A aquisição da fatia de 50% detida pela Eneva na térmica de Pecém impulsionou o resultado de segundo trimestre da EDP Energias do Brasil e foi comemorada pelo presidente Miguel Setas. O executivo, em entrevista concedida a jornalistas na manhã desta quinta, 30, destacou que o valor pago, de R$ 300 milhões por uma capacidade instalada de 360 MW, foi inferior aos R$ 390 milhões movimentados com a venda da Pantanal Energética, de 51 MW.

“Esses R$ 390 milhões ajudam a financiar a compra da usina de Pecém e dão uma ideia do bom negócio que fizemos na compra de Pecém e na venda da Pantanal”, afirmou Setas, após salientar que a venda da Pantanal se mostrava necessária por si só. A EDP Energias do Brasil deixou de capturar sinergias no Estado após se desfazer de uma distribuidora que operava localmente, em 2009.

A venda da Pantanal foi anunciada neste mês e será concluída apenas no início de 2016. A aquisição da fatia de 50% da Eneva, por sua vez, foi concluída em maio deste ano e resultou em um impacto positivo de R$ 885 milhões no balanço do segundo trimestre.

A diferença é explicada por dois fatores, cada um com impacto equivalente a cerca de R$ 400 milhões. A avaliação do ativo, feita pela E&Y e por outras consultorias externas, estabeleceu que o valor era de R$ 1,6 bilhão, acima dos R$ 1,17 bilhão em livro. Além disso, havia uma diferença entre a precificação dos 50% de Pecém e o valor justo. “Em síntese, esses mais de R$ 800 milhões decorrem da diferença entre o que pagamos e o que estava registrado nos livros e da diferença entre o valor contábil e o ‘fair value”, salientou Setas.

O vice-presidente financeiro da EDP Energias do Brasil, Henrique Freire, destacou que o ganho registrado no segundo trimestre não se repetirá no terceiro trimestre, dado que a transação foi concluída em maio. Por outro lado, os balanços do segundo semestre devem refletir o efeito positivo obtido por Pecém – no segundo trimestre, o impacto ficou restrito a apenas 45 dias, a partir da conclusão da compra.

A taxa de disponibilidade da usina no primeiro semestre atingiu 87,5%, acima do número de 76% registrado no ano passado. Para o acumulado de 2015, o número médio deve ficar na casa de 90%, reiterou Setas. “Esta usina, que durante dois anos nos deu algumas dores de cabeça, vemos que, neste momento, está atingindo aquilo que é seu objetivo de performance. A partir de agora acreditamos que a usina atingiu sua estabilidade comercial”, complementou o executivo. Pecém responde neste momento por 26% de toda a capacidade instalada de geração da EDP, ou 700 MW de um total de 2.700 MW.

GSF
O presidente da EDP Energias afirmou ainda que a proposta para o déficit de geração hídrica (GSF) em análise dentro do Ministério de Minas e Energia (MME) deve garantir a proteção aos geradores. Assim como ocorreu com os distribuidores de energia, que precisaram de socorro externo e foram protegidos pela conta ACR, os geradores também devem ter recursos para que o impacto do GSF não chegue aos balanços trimestrais.

Como o tema ainda está em discussão em Brasília, Setas destacou que as sugestões ainda estão em fase de análise. “As propostas das empresas caminham para uma solução semelhante, a partir da qual seria construído um ativo regulatório que daria garantia na demonstração das contas financeiras”, afirmou.

Esse ativo regulatório seria securitizado e permitiria, ao mesmo tempo, que o impacto do GSF não fosse repassado ao consumidor de energia de imediato.

A proposta também prevê que a concessão das geradoras seria expandida, em troca de maiores investimentos. No início deste mês, o ministro de Minas e Energia Eduardo Braga sinalizou que exigiria das empresas uma ampliação de 5% na capacidade instalada. “O sistema elétrico nacional necessita de investimento adicional para suprir a demanda”, concordou Setas.

Contratação
No aguardo de uma solução para o GSF, a EDP Energias do Brasil decidiu manter um volume grande de energia descontratada a partir de 2016. Esse volume, correspondente a 19% da disponibilidade da empresa, pode ser utilizado com um hedge natural para períodos mais desfavoráveis de hidrologia. Em 2015, o déficit hídrico tem se mantido em 19%, de forma a obrigar as geradoras a comprarem energia no mercado spot para o cumprimento de contratos. “A partir de 2016, a companhia estaria coberta a esse risco de maneira natural”, ressaltou Setas.
Essa modelagem pode ser revista caso a solução do governo
federal para o GSF torne atrativa a venda da energia descontratada. Outro fator que pode determinar a política da EDP Energias do Brasil em 2015 é o ritmo de construção da hidrelétrica Cachoeira Caldeirão. Setas reafirmou hoje que o projeto deve estar concluído entre seis e 12 meses antes da previsão.

O prazo foi mantido apesar do incidente ocorrido na hidrelétrica, o qual resultou no alagamento parcial da cidade de Ferreira Gomes. Discute-se, neste momento, a abrangência da interdição da obra na usina e as condições das indenizações a serem dada à comunidade local.

“Tivemos um custo de aproximadamente R$ 9 milhões às famílias, mas o tema ainda está sendo avaliado”, disse Setas. A companhia alega que o volume de água que atingiu a cidade é inconsistente com o volume de água liberado na usina. Abaixo da usina Cachoeira Caldeirão estão outras duas. A despeito da discussão sobre a responsabilidade do alagamento, Setas salientou que o seguro da empreiteira responsável pela obra deve assumir o valor integral da indenização.

A construção da hidrelétrica é prioritária para a EDP Energias do Brasil. O executivo reiterou hoje que o foco da companhia, até 2018, está na construção da Cachoeira Caldeirão e da usina São Manoel.

Dividendos futuros
Miguel Setas afirmou também que a palavra prudência deve continuar a determinar a estratégia da companhia em relação à distribuição de dividendos. No ano passado, a companhia determinou um payout de 25%, abaixo dos 100% distribuídos nos anos anteriores e também da política de distribuição mínima da EDP, de 50% do lucro.

“Os efeitos das chuvas e a retração das margens não nos permitia praticar um payout de 100% como fizemos nos anos anteriores. E, embora ainda não estejamos em momento de tomar essa decisão, mas em face do cenário atual, nossa visão é que devemos voltar a ter uma perspectiva prudente em relação à distribuição de dividendos”, afirmou Setas. “Neste momento, a palavra certa é prudência”, complementou. Por André Magnabosco | Estadão Leia mais em Yahoo 30/07/2015