Qualquer expansão das quatro grandes firmas globais de auditoria – Deloitte, PwC, EY e KPMG – por meio de aquisições no Brasil passará a ser analisada com bastante cuidado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) daqui para frente.

 Esta é a percepção dos dois lados envolvidos no julgamento de ontem do órgão regulador sobre a compra das operações da BDO no Brasil (antiga Trevisan) pela KPMG, dois anos e meio após o anúncio do negócio, em fevereiro de 2011.

 Para conseguir a aprovação da transação, a KPMG se comprometeu a não adquirir, pelo período de dois anos, empresas de auditoria no Brasil que tenham na carteira de clientes companhias abertas com faturamento acima de R$ 300 milhões.

 Pelos dois anos seguintes, a KPMG será obrigada a notificar previamente o Cade caso tenha interesse em adquirir uma firma de auditoria com clientes de capital aberto e receita bruta acima de R$ 350 milhões.

 No cenário atual, negócios envolvendo BDO RCS, Grant Thornton (ex-Pryor), Baker Tilly e Directa estariam vetados ou sujeitos análise criteriosa pelos limites estabelecidos pelo Cade.

 Embora o Termo de Compromisso de Desempenho (TCD) só tenha validade legal para a própria KPMG, que o assinou, existe a leitura de que as restrições podem afetar também futuros negócios de PwC, Deloitte e EY, que completam o grupo conhecido como “Big Four”.

 “Sem dúvida cria um precedente e serve como um sinal para o mercado de que o Cade está atento”, afirmou Charles Krieck, sócio-líder de auditoria da KPMG.

 Seis meses antes de a KPMG comprar a operação da BDO no Brasil, em fevereiro de 2011, a EY havia adquirido a Terco, que era a representante da Grant Thornton no país, em transação aprovada sem restrições.

 Na época dos negócios, a Terco era a quinta do mercado e a BDO a sexta, com faturamento em 2010 de R$ 125 milhões e R$ 117 milhões, respectivamente.

 Com as aquisições, as quatro grandes firmas chegaram a ficar com 99% da receita do serviço de auditoria entre as 200 maiores empresas de capital aberto, conforme levantamento do Valor em 2010. 

Atualmente, o índice deve ter caído por causa do rodízio obrigatório determinado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que ocorreu no ano passado.

 A KPMG, por exemplo, não pôde manter os clientes que, somado o tempo de Trevisan, chegaram ao limite de cinco anos de serviço. E isso abriu espaço para a BDO, por meio da nova parceira RCS, retomar as contas antigas de JBS, Marfrig e Rede Energia.

 Mas certamente as “Big Four” permanecem com mais de 90% do mercado entre as grandes companhias de capital aberto, índice que cai bastante quando se inclui na conta as empresas abertas de menor porte e ainda mais com as fechadas.

 Segundo Priscila Brolio Gonçalves, advogada do escritório VPBG, representante da BDO International no processo, o principal benefício da decisão é evitar que a firma se fortaleça novamente no Brasil e uma “Big Four” compre a operação. “Com o novo sistema de análise prévia, e com o Cade conhecendo esse mercado, isso não vai voltar a acontecer”, afirma Priscila, que disse ter gostado da decisão.

 Segundo Krieck, a KPMG está “satisfeita” com o acordo e segue com seu plano de crescimento orgânico. O executivo lembra que a decisão não afeta transações na área de consultoria, nem negócios que venham a ser conduzidos pela KPMG internacional.

Por Fernando Torres | Valor Econômico.
Fonte: noticiasfiscais 10/10/2013