Manutenção de fluxo após decisões do Fed de juros em setembro e eleições de outubro, porém, divide especialistas

O saldo de ingressos líquidos de recursos de investidores estrangeiros no mercado secundário da B3 (B3SA3) somou R$ 17 bilhões em agosto, até o dia 30, o que elevou o valor acumulado do ano para R$ 71 bilhões – montante que já supera as entradas, ao menos, dos últimos seis anos.

Com um cenário externo conturbado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, de elevação geral das taxas de juros, por conta da alta da inflação global, sobretudo de economias como a dos Estados Unidos e as da Europa, investidores internacionais passaram a olhar para o Brasil e a aportar recursos, por aqui, na bolsa.

Existem ativos baratos no mercado local, quando olhamos para os fundamentos. Bancos estão discrepantes em relação à média histórica, as próprias empresas de commodities, como Petrobras… As empresas descontadas fizeram com que os gringos voltassem a apostar no Brasil”, diz Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante.


Conforme Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, parte do apetite estrangeiro pelo Brasil vem também por conta do avançado processo de aperto monetário, já que o Banco Central antecipou a subida de juros e, por aqui, já se espera pelo fim do ciclo de alta da Selic na próxima reunião do Copom, em setembro.

“Provavelmente não teremos mais altas de juros (no Brasil) e isso quer dizer que o próximo movimento deve ser de baixa e a dúvida no mercado é quando isto deve começar, o que deve ser entre meados e final de 2023”, disse Komura.

Previsão de juro menor no Brasil e maior nos EUA

Esse movimento de maior clareza na condução da política monetária contrasta com o que acontece, principalmente, nos EUA, onde o Federal Reserve deve realizar uma nova alta dos juros, na reunião de setembro do Fomc, com as apostas majoritárias para um elevação de 0,75 pontos porcentuais, segundo o CME FedWatch.

Segundo Fabrício Gonçalvez CEO da Box Asset Management, a indefinição sobre o ritmo de alta e, consequentemente, de redução futura dos juros nos EUA – o oposto do que acontece por aqui – vem proporcionando o ingresso de recursos para cá.

“Essa indecisão traz um certo otimismo em relação ao Brasil. Por isso, se vê um fluxo estrangeiro muito forte vindo para o nosso mercado. Se o Fed não deixa explicito qual será ritmo de aperto monetário, isso leva investidores a fazer mais aportes no Brasil”, disse Gonçalvez.

Outro fator que tem levado o estrangeiro a aportar por aqui é o próprio histórico de convívio com a inflação, diferente do que acontece com EUA e Europa, que enfrentam as maiores altas de preços em décadas.

“Somos um país com um longo histórico inflacionário e sabemos agir nesse tipo de situação”, avaliou João Daronco, analista da Suno Research, acrescentando que o fluxo cresce ainda por conta dos “valuations extremamente atrativos” das empresas na B3.

Aporte anual de investidor estrangeiro no mercado secundário da B3 (em R$ bilhões)

2022: +71,003*
2021: -7,152
2020: -39,663
2019: -44.517
2018: -11,521
2017: +14,354
2016: +14,325
* Dados até 30 de agosto. As informações são da B3.

Investidor estrangeiro deve seguir na bolsa brasileira?

Diante do otimismo dos investidores estrangeiros a questão que fica é se esse movimento é permanente ou transitório. No primeiro trimestre deste ano, ingressaram R$ 65 bilhões, mas em abril (R$ -7,6 bilhões) e em maio (R$ -6,1 bilhões) uma parte foi embora, enquanto em junho e julho somaram R$ 427 milhões e R$ 1,852 bilhão.

“É difícil dizer… Mas, dado um cenário global mais difícil, entendo que o Brasil é um país que está bem posicionado. Acredito que o Brasil deverá seguir sendo um dos principais pontos de atenção e de investimentos para os estrangeiros, enquanto as empresas estiverem uma verdadeira barganha”, avaliou Daronco.

Cozzolino, da Levante, pontuou que o fato de a brasileira ser relativamente pequena, com cerca de 10 ativos concentrando 50% do índice, poderia ocorrer um movimento de posicionamento de mais longo prazo, sobretudo enquanto os fundamentos se mantiverem relativamente baratos..Por Rodrigo Petry..Leia mais em infomoney 01/09/2022