Do paraíso à recuperação judicial. Assim poderia ser resumida a trajetória de 82 anos da tradicional Eternit. Agora, de novo em direção ao paraíso. Pelo menos tem sido esse o rumo sob o comando do CEO e presidente, Luís Augusto Barbosa. Ele enxugou a estrutura, se desfez de negócios pouco rentáveis, renovou o portfólio e pôs em prática projetos de ampliação e construção, além de aquisições. Como recompensa, garantiu em 2021 o melhor resultado nos últimos dez anos. “Fechamos um ciclo de reestruturação em 2020. E abrimos um ciclo de crescimento em 2021 que terá o seu pico entre 2022 e 2023”, disse o executivo à DINHEIRO. “Com fundamentos financeiros, econômicos e técnicos muito sólidos.”

Foi uma trajetória de percalços e momentos de apreensão. A companhia sofreu importante baque em 2017 quando o Superior Tribunal Federal (STF) proibiu no País a comercialização de produtos fabricados com amianto. A matéria-prima tem potencial cancerígeno e era utilizada pela marca nas telhas que a levaram ao topo do mercado brasileiro. Diante das restrições impostas pela Justiça e da própria rejeição do consumidor, a empresa intensificou a aposta no fibrocimento (uma fibra sintética), ao mesmo tempo em que se livrou de negócios menos rentáveis, como o segmento de caixas d’água, para garantir a manutenção das operações. “Mantivemos o foco naquilo em que tínhamos mais competitividade.”

Para dar conta da demanda, a empresa definiu uma tática de expansão com aportes de R$ 50 milhões na modernização das plantas de Goiânia e Rio de Janeiro, e outros R$ 24 milhões no desengargalamento da fábrica de Manaus. Tudo para permitir ganho de produtividade e redução de custos. Além disso, a Eternit está investindo R$ 165 milhões na construção de uma fábrica em Caucaia (CE) e reservou outros R$ 110 milhões para a aquisição da concorrente Confibra, negócio sob análise pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). As iniciativas vão aumentar em até 40% a capacidade de produção até o fim de 2023. A ideia é ampliar a oferta em cidades do Norte e do Nordeste. “Temos interesse de consolidação no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, áreas onde temos condições de ganhar marketshare”, afirmou o CEO, ao destacar que 40% do mercado nacional está dividido entre a Eternit e a francesa Saint-Gobain. O restante está pulverizado entre outras empresas.

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Eternit busca lugar ao sol

Sem desperdiçar tempo e de olho na continuidade dos negócios “pelos próximos 80 anos”, a companhia criou um departamento de inovação e dá andamento a projetos ligados à sustentabilidade. Um deles é a fabricação e comercialização de telhas fotovoltaicas, que transformam a luz solar em eletricidade. As células fotovoltaicas estão disponíveis em telhas feitas de cimento e devem chegar aos revendedores ainda este ano. “Isso vai garantir mais 20, 30, 40 anos de sobrevida às telhas de fibrocimento”, afirmou. “E o próximo projeto vai envolver também captação de água.”

Apesar da modernização do portfólio, o amianto ainda traz receita. A empresa explora uma mina própria em Minaçu (GO), e exporta a matéria-prima para Estados Unidos e Alemanha, para fins industriais, além de países do sudeste asiático (como Índia e Vietnã), onde é utilizada para aplicações em telhas. A operação responde por até 30% do faturamento da Eternit. O insumo, no entanto, pode estar com os dias contados. A companhia discute com o STF se poderá manter a exportação. Simultaneamente, dá início a um projeto-piloto para transformar a área da mineradora em um agronegócio, com cultura de café. “A ideia é fazer uma transição suave para que eu não afete o resultado da companhia, pois aquilo é um ativo e a comunidade depende dela (da mineradora)”, disse o CEO.

Todos os ajustes fizeram a empresa virar o jogo. E os números de 2021 comprovaram isso: Ebitda ajustado de R$ 337 milhões, o melhor desde 2012, e lucro líquido de R$ 269 milhões, 70% acima do registrado em 2020. E o que esperar de 2022? Inflação mais alta, pandemia, eleição e guerra entre Rússia e Ucrânia não minam o otimismo de Barbosa, embora acredite que a demanda não deverá atingir a de 2021. Ele prevê crescimento de um dígito do volume (a empresa produz 840 mil toneladas por ano), além de alta na receita líquida (atingiu R$ 1,1 bilhão em 2021), puxada pela ascensão dos preços. Ao que tudo indica, a recuperação judicial será um capítulo virado na história da empresa… leia mais em Isto é Dinheiro 04/03/2022