe hoje, de prestação de serviço complementar e pontual em determinados mercados em que uma distribuidora não tem envase”, diz um executivo ligado a uma quarta distribuidora.

Ultragaz e Supergasbras anunciaram a operação há pouco mais de seis meses, mas só mais recentemente entraram com a petição detalhada no órgão antitruste, acessada pelos concorrentes. Outros competidores têm respondido a questionamentos do Cade sobre o assunto e, .. leia mais em Pipeline 07/02/2023