A GEF fechou a compra de participação minoritária na paulista Lar Plásticos, um segmento que a gestora de private equity especializada em impacto e sustentabilidade estava de olho há tempo. O valor por cerca de 35% da empresa não foi revelado, mas o veículo tem feito aportes médios em torno de R$ 100 milhões.

A GEF entrou na disputa no processo coordenado pelo Santander, que atraiu outros seis fundos. “Um dos nossos pilares de investimento é economia circular e o mercado de reciclagem de plástico se encaixa bem. Ao fim do dia, evita novas emissões de carbono pelo reaproveitamento de material que iria para aterro”, diz Estevan Taguchi, gestor da GEF. “É uma tendência irreversível.”

A Lar compra fardos de plásticos de cooperativas, que depois da lavagem e moagem viram resina de polipropileno e polietileno de alta densidade. A partir daí, a própria Lar pode produzir os produtos acabados. Para a Ambev, por exemplo, a companhia produziu lixeiras de coleta seletiva que foram doadas a escolas municipais e prefeituras com plástico recolhido por cooperativas nas ruas durante o carnaval. Produz resinas a partir da reciclagem para a Dow Química e também atende fabricantes de linha branca, que produzem tanquinhos de lavar roupa a partir da sucata da própria marca.

GEF compra fatia na Lar Plásticos

A companhia foi fundada pelos irmãos Leonardo e Henrique Marino, oriundos do mercado financeiro, e André Novelli, que já tinha experiência na área petroquímica. Eles não escondem a vontade de fazer um IPO da companhia no médio prazo – de três a cinco anos.

“A entrada do fundo é um passo importante para nos ajudar a estruturar a governança da companhia, a lidar com a maior complexidade de estrutura o mercado de capitais vai nos exigir, e de forma mais rápida do que faríamos sozinhos”, diz Leonardo. “Principalmente com um fundo que já tem impacto no DNA, como a Lar, e que não investe em ESG por modinha”, complementa Novelli.

Anibal Wadih, sócio da GEF, diz que poucas companhias atuam com verticalização como a Lar, o que permite à empresa capturar margens melhores na cadeia. Com cerca de R$ 50 milhões de Ebitda ao ano, a empresa entrega margens entre 20% e 25%, a partir do processamento de 10 mil toneladas de plásticos.

A ideia é crescer organicamente e também com M&A. Temos olhado alguns alvos para começar essa consolidação, com cheques entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões”, diz Wadih. Sediada em Atibaia, a companhia quer consolidar a operação no Sudeste para expandir para operação nacional. “Além desse crescimento de footprint, tem a entrada em novas verticais de plástico, como pet e o polietileno de baixa densidade”, complemente Taguchi.

Segundo os fundadores, isso pode incluir a aquisição de uma planta industrial ou de empresas de tratamento e gestão de resíduos, ainda que a informalidade do setor seja um desafio para M&As. “O conceito é virar uma grande plataforma, em que a gente plugar diversos produtos e soluções para resíduos”, diz Novelli.

Um ponto relevante para a GEF antes de fazer o aporte era entender a sustentabilidade da cadeia, principalmente no suprimento de matéria-prima, fornecida por catadores e cooperativas. “Passamos mais de um ano estudando o setor, fizemos análises com consultores para entender essa questão da mão de obra e como legitimar processos, para garantir uma cadeia totalmente limpa”, diz Wadih. Os processos nesse mercado tendem a ser informais e podem incluir, por exemplo, mão de obra infantil. “O mercado de reciclagem não é só sobre clima, é também social.”

Henrique Marino destaca que boa parte da mão de obra é composta por mulheres de baixa renda e um percentual de catadores analfabetos, que são treinados e aumentam renda ao aderir a cooperativas. “Com a formalização dessa cadeia e treinamento, a gente consegue valorizar o que seria um subemprego. Um catador vende cada quilo de plástico num sucateiro por 60 a 80 centavos. A gente paga quatro vezes mais”, diz o sócio.

É o terceiro investimento do novo fundo da GEF, que tem meta total de captação de R$ 1,1 bilhão e deve fazer o último closing nas próximas semanas. O portfólio já tem HCC Energia Solar, de placas solares, e Automalógica, software para gestão de sistemas elétricos… leia mais em Pipeline 23/05/2023