A rede varejista Elektra, do empresário mexicano Ricardo Salinas, adquiriu parte das lojas da cadeia pernambucana Tradição Móveis e Eletros, controlada por Eugênio Alencar Muniz, numa negociação finalizada algumas semanas atrás.

Entre os 62 pontos que estavam à venda, e que valiam cerca de R$ 60 milhões, a Elektra ficou com 12 pontos e outras 20 unidades foram vendidas para a Laser Eletro, rede sediada em Pernambuco.

É um número menor que o verificado em negociações recentes do varejo de eletroeletrônicos, mas reflete o modelo de crescimento adotado pela Elektra no país. Devagar e sem movimentos muito bruscos.

“Nossa trajetória é segura e sem sobressaltos. Mas essa aquisição foi uma oportunidade interessante que nos permitiu ampliar a area de atuação e nos ajudou a quase duplicar a rede de pontos da Elektra no país”, afirmou Francisco Cordeiro, diretor de operações da rede.

Em dezembro de 2010, com dois anos e meio de operação no Brasil, a varejista somava 35 lojas e hoje são 61 pontos todos em Pernambuco. O Banco Azteca, o braço financeiro do grupo, tem uma agência e postos de atendimento dentro das lojas.

Quando a rede abriu a sua primeira loja no Brasil, em abril de 2008, o projeto anunciado era alcançar 1,5 mil lojas em 2015. As estimativas acabaram sendo reavaliadas por causa da desaceleração econômica global, puxada pela crise nos Estados Unidos, que afetou os negócios de Salinas naquele país e no México.

O atual movimento de compra de pontos é parte da atual estratégia da cadeia mexicana de crescer com discrição por meio da aquisição de pequenas cestas de lojas de grupos regionais nos estados do Nordeste. Segundo o comando da rede, nos próximos doze meses, o plano é abrir unidades na Paraíba, Alagoas e Sergipe e, posteriormente, numa segunda fase, na Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará.

O Valor apurou que a companhia tem avaliado a compra de lojas controladas por redes de médio porte, com 30 a 40 pontos, no Ceará e em Pernambuco, segundo uma fonte próxima à Tradição Móveis e Eletros.

Apesar das metas iniciais de expansão não serem mais comentadas, Salinas diz que o projeto da rede é de longo prazo. “O plano de crescimento da Electra no Brasil permanece intacto. Estamos com cerca de 60 lojas e com uma equipe de pessoas também bem maior”, afirmou Ricardo Salinas, em resposta por email ao Valor, durante viagem de descanso. Salinas negou o interesse em vender a operação no Brasil, de acordo com informações que circularam entre executivos do varejo nos últimos dias. “Isso é completamente falso. Nada mudou”.

A companhia fez recentes tentativas de adquirir redes maiores no país, mas não deu certo. A política da rede de não comprar cadeias varejistas com passivo (trabalhista ou com fornecedores) emperrou algumas negociações. A Elektra chegou a firmar um contrato de intenção de compra da Lojas Maia. A Elektra aceitava pagar US$ 170 milhões, mas se recusava a arcar com os US$ 30 milhões de dívidas que a Maia queria incluir no acordo. “Salinas disse para o pessoal da Maia: Você sabe o tamanho do meu passivo? Zero”, contou um ex-executivo da Elektra. O negócio não avançou.

Em relação ao Baú da Felicidade, de Silvio Santos, nunca se chegou a apresentar uma proposta formal. “O Silvio mudava muito de ideia, e ainda tinha que negociar para não ficar com as dívidas do Baú”.

Analistas acreditam que uma expansão mais acelerada da mexicana, por meio de aquisições de redes médias, levará a Elektra a esbarrar, inevitavelmente, em negociações envolvendo dívidas. Se manter o plano atual de compra de pontos de forma isolada, ela não terá esse problema. Mas acabará crescendo mais devagar.
Fonte:ValorEconômico29/07/2011