Em 12 de abril, Jason Pressman passou a manhã torcendo no balcão da Bolsa de Valores de Nova York, quando as ações da empresa de software de gestão Zuora, na qual ele investiu em 2008, começaram a ser negociadas. Perto do fechamento do mercado, as ações da Zuora chegaram a subir 43%, fazendo com que o investimento de US$ 17 milhões feito pelo fundo Shasta Ventures, representado por Pressman, chegasse a um retorno de mais de US$ 150 milhões.

“Nada mal mesmo”, disse Pressman após a oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) da Zuora, antes de ir a um jantar de comemoração com cerca de 60 pessoas em um caro restaurante italiano nos arredores de Chelsea, em Nova York. O capitalista de risco disse que passou boa parte da noite anterior em claro, mas tinha disposição para comemorar. “Estou com a adrenalina a toda.”

Muitos investidores, como Pressman, apoiam minúsculas startups de tecnologia na esperança de que algum dia elas abram o capital ou sejam vendidas por cifras enormes, entre nove ou dez dígitos. Eles não têm lucrado realmente nos últimos anos. Isso porque empresas em rápido crescimento, como o aplicativo de carona paga Uber e a plataforma de hospedagem alternativa Airbnb, permanecem privadas.

Ventania. Mas o cenário pode, finalmente, mudar. Investidores, banqueiros e analistas estão esperando uma nova onda de IPOs que vão trazer para o mercado algumas das startups mais “quentes” nos próximos dois anos. E, junto com elas, bilhões de dólares em retorno para investidores de risco.

Além das já citadas Uber e Airbnb, há outras apostas quase certas na lista de próximos IPOs, como o aplicativo de comunicação para empresas Slack, a fabricante chinesa de smartphones Xiaomi e o também chinês Meituan Dianping – site de comércio eletrônico que hoje tem valor de mercado estimado em US$ 30 bilhões. Para Matthew Kennedy, analista de IPOs do banco de investimentos Renaissance Capital, quase todas as startups com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão são fortes candidatas a abrir capital nos próximos dois anos.

O ano de 2018 começou agitado. O serviço de backup em nuvem Dropbox e a plataforma de streaming de música Spotify foram bem-sucedidos em suas estreias na bolsa, em março e abril, respectivamente. No total, as ofertas iniciais de ações de empresas de tecnologia já captaram mais de US$ 7 bilhões nos primeiros meses do ano. O número é maior que o total de 2015 e 2016 e representa mais da metade dos US$ 13 bilhões de 2017, de acordo com a consultoria Dealogic.

“Eu falo com os banqueiros o tempo todo e eles comentam: ‘Há um monte de ofertas à nossa espera’”, diz Rob Hayes, sócio da First Round Capital, que liderou uma rodada de US$ 1,5 milhão no Uber em 2010. Na época, o Uber valia US$ 4 milhões – hoje, o aplicativo tem valor de mercado de US$ 68 bilhões (ver arte ao lado).

Perspectivas. Algumas das maiores empresas de tecnologia de capital fechado já começaram a se movimentar. Dara Khosrowshahi, presidente executivo do Uber, planeja fazer o IPO da empresa ano que vem. Seu principal rival nos Estados Unidos, o aplicativo Lyft, também conversa com bancos de investimento. E o Airbnb começou a trazer diretores independentes para seu conselho, uma medida que normalmente faz parte dos preparativos para uma empresa se tornar pública.

Mais do que encher os bolsos dos investidores de risco, porém, uma boa onda de IPOs de tecnologia deve impulsionar ecossistemas de startups dos Estados Unidos. Uma vez que as startups se tornam públicas e seus funcionários embolsam parte desse dinheiro, executivos e engenheiros têm a oportunidade de iniciar suas próprias startups. Isso dá aos capitalistas de risco um novo conjunto de empresas para investir, renovando os ciclos de inovação e desenvolvimento que estão no coração do Vale do Silício.

Além do fracasso da Snap. O otimismo dos investidores de risco em 2018 é muito maior do que em 2017, quando a Snap, empresa por trás do Snapchat, abriu seu capital. A companhia, que durante anos esteve entre as mais promissoras para os capitalistas de risco, não respondeu bem às pressões e seu IPO, ocorrido em março de 2017, é hoje visto como um fracasso.

Pouco mais de um ano depois, as ações da companhia fecharam o pregão na última sexta-feira com valor de US$ 14,23, abaixo do preço fixado para a oferta inicial de ações, de US$ 17. Na estreia na bolsa de valores de Nova York, as ações da empresa chegaram a valorizar 44%.

Inicialmente, a popularidade do Snapchat com os jovens foi vista como uma grande ameaça ao líder da indústria, o Facebook. Os principais fundos por trás da empresa incluem T. Rowe Price Group e Fidelity Investments. Mas o ritmo de expansão de usuários do Snapchat não convenceu muitos investidores. – O Estado de S.Paulo Leia mais em portal.newsnet 29/04/2018