Muitos empreendedores imaginam sua futura organização na posição alcançada por empresas que realizam a oferta pública de ações, mas conhecido em inglês como IPO (Inicial Public Offering).

 Com a oferta pública de ações, quando confirmada pelo mercado e pelo noticiário, tem-se a sensação de aprovação formal do mercado. Já que quem aposta na empresa o faz enfiando a mão no bolso, comprando suas ações, com expectativas de ganhos a curto e longo prazos.

 Mas nós, modestos empreendedores, também podemos iniciar nosso próprio empreendimento como se estivéssemos realizando uma oferta pública de ações.

 Se você não acredita, me acompanhe numa pesquisa rápida no site da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).

 Numa das primeiras orientações lemos: “Uma Oferta Pública de Distribuição de Ações é uma colocação, junto ao público, de determinado número de ações de uma companhia. As ofertas públicas são caracterizadas por serem, na maioria dos casos, extensivas a não-acionistas da empresa.”

 Aí já temos um indicador que podemos simular, em nosso empreendimento, uma oferta pública de ações se nos prepararmos para apresentar a empresa para não-acionistas.

 Que, no nosso caso, são os nossos consumidores que sequer conhecemos ainda pessoalmente.

 Temos apenas uma vaga ideia de quem sejam, mas ao mantê-los no nosso horizonte, os transformamos em nossos potenciais apoiadores, da mesma maneira que os futuros acionistas no caso de uma empresa que esteja abrindo seu capital.

 No caso real de uma Oferta Pública de Ações é necessário, como nos ensina a Bovespa, a buscar o apoio formal de uma corretora de valores ou banco.

 Algo que está muito distante de nós, modestos empreendedores. Muitos novatos nessa arte de sobreviver cuidando dos próprios negócios sequer conseguem acesso a um empréstimo que respeite seu potencial de crescimento.

 Continuando com as lições que podemos assimilar no site da Bovespa descobrimos que toda Oferta Pública de Ações é apoiada no “Prospecto da Oferta” que é um documento que traz “todas as informações importantes sobre a Oferta. Lá você entende tudo sobre o negócio da empresa e o setor em que ela atua.”

 É aí que podemos nos concentrar se queremos de verdade que nossos futuros clientes atuem como nossos acionistas potenciais.

 Porque, infelizmente, temos o péssimo hábito de abrir um empreendimento sem dar satisfação aos principais apoiadores, que são nossos futuros fregueses.

 Muitos empreendedores se posicionam como “pessoas iluminadas” e sacam a empresa da cartola e a impõem ao mercado consumidor.

 Repetindo um hábito antigo, e arraigado, dos primeiros industriais que nos entregavam apenas Fords pretos ou pretos. Se quiséssemos. Era comprar ou andar a pé.

 Os tempos agora são outros. Todo consumidor avalia as vantagens embutidas numa decisão de compra, assim como o fazem os acionistas.

 E apreciariam muito que uma nova empresa, seja uma loja, uma sapataria, um salão de cabeleireiro, apresentasse com calma um documento em que descrevesse suas reais intenções no negócio.

 Fugindo dos chavões publicitários de “somos o melhor nisso ou naquilo”. E que se concentrasse em como formam os seus preços, quais os produtos usam, como pretendem servir para garantir o bem-estar e conforto do consumidor que se decidir a investir nos seus produtos e/ou serviços.

 Caso a gente aprenda a agir assim, e a Bovespa está aí para nos ensinar, é muito provável que no futuro próximo possamos, de verdade, abrir o nosso capital.

 Porque um dos grandes motivadores dos acionistas é a informação precisa sobre o futuro da empresa. E, muitas vezes, a gente age como se um empreendimento fosse dependente apenas da nossa boa vontade no tempo presente.

 Quando, basta um pouquinho de reflexão, para concluirmos que empreender é exercitar a sobrevivência no futuro, antecipar as necessidades dos nosso futuros clientes-acionistas e apresentar cenários no presente que tragam expectativas de ganhos de curto e médio prazo.

 Comprar seu produto ou serviço é, sim, um investimento. Todo consumidor tem um amplo espectro de possibilidades nos quais pode alocar uma quantia limitada de dinheiro.

 Por isso, quando compramos buscamos, como é óbvio, o ganho máximo, repetindo as mesmas motivações dos acionistas.

 E se essa expectativa for atendida, conseguimos conduzir nosso empreendimento como se estivéssemos realizando oferta pública de ações todos os dias.
Marco Roza
Colunista do UOL,
Fonte: uol 29/05/2013