Fundada em 2012, a brasileira Zee.Dog não ficou conhecida como a “Nike do mercado pet” por acaso. Com produtos de design próprio e fabricados por terceiros, a empresa chegou a 55 países até chamar a atenção da Petz, que desembolsou R$ 715 milhões para comprar a operação, em agosto de 2021.

Agora, os fundadores da startup – os irmãos Thadeu e Felipe Diz, e seu amigo de infância, Rodrigo Monteiro – estão dispostos a repetir essa história. Mas com outra pegada. O trio antecipou ao NeoFeed a criação do CamelFarm Capital, fundo de investimentos com foco em companhias de bens de consumo.

Nessa nova empreitada, o trio terá a companhia de Cesar Villares, cofundador da Go4it Capital, holding de investimentos que tem ainda Marc Lemann como sócio, e que traz em seu portfólio empresas como Fazenda Futuro, Strava e Gringa.

“O playbook que construímos com a Zee.Dog acabou virando uma referência em bens de consumo e, em 2022, com a liquidez do deal com a Petz, começamos a investir”, diz Monteiro, ao NeoFeed, que será o managing partner da CamellFarm Capital. “Amadurecemos a ideia e, agora, vamos institucionalizar o que vinhamos fazendo como pessoas físicas.”

Dos pets aos "camelos": fundadores da Zee.Dog criam fundo

Thadeu Diz acrescenta: “Nós queremos participar de uma forma muito mais agressiva com o fundo, porque são dois mundos diferentes”, afirma. “Em suma, nosso plano é identificar as próximas Zee.Dogs de outros segmentos em bens de consumo.”

Para começar a concretizar essa ambição, a CamelFarm planeja levantar entre R$ 70 milhões e R$ 100 milhões em seu primeiro veículo. O fundo tem conversas em andamento com LPs (limited partners) do Brasil e do exterior, e já captou cerca de 60% desses recursos.

“Não temos pressa para captar e investir, até mesmo pelo ciclo de bens de consumo ser mais longo”, diz Monteiro. Ele não crava um número de investidas e um prazo para o closing desse primeiro veículo. “Queremos escolher bons cavalos e trazer LPs e empreendedores que tenham essa mesma visão.”

A CamelFarm vai atuar nos estágios de pré-seed a Série A, com aportes de US$ 500 mil a US$ 5 milhões e, a princípio, com fatias minoritárias, na faixa de 10% a 25% das operações. Entre os critérios para os cheques estão o histórico dos fundadores, o fato de a empresa já gerar caixa, ter tração e contar com produtos validados e, se possível, disponíveis nas gôndolas do varejo.

“Somos consumidores de boa parte das empresas com as quais estamos conversando”, diz Monteiro. “A ideia é, com a nossa experiência, entrar para ajudar na expansão de canais de venda, no supply chain, na logística, no branding e no desenvolvimento de produtos.”

A CamelFarm vai atuar nos estágios de pre-seed a série A, com aportes de US$ 500 mil a US$ 5 milhões.

A prioridade serão companhias com produtos nos segmentos de consumer packaged goods – os produtos embalados e de consumo mais frequente -, de bem-estar e, principalmente, de alimentos e bebidas. E que tenham, de preferência, apetite para escalar suas operações globalmente.

“Como empreendedores, temos essa experiência de construir uma marca em escala global”, observa Diz. “E o Cesar (Villares), além da bagagem em venture capital, vai ter um papel muito importante nessa questão, porque ele tem um network imenso e é bastante conectado com empreendedores de fora.”

Monteiro acrescenta que, no caminho inverso da Zee.Dog, há diversas empresas de bens de consumo de outros países dispostas a desembarcar no Brasil. “Muitas dessas operações teriam muito mercado no País e nós podemos ajudá-las a expandir esse footprint.”

Como parte desse olhar mais amplo, a CamelFarm Capital foi buscar inspiração em fundos globais dedicados a ativos de bens de consumo. Entre eles, os americanos Forerunners e L.Catterton. Esse último tem entre seus principais investidores o grupo francês LVMH, do bilionário Bernard Arnault.

Um novo animal

O nome do fundo também traz referências: um novo animal no “reino da Zee.Dog”. Cunhado pelo investidor americano Alex Lazarow, o termo “camelo” é usado para designar as startups que – nas palavras dele – são “reais, resilientes e que podem sobreviver nos lugares mais difíceis da Terra”.

A expressão surgiu e ganhou força em 2020 como um contraponto às startups unicórnios, termo do setor para se referir às empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Turbinadas por aportes, muitas dessas empresas consolidaram um modelo de queima de caixa e crescimento a qualquer custo, que passou a ser bastante questionado com a pandemia.

“A dinâmica de crescimento e de avaliação das empresas de bens de consumo sempre se descolou dessa bolha tech”, diz Monteiro. “Até pela própria natureza do setor, de ter um produto, uma marca, distribuição, enfim, por questões mais palpáveis.”…. leia mais em NeoFeed 28/02/2023