Durante painel no RD Summit 2022, especialistas da área declararam que falta de organização e informação sobre métricas acaba limitando as possibilidades de fusões e aquisições.

Os investimentos de fundos de venture capital desaceleram neste ano, mas a estratégia de fusão e aquisição continua atraente para as startups que buscam crescimento acelerado. O M&A pode ser a saída para quem busca maior participação de mercado, redução de custos, melhoria na tecnologia e ampliação de base de clientes.

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Segundo dados do Inside Venture Capital, levantamento realizado pela plataforma Distrito em parceria com o Bexs Banco, até setembro foram realizados 166 M&As no Brasil.

O assunto foi tema de painel no terceiro dia de RD Summit 2022, sexta-feira (28/10), com a participação de Rapha Duarte, CFO da RD Station – adquirida em 2021 pela Totvs por R$ 1,8 bilhão, o maior deal privado de uma empresa de software na América Latina –; Karolyna Schenk, diretora de M&A da Totvs, com mais de 50 transações para diferentes indústrias no currículo; e Rafael Assunção, sócio da Questum, empresa especializada no assunto.

Segundo Assunção, é preciso entender que as fusões e aquisições não são apenas para empresas grandes. O especialista ressaltou que o cenário macroeconômico, com inflação e taxa de juros alta, não determina tanto as movimentações nesta seara. “Não acontecem mais negociações hoje em dia porque as startups não estão prontas. O apetite da ponta compradora só faz aumentar. O que limita a velocidade das transações são as empresas não estarem organizadas, no tamanho certo e com a estratégia bacana”, afirmou.

Na opinião dele, o interesse é grande também da parte das grandes empresas, que estão sentindo a pressão dos consumidores por transformação e inovação, e querem testar novos modelos de negócio. “Cabe aos fundadores terem bons ativos, estarem estruturados, com uma estratégia vencedora. Dessa forma, sempre vai ter gente pra negociar do outro lado da mesa”, disse.

Para Assunção, a conversa sobre o futuro da empresa deve acontecer desde a fundação do negócio. Os sócios precisam determinar se a venda é algo que prospectam para o fim da jornada e traçar alvos: por quanto gostariam de vender a empresa, em quanto tempo, qual o faturamento que querem alcançar até lá.

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Assunção e Schenk afirmaram que é comum conversarem com fundadores que não sabem métricas básicas da empresa e que falta organização das empresas. “O que não é medido não pode ser melhorado. É preciso se organizar para entender os pontos de melhoria e, quando chegar o momento, saber se apresentar. Se quem estiver comprando não tiver as informações, a tendência é ser mais conservador para diminuir o risco da operação”, pontuou a diretora.

Comece hoje
Se este é o futuro que você busca para a sua empresa, é importante deixar a casa arrumada antes de iniciar as negociações. Ainda que seja algo vislumbrado para um futuro distante, adotar práticas mais organizadas hoje facilitará o dia a dia do negócio. “A conversa só vai se justificar se houver um nível de governança e organização que permita que uma empresa de capital aberto fale com você. Questões tributárias e societárias costumam impedir que negociações aconteçam”, afirmou Assunção.

Entre os pontos ressaltados para serem avaliados para avançar nos aspectos de governança e conquistar mais confiança das empresas estão:

– Enquadrar a empresa no CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas);
– Contratar os funcionários dentro do regime da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho);
– Formalizar o contrato social da empresa;
– Proteger a propriedade intelectual.

Além disso, também é importante ter na ponta da língua algumas informações básicas para a negociação do valuation, como:

– Faturamento;
– Ebitda (sigla que significa lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou seja, qual é o lucro da empresa antes dos descontos);
– Clientes adquiridos.

Assunção contou que atendeu startups que foram sondadas por empresas, receberam oferta de aquisição, mas não puderam seguir em frente pela falta de organização. O tempo gasto pela readequação em uma fase mais avançada do negócio pode fazer com que a oportunidade seja perdida. “Você vai dormir mais tranquilo como empreendedor se tiver a casa arrumada para quando uma companhia se interessar não haver frustração por uma inviabilização de transação”, declarou.

Como dica, Assunção e Schenk recomendam buscar softwares de gestão e profissionais, como advogados e contadores, para formalizar as questões burocráticas. “Decisões do dia a dia impactam o valor da empresa a longo prazo. Quanto mais governança e gestão, menor será o desconto num momento de negociação de valuation”, finalizou Schenk… Leia mais em revistapegn.globo.29/10/2022