Considerar outras alternativas de captação além da oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), dedicar mais tempo à organização do processo, escolher bem o sindicato de bancos. Essas são algumas das recomendações de executivos de empresas que passaram recentemente pelo processo de abertura de capital, trazidas em estudo realizado pelo Ártica, em parceria com a B3 e o Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), e antecipado ao Valor.

Com o objetivo de explorar os principais desafios e aprendizados da entrada no mercado de capitais, o estudo “IPO na prática: Lições aprendidas por empresários que passaram pelo processo” ouviu executivos de 30 empresas que tiveram essa experiência entre 2018 e 2021. Cinco delas não concluíram a operação.

Estudo reúne lições de empresários para IPO

Sócio do Ártica, escritório de assessoria financeira em fusões e aquisições (M&A) e captação de recursos, Érico Nikaido explica que a taxa de insucesso de IPOs no país é muito alta. Em 2021, 60% das empresas que tentaram abrir capital não conseguiram. Além disso, acrescenta, o custo atrelado à tentativa é expressivo, na faixa de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões.

“Notamos que a grande maioria das empresas teve que aprender ‘na raça’ os desafios e as dificuldades da operação. O IPO é o sonho de muitos empresários e o Brasil não tem muitos estudos práticos com experiências e dicas sobre o processo. Então, nossa ideia é ajudá-los a se preparar”, afirma.

As conclusões da pesquisa são divididas em três etapas: considerações estratégicas pré-IPO e motivação; preparação e execução; e pós-IPO.

Em relação ao momento pré-abertura, 70% das companhias entrevistadas captaram recursos e/ou deram liquidez parcial para acionistas por meio de caminhos estratégicos. Metade das empresas recebeu investimentos de private equity ou venture capital e 13% contraíram dívida. Além disso, 27% participaram de algum M&A.

Outra conclusão é a de que 67% das companhias tinham um “plano B” ao IPO. Dentre elas, a alternativa mais citada foi uma rodada de captação com fundos de private equity (95%), seguida por venda, parcial ou total, para investidores estratégicos (60%), captação de dívida com bancos (40%) e emissão em mercado de capitais (30%).

“Essas são duas recomendações importantes, até pelo nível de incerteza de IPOs. Eles são caracterizados por janelas de oportunidade, que mudam muito bruscamente. E a companhia tem todo o seu planejamento de crescimento. Então, é importante que ela mantenha conversas sobre alternativas”, diz Nikaido.

Além disso, ele explica que companhias que trouxeram sócios financeiros antes do IPO, como fundos de private equity, passaram pelo processo de “organização da casa” mais cedo e tiveram menos dificuldade durante a preparação.

Na etapa de preparação e execução da operação, o sindicato dos bancos foi considerado como “importante” ou “muito importante” para a oferta por 77% dos entrevistados. “Em geral, o sindicato varia de três a sete bancos. E uma dica que a gente daria para os empresários é conhecer bem os bancos, saber qual é o histórico deles no seu setor de atuação, em quantas operações eles estão trabalhando no momento, se estão trabalhando para algum concorrente. É preciso conversar, pesquisar.”

Os desafios de governança mais citados pelos entrevistados foram melhoria dos controles internos (63%), composição de um conselho de administração qualificado (60%) e implementação de reuniões de conselho e processos de “reporting” (43%).

A compreensão sobre a importância da preparação prévia foi citada por aproximadamente 77% como o principal aprendizado do processo. Cerca de um terço das empresas declarou que, se pudesse voltar atrás, teria investido mais tempo na organização. De acordo com o estudo, isso mostra que, para o processo fluir bem e ser menos desgastante, a preparação prévia é fundamental. “É importante que a empresa se prepare o quanto antes para estar em primeiro lugar na fila quando uma janela de oportunidade se abrir”, acrescenta Nikaido.

Após o IPO, 92% consideraram que a decisão foi benéfica para a companhia. Os pontos positivos mais citados foram acesso ao capital, força da marca e atração e retenção de talentos. Por outro lado, os principais pontos negativos citados pelas empresas foram sensibilidade de preço a variações de mercado, prestação de contas recorrente ao mercado e menor confidencialidade de informações estratégicas.

Ao serem questionados sobre o principal fator responsável pela construção de valor aos acionistas no pós-IPO, 80% dos entrevistados disseram que é ter uma performance financeira alinhada com o previsto. Outro ponto muito enfatizado foi efetuar interações constantes e efetivas com o mercado. Dos participantes, 57% apontaram que é preciso possuir um departamento de relações com investidores efetivo… leia mais em Inteligência Financeira 30/11/2022