Há uma particularidade no mercado de tecnologia: momentos de crise econômica global, em que muitas empresas acabam fechando as portas, culminam no surgimento ou no crescimento de startups que acabam dominando o mercado nos anos que se seguem.

Foi assim com Amazon após o estouro da bolha do pontocom, em 2001. Na época, muitos achavam que a companhia fundada por Jeff Bezos iria falir. E também com Airbnb e Uber, que surgiram em meio à turbulência da crise financeira global de 2008.

Para Julio Vasconcellos, o fundador do Peixe Urbano e que agora está à frente da operação da gestora de venture capital Atlantico, a crise da covid-19 e a maré baixa do mercado de venture capital abrem uma nova janela de oportunidades.

“Este é um excelente momento para investir”, disse Vasconcellos durante sua apresentação no evento realizado pela Profounders, comunidade criada para conectar empreendedores, investidores e outros agentes do mercado, nesta quarta-feira, 19 de outubro.

Estavam sendo criadas máquinas de captar e não de negócios

Um dos motivos para o otimismo é que o momento de crise do mercado ajuda a separar o joio do trigo em relação aos empreendedores. “Num cenário mais incerto, quem sai e decide apostar tem um alto nível de convicção”, disse Vasconcellos, ao comentar sobre empreendedores que deixam trabalhos seguros para criarem seus próprios negócios. “São (empreendedores) mais resilientes.”

O maior desafio dos empreendedores está na oferta de capital para financiar seus negócios. Dados da Distrito mostram que entre janeiro e agosto deste ano, startups brasileiras captaram US$ 3,6 bilhões. O valor é 45% menor do que os US$ 6,6 bilhões registrados no mesmo período de 2021.

A queda tem duas razões. A primeira está relacionada a um movimento de normalização, após um pico atípico atingido durante a pandemia. O segundo motivo deve-se a uma posição mais conservadora do mercado. Para Vasconcellos, este “é um momento difícil, mas saudável”.

De acordo com o investidor, o mercado estava premiando as startups que gastavam mais dinheiro, independentemente da rentabilidade. “Estavam sendo criadas máquinas de captar e não de negócios”, disse Vasconcellos. “Isso gerou uma série de empresas viciadas em capital.”

Este momento de capital mais restritivo deve ajudar a criar empresas mais responsáveis em relação às finanças. “Hoje, as companhias vão fazer a lição de casa, cortar custos e pensar em rentabilidade a longo prazo”, disse Vasconcellos. “Essas serão as empresas duradouras e que daqui a cinco anos vão gerar valor para os investidores, acionistas e funcionários.”

No caso da Atlantico, Vasconcellos diz que o plano é fazer cerca de seis investimentos por ano. O cheque médio gira em torno de US$ 4 milhões a US$ 5 milhões por aporte. Ainda que exista um olhar mais atento para a rentabilidade, a busca é por negócios que estejam pelo menos dobrando de tamanho a cada ano.

Encontrar uma empresa com essas características, no entanto, não é uma missão fácil. “Há uma ou duas empresas por ano que nascem com potencial”, afirma Vasconcellos. “Um bom fundo de venture capital vai perder dinheiro em mais da metade dos investimentos.”

Por ora, a gestora já investiu em startups como Pipo Saúde, healthtech brasileira que opera no setor de benefícios; Tuna Payments, fintech americana que opera com otimização de pagamentos; e a Karvi, um marketplace argentino para venda de carros usados… leia mais em NeoFeed 19/10/2022