Um pequeno banco mineiro, a 61ª instituição financeira do país, com ativos de R$ 170 milhões e que estava em vias de desaparecer, vai ganhar nova vida como um banco digital. Graças a uma união com a Contro.ly, uma start-up paulista de tecnologia financeira (“fintech”), o pouco conhecido Banco Pottencial vai ser repaginado e dar lugar ao moderninho Banco Neon.

De olho em um público jovem, com renda em mensal entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, a instituição financeira promete cobrar o mínimo possível de tarifas de clientes. Via um aplicativo de smartphone, vai permitir que seus clientes acompanhem em tempo real os gastos do dia-a-dia, com a possibilidade de organizá-los por categorias, fazer buscas ou mesmo ver o endereço onde as compras foram feitas. Sob medida para novas gerações, a senha numérica para acessar o internet banking pode ser trocada por uma “selfie” – o aplicativo funciona por reconhecimento facial.

Criada em 2015, a Contro.ly foi o embrião dessa ideia. A empresa emitia um cartão pré-pago e se propunha a ajudar os usuários a cortar gastos e a economizar dinheiro. Porém, sem um banco por trás, não conseguia fazer com que o dinheiro que o cliente suava economizando rendesse, diminuindo o apelo da operação. É justamente esse problema que promete resolver ao se juntar ao Pottencial. O plano é que, aquilo que o cliente poupar, seja aplicado automaticamente em um Certificado de Depósito Bancário (CDB) emitido pelo banco, com rendimento de cerca de 80% do CDI e com liquidez diária.

Há mais um detalhe curioso na operação: pelo menos até agora, o Neon vai ser um banco que não concede crédito e trabalha somente com débito. “Meu plano hoje não é substituir o cartão de crédito do cliente, mas sim a conta corrente”, disse Pedro Conrade, presidente do Neon, de apenas 24 anos.
Conrade fundou a Contro.ly, que já levantou cerca de R$ 14 milhões em aportes de investidores. A empresa tinha 10 mil clientes antes de virar banco. Quer terminar o ano com 100 mil contas ativas.
O Neon emitirá aos clientes apenas um cartão físico de débito, com bandeira Visa para saques e compras. Também criou um cartão digital que permite fazer compras on-line, descontadas do dinheiro mantido na conta. E só.

Sem dar crédito e sem cobrar tarifas, a grande questão é como a operação vai parar de pé. Segundo Conrade, a chave está em atrair a maior parte da movimentação financeira do cliente para dentro da instituição. Com isso, viria junto a remuneração percentual que cabe ao banco nas compras em cartão feita pelo cliente, a taxa de intercâmbio. Outras receitas incluem a tarifa interbancária que uma instituição recebe quando aceita boletos de outra (R$ 1,00) e a tarifa ganha quando recebe TED (R$ 1,19).

“Montamos uma operação lucrativa, mas que a margem não chega a ser comparável com a de outras instituições financeiras”, afirma Conrade. O plano é ampliar a oferta de produtos nos próximos meses, com o lançamento de uma conta pessoa jurídica.

O modelo de negócios criado pelo Neon mostra mais um exemplo de como a digitalização do sistemas financeiro abriu espaço para o retorno dos bancos médios ao varejo. O Banco Pottencial, que pertence à família Géo, era especializado em emitir cartas de fiança para obras e ações judiciais, uma operação que, nos últimos anos, migrou para a seguradora do grupo, deixando o banco praticamente inativo. Via uma reportagem de jornal, conheceram a Contro.ly, que buscava um banco parceiro. Com o escritório de advocacia Pinheiro Neto, desenharam a joint-venture, em dezembro.

Até a remuneração dos advogados foge ao comum neste caso. O Pinheiro Neto não vai receber seus honorários de forma tradicional, mas terá direito a uma espécie de taxa de sucesso, na forma de um percentual dos novos aportes que o Neon venha a receber, conta Bruno Balduccini, sócio do Pinheiro Neto. “É um modelo que estamos usando com outras ‘fintechs’ também”, diz.

Em tempo: o nome do banco vem do grego “neon”, que quer dizer “juventude”; não tem a ver com o elemento químico.  – Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 13/07/2016