A privatização dos Correios é a próxima de uma lista hipotética do mercado financeiro, mas a operação não deve acontecer tão cedo, avaliam especialistas consultados pelo Money Times.

Ao mesmo tempo em que analistas veem o avanço no debate sobre venda de empresas públicas, parte dos economistas avalia como incipiente o projeto que viabiliza a desestatização dos Correios. Para eles, não há clima político para encaminhar a discussão.

Desde agosto, está em análise na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o Projeto de Lei nº 591/21, que inclui a iniciativa privada na exploração de serviços postais de carta, cartão postal e telegrama. Hoje, empresas não públicas atuam apenas no segmento de entrega de encomendas.

Pela proposta, o comprador terá de adquirir 100% dos Correios e deve ter liberdade para definir preço e demais condições para o serviço de entrega de encomendas. A concessão para serviços postais será de caráter exclusivo por ao menos cinco anos.

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Para Marcos Mollica, gestor do Opportunity, o mercado em que os Correios atuam e o porte da companhia — menor do que as gigantes Petrobras (PETR3; PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3), por exemplo — tornam a ideia de privatizar a estatal mais palatável politicamente.

No entanto, Mollica não vê o processo de saída da União da companhia acontecendo em 2022. “Em um ano eleitoral a chance [de privatização] é zero, mas a ideia já está amadurecida”, diz. “É preciso limpar o cenário político”.

‘Fadado ao fracasso’

O economista e professor do Insper, Sérgio Lazzarini, autor do livro Capitalismo de laços, em que aborda as conexões entre empresas e o Estado brasileiro, pondera que a privatização dos Correios se mostrou “muito polêmica” ao chegar ao Senado.

Segundo Lazzarini, o governo falha ao apresentar uma proposta incipiente, sem discutir previamente com o Congresso o texto que viabiliza a venda da estatal. “Projeto desenhado às pressas e sem discussão é fadado ao fracasso”, afirma.

O acadêmico avalia que a privatização dos Correios demandaria um estudo maior do que o apresentado no projeto, com ponderações sobre problemas de cobertura e alta de preços em um eventual mercado privado, por exemplo.

Para o professor, a regulação é uma das grandes questões envolvendo a desestatização da empresa, embora os envolvidos no projeto já tenham falado de uma “Anatel” para esse mercado. “O valor pelo qual os Correios serão avaliados depende de o que a lei vai obrigar o adquirente a fazer”, pondera.

“Se você tirar o risco regulatório e permitir a otimização da operações, então a estatal pode valer bastante e a venda da empresa será rápida”, comenta.

Mas, avalia Lazzarini, uma operação não regulada criaria um “problema enorme”, com o microempreendedor, por exemplo, não podendo entregar em determinadas regiões, já que uma eventual otimização das operações implicaria no fechamento de postos não rentáveis.

Questão social

Para o professor do Insper, a privatização de empresas, no geral, ficou mais difícil. Ele lembra que, no passado, companhias como Usiminas (USIM5) foram vendidas pela União, mas diz que eram então estatais sem função social.

Lazzarini cita o caso da Eletrobras, a maior geradoras e distribuidora de energia do país, como outro exemplo em que a função social é relevante — e daí a dificuldade em vender a empresa.

O projeto que prevê a saída da União do controle da companhia está em estudo e com previsão do governo de capitalização antes de junho de 2022, apesar de pedido de vistas do TCU.

Analistas do Banco Inter ponderaram, em relatório recente, que a necessidade de investimentos e as restrições orçamentárias por parte do governo podem pesar a favor da venda de estatais.

As desestatizações serão embasadas pelos “bons resultados obtidos não somente pelas vendas dos anos 1990, mas pelas atuais trocas de gestão”, diz trecho de relatório assinado por Rafaela Vitória, Matheus Amaral e Daniel Arruda.

Agenda

Para o Inter, as motivações para privatização ainda estão ligadas a fatores políticos, “apesar das evidências de melhoras na gestão das empresas privatizadas e consequente aumento do investimento e ganhos de produtividade agregados”.

No Senado, o projeto dos Correios precisava ser aprovado até abril para que a empresa seja leiloada no governo atual, estipula o Executivo.

O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Otto Alencar, é contra a privatização, e o senador Eduardo Braga propõe transformar os Correios em uma operação mista público-privada.

A corretora Ágora, em comentário recente a clientes, disse que uma pressão do governo pode ajudar a acelerar a privatização dos Correios. A gestora chega a especular que a empresa de logística JSL (JSLG3), controlada pela Simpar (SIMH3), poderia analisar a aquisição da estatal como um investimento potencial. A Ágora cobre as ações da empresa de logística.

O interesse de analistas sobre os ativos da estatal está na possibilidade de a venda impulsionar empresas com ações listadas em bolsa e promover uma maior eficiência operacional dos Correios.

A empresa acumulou prejuízo de R$ 3,9 bilhões entre 2013 e 2016, mas desde 2017 tem registrado resultados positivos nos balanços anuais.

Segundo decreto que aprova o PDG (Programa de Dispêndios Globais) das empresas estatais federais para o exercício financeiro do ano que vem, os Correios devem ter ter receita de R$ 22,4 bilhões em 2022…Saiba mais em moneytimes.31/12/2021