Propriedade em Comodoro (MT), que era da Boi Gordo, foi comprada em leilão da massa falida em 2018 por R$ 28,8 milhões; pirâmide foi considerada a maior falência da história do Brasil.

No fim dos anos 90, quem tinha cabeça investia em gado. Ao menos era o que diziam as propagandas das Fazendas Reunidas Boi Gordo nos intervalos da novela O Rei do Gado, da Globo. Elas incentivaram milhares de brasileiros a apostar em títulos da empresa, de olho na promessa de lucros superiores a 40% em dezoito meses, advindos da criação de gado Nelore em fazendas do Sudeste e Centro-Oeste. Como se descobriu depois, tudo não passava de um grande golpe — aliás, um dos maiores já aplicados no país. A pirâmide financeira que remunerava seus clientes com o dinheiro de novos investidores ruiu deixando um rastro enorme de prejuízos: R$ 6 bilhões evaporaram e 32.000 pessoas foram prejudicadas.

Quando faliu, a Boi Gordo tinha em seu nome dezessete fazendas, que foram leiloadas entre 2017 e 2018 e renderam 540 milhões de reais. O valor, no entanto, só começou a ser destinado, em julho deste ano, a 7 000 credores membros da Associação dos Lesados pela Boi Gordo — mas apenas 50% do valor investido e sem correção monetária.Venda da fazenda

Uma dessas propriedades, que pertenceu à massa falida das Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A., de 6.133 hectares foi vendida em Mato Grosso por R$ 146 milhões. Localizada no município de Comodoro, 640 quilômetros a noroeste de Cuiabá, a fazenda foi adquirida por meio de leilão em 2017 pela AGBI Real Assets por R$ 28,8 milhões. Cinco anos depois da compra, a gestora entregou aos investidores uma rentabilidade de 3,15 vezes o valor investido e uma taxa interna de retorno de 22,3% ao ano.

O comprador não teve seu nome revelado, mas segundo Gustavo Fonseca, sócio da AGBI, é um grande produtor de grãos que já atua na região. Durante esses cinco anos que a fazenda esteve sob a posse e gestão do fundo, 2.765 hectares de pastagens foram convertidos em áreas agrícolas, o que permitiu que a área tivesse uma valorização superior à valorização das terras, medida pela IHS Markit. No mesmo período, o dólar teve uma valorização de 51,3%, o Ibovespa subiu 55,8% e a NTN-B acumulou ganhos de 66,6%.

“A compra da fazenda da Boi Gordo não foi nosso primeiro investimento, mas ele foi muito importante para desenvolver uma região que estava mais atrasada em relação a outras. Naquela época, Campos de Júlio, um município vizinho estava muito mais desenvolvido do que Comodoro”, afirma Fonseca. O gestor lembra que a estratégia do fundo é exatamente comprar propriedades em regiões onde a agricultura esteja se desenvolvendo, especialmente fazendas com pastagens degradadas, convertê-las e vendê-las posteriormente a valores mais elevados.

A venda da fazenda em Comodoro, que fazia parte do fundo Brasil Agro II FIP, foi o segundo desinvestimento da AGBI em seis meses. Em outubro do ano passado, a gestora liquidou seu primeiro veículo de investimento, em um negócio de R$ 178 milhões e está no momento em fase de captação do AGBI III Carbon, fundo que pretende levantar até R$ 500 milhões. Na estratégia, além do investimento para se obter a valorização da terra em si, o fundo pretende ser o primeiro a comercializar os créditos de carbono gerados e entregar o resultado financeiro da venda como um retorno adicional aos investidores… leia mais em comprerural 31/03/2022