Crise da Covid-19 reforça necessidade de planejamento cuidadoso nas transações de M&A
A pandemia de Covid-19 transformou completamente o cenário de negócios para 2020, com impactos expressivos em todos os setores da atividade econômica. O mercado de fusões e aquisições (M&A, ou mergers & acquisitions) também sofreu efeitos imediatos, como consequência da forte desvalorização do real ante o dólar e pelo pessimismo dos mercados de ações, globalmente, inclusive no Brasil.
Naturalmente, as primeiras movimentações deste mercado foram no sentido de aumentar a cautela e reduzir a velocidade de novas transações, com as empresas concentradas em analisar os impactos causados pela Covid-19 e formular políticas de respostas à crise. Os acordos previamente negociados, ou que se encontravam em estágios avançados, progridem lentamente. Já os contratos em fase ‘pré-due dilligence’ (na qual se levantam riscos e oportunidades de uma transação) não chegaram a ser cancelados, mas adiados.
PROSPERAR DIANTE DOS DESAFIOS
Apesar do panorama adverso, há uma expectativa de aumento no volume de transações na segunda metade de 2020, uma vez que há um movimento de investidores que iniciaram a busca por oportunidades no Brasil com a pandemia e juro baixo. “Embora a duração e a extensão dos efeitos da crise permaneçam incertas, aqueles executivos que responderam rapidamente – antecipando impactos, mitigando riscos e prestando atenção às novas oportunidades – poderão prosperar diante dos desafios atuais”, afirma Venus Kennedy, sócia da área de Consultoria Empresarial e líder da prática de Strategy, Analytics e M&A da Deloitte.
Diante do cenário incerto, é fundamental traçar uma estratégia clara que contemple todos os pontos de um processo de M&A, para que acordos em andamento (e futuros) possam avançar com mais tranquilidade. A chave aqui é planejar uma execução com mais tempo e tranquilidade, levando em conta possíveis atrasos decorrentes de questões regulatórias e de finalização de processos de diligência na empresa que está sendo negociada, destaca Reinaldo Grasson, sócio da área de Financial Advisory e líder da prática de Corporate Finance da Deloitte. “A coordenação virtual do processo de M&A pode alongar o prazo de conclusão da transação. É preciso direcionar esforços para planejar uma integração rápida pós-aquisição visando a maximizar ganhos com sinergias e minimizar riscos de disruptura nas operacões”, recomenda.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES
Nesse contexto da crise, os processos de M&A devem ser planejados com uma definição entre duas estratégias principais: uma estratégia defensiva, priorizando a proteção do negócio; ou a ofensiva, acelerando a transformação do modelo de negócios. “Dentro do primeiro modelo, as empresas devem estar atentas a oportunidades de desinvestimento de negócios não essenciais ou de baixo desempenho, estabelecer alianças para investimentos conjuntos e buscar aquisições oportunistas para reforçar e proteger o core business”, explica Grasson.
No cenário mais agressivo, as oportunidades surgem a partir de processos de reorganização e otimização para a nova realidade, com estabelecimento de alianças e joint-ventures. As chances de M&A devem surgir, de maneira geral, de empresas de setores que lidam com tecnologias mais disruptivas, naturalmente mais resilientes em meio à crise da Covid-19.
PLANEJAMENTO
O próprio planejamento dos processos de M&A deverá ser reforçado, com olhar cuidadoso para aquela que costuma ser a primeira etapa, de due diligence. O cenário pós-crise, ainda incerto, tende a trazer riscos ampliados e o papel da gestão de riscos ganha uma dimensão mais relevante.
“A auditoria a ser realizada no target da operação deve ser bastante detalhada, incluindo, não somente os tradicionais aspectos financeiros, mas também TI, operações e recursos humanos”, afirma Venus. A executiva ressalta ainda a importância de desenvolver uma análise financeira que não considere o impacto da Covid-19, possibilitando avaliar a realidade dos negócios em um cenário próximo do normal”. Diante desses desafios, realizar o planejamento de uma transação de M&A com eficiência, enquanto os colaboradores atuam remotamente, também requer atenção a diversos pontos.
Alinhamentos frequentes, de preferência com horário fixo e regular para reunir a equipe, são interessantes para manter a consistência na comunicação, assim como o uso de ferramentas adequadas de trabalho virtual ajuda a manter o foco e humanizar o contato da equipe. Pontualidade e regularidade das reuniões online são essenciais para unir os times, e a definição prévia de um profissional para atuar como coordenador da reunião, mantem as discussões centradas e organizadas.
Apesar de o mercado de M&A entrar em uma tendência de baixa devido ao atual contexto, é possível capturar oportunidades e redefinir estratégias para atravessar a crise com confiança. Utilize o momento para se concentrar novamente no core business, e analise os dados gerados durante a crise para entender o que funciona para sua empresa, identificando os pontos fortes e as lacunas. O novo coronavírus acelerou o ritmo natural das mudanças, e é fundamental que as organizações se adaptem a nova realidade… Leia mais em estadao 16/07/2020