Estado de MG registra 33 operações de fusões e aquisições no ano
Nos quatro primeiros meses deste ano, foram realizadas 33 operações de fusão e aquisição em Minas Gerais, o equivalente a 6,16% do total de negócios anunciados no País, que registrou 535 transações no período. Somente em abril, o Estado contabilizou nove operações. Os dados são do relatório “Fusões e Aquisições no Brasil”, divulgado pela PwC Brasil neste mês.
O número de transações de M&A (Mergers and Acquisitions), fusões e aquisições em inglês, vem aumentando nos últimos dez anos e, não por acaso, deu um salto durante a pandemia. Segundo o sócio da PwC e líder da área de fusões e aquisições, Leonardo Dell’Oso, a pandemia atuou como mola propulsora do processo a partir do impacto provocado nas empresas, quando elas tiveram que enfrentar lockdowns e outras restrições sanitárias a partir de 2020.
“Com as operações paralisadas, elas precisavam de dinheiro para continuar vivas, e a única alternativa era o mercado financeiro, que, diante da procura, ficou difícil e caro, mesmo com baixas taxas de juros. A solução então foi captar esses recursos através de M&A, fazendo vendas de participações societárias, de todo o negócio ou ativos”, explica Dell’Oso.
O ano de 2020 marcou o recorde histórico de transações anunciadas no mercado de Fusões e Aquisições brasileiro. Foram 1.038, diante de 912 em 2019. E não pararam aí. Em 2021, o número de transações cresceu 60%, chegando a 1.659 e, nos primeiros quatro meses de 2022, os negócios de M&A tiveram um aumento de 19% – foram 535 este ano, contra 451 entre janeiro e abril do ano passado. “Continuamos em um ritmo de crescimento forte, sobre uma base de transações que foi muito grande em 2021”, ressalta o executivo.
Os setores que mais sofreram com a pandemia e apostaram em M&A para resolver seus problemas financeiros foram comércio físico, lazer, hotelaria, companhias aéreas e setor de saúde, em especial o segmento de planos (já que muitas pessoas migraram para a saúde pública) e hospitais, que ocuparam seus leitos com pacientes de Covid e deixaram de fazer rentáveis cirurgias eletivas.
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Por outro lado, setores beneficiados, como o de tecnologia, agronegócio, telecomunicações, indústrias farmacêuticas e serviços virtuais viram a oportunidade de investir seus ganhos extraordinários comprando empresas baratas. “Um movimento que juntou necessidade e oportunismo”, define Dell’Oso.
Outros motores contribuíram para acelerar o setor no País. Fatores externos, por exemplo, se juntaram a este alinhamento, como as baixas taxas de juros, que forçaram a migração de recursos da renda fixa para investimentos mais arriscados e rentáveis. Ou o crescimento recorde de IPOs em 2020/2021, que resultou em empresas capitalizadas para crescer – e, consequentemente, para investir em aquisições.
O câmbio depreciado empoderou empresas exportadoras, cujos lucros as tornarem tanto atraentes para possíveis aquisições quanto candidatas a adquirir ativos mais baratos. “Um movimento interessante foi o de empresários, principalmente os sem sucessores em empresas familiares, que tiveram um susto grande com a pandemia e decidiram vender, para não correr riscos na velhice”, observa o líder de fusões e aquisições da PwC.
Outros fatores foram importantes neste processo, como o crescimento do número de startups, que se juntou ao de empresas buscando eficiência operacional através de tecnologia; o cenário econômico e político trazendo instabilidade às bolsas; e a interrupção de IPOs, além da própria popularização do investimento. Agora que o dinheiro está mais caro, a melhor alternativa para levantar recursos pode ser vender uma participação no negócio.
Transações mais que dobram em 2 anos
Em Minas Gerais a quantidade de transações anunciadas de Fusões e Aquisições mais do que dobrou em dois anos. Foram 114 em 2021, contra 68 em 2020 e 58 em 2019. De janeiro a abril deste ano, já são 33 operações. O setor em que os negócios de M&A mais acontecem é o de tecnologia, com 17 transações até abril, cerca de 52% das fusões e aquisições.
“É um setor que vai avançar ainda mais com a velocidade do 5G. Ele cria soluções que se renovam todos os dias e que se tornam novos negócios; vai ser assim por muitos e muitos anos”, prevê o sócio da PwC Leonardo Dell’Oso. Na sequência, vêm as concessionárias de serviços públicos (18% dos negócios) e bancos e estabelecimentos financeiros (9%).
Um exemplo dessas transações foi a aquisição, pela Engie, dos conjuntos fotovoltaicos de Paracatu e Floresta, de propriedade da Engie Solar, Solairedirect e Drankensberg Capital, por R$ 625 milhões. A operação será realizada por meio da Engie Brasil Energias Complementares.
O ativo Paracatu está localizado na cidade mineira de mesmo nome. Já o Floresta, na cidade de Areia Branca (RN). Também na área de energia, a Cemig SIM adquiriu 49% da G2 Energia e Apolo Empreendedores por R$ 37 milhões. São cem usinas de energia.
Outra transação importante em Minas foi a da rede de hospitais Mater Dei, ao adquirir a participação de 75% a 80% do Hospital e Maternidade Santa Clara (HSC), de Uberlândia. O valor do negócio varia entre R$ 175,5 milhões e R$187,4 milhões e se junta a uma estratégia agressiva da rede mineira – já é o terceiro hospital adquirido este ano e o sexto desde o IPO, realizado em 14 de abril do ano passado.
A Ways Education, uma plataforma de Educação que estimula o desenvolvimento das competências do futuro por meio de atividades extracurriculares diferenciadas, recebeu um aporte de R$ 300 mil por meio da Criabiz Ventures e de sua rede de mais de 130 investidores-anjo.
O Grupo Supernosso, do segmento de alimentos, adquiriu o controle da empresa mineira Orgânico do Chico, um e-commerce especializado em produtos orgânicos. O negócio não teve seu valor mencionado, já que, no Brasil, se a empresa não está na bolsa, ela não é obrigada a divulgar o valor desse tipo de negócio.
Leonardo Dell’Oso calcula que, para cada transação anunciada, existam 1 a 1,5 outras feitas sem divulgação na mídia. Em mercados mais maduros, é uma prática comum divulgar a fusão ou aquisição. No Brasil, menos de 50% são divulgadas, mostrando a imaturidade de um mercado que, no entanto, não para de crescer e deve aperfeiçoar suas práticas no futuro próximo.O cenário econômico e político doméstico não deve interromper essa trajetória. “Quem compra uma empresa busca uma relação de longo prazo. O investidor não está olhando o mês que vem e sim os próximos vinte anos”, aponta Dell’Oso. E apesar de um grande número de investidores estrangeiros estarem comprando empresas em Minas, a consolidação do setor de M&A acontece mesmo é através de empresas nacionais. “O que mais cresceu foram empresas brasileiras comprando empresas brasileiras”, finaliza… leia mais em Diário do Comércio 25/05/2022