Inter e Milan são os principais clubes de futebol de Milão, cidade sede da bolsa de valores da Itália. Mas em julho de 2018, a atenção dos investidores estava voltada para outro clube: a Juventus. Na época, as ações do time (JUVE) valorizaram mais de 30% entre o início dos rumores da contratação de Cristiano Ronaldo até a estreia do atacante em campo.

Assim como a Juventus, os clubes brasileiros poderão, em breve, ter suas ações ofertadas na Bolsa de Valores. Em 2021, os times nacionais foram autorizados a se tornarem Sociedades Anônimas (SAFs), através da Lei nº 14.193. Com a mudança, os clubes podem optar por se tornarem empresas, permitindo a entrada de investidores e abrindo espaço para, no futuro, serem listadas na B3. Grandes times como Botafogo e Cruzeiro já aderiram ao modelo das SAFs. Athletico-PR, Atlético-GO, Bahia, Coritiba e Vasco também discutem internamente a adesão.

Guilherme Ávila, responsável pela área de esportes no Investment Banking da XP, acredita que a lei das SAFs criou um novo mercado a ser explorado por bancos de investimentos, consultorias e agentes do mercado financeiro.

Além disso, com a entrada de players financeiros em participação de sociedades dos clubes, surge a necessidade de viabilizar saídas para os investidores e uma das “portas” pode ser um futuro IPO.

Segundo Ávila, a entrada na Bolsa demonstraria uma robustez da crença na gestão dos clubes de futebol ou SAFs que venham a adotar esse caminho, além de uma maturidade do mercado de capitais brasileiro. “Entre três e cinco anos acho que você vai ver mais de um clube na Bolsa”, diz.

Leia também demais posts relacionados a Futebol no Portal Fusões & Aquisições.

IPO de clubes de futebol na B3
Pixabay

Claudio Pracownik, CEO da Win The Game, joint venture do empresário com o BTG Pactual, é ainda mais otimista e calcula que a entrada dos clubes na B3 deva acontecer em dois ou três anos. Para ele, as equipes entenderam que é preciso se profissionalizar e ter governança para sobreviver.

O CEO avalia que a entrada na Bolsa pode beneficiar os times, já que a dispersão do capital traz um equilíbrio político e administrativo. “Quanto maior a participação de outros investidores, mais madura e efetiva tende a ser uma companhia. Para o esporte, traz capital e uma divisão de investidores para o mercado esportivo”, afirma.

Porém, o empresário pontua que a lei apenas “dá início à corrida pelo IPO”.“Hoje não há nenhum clube que tenha uma área de relação com investidores, uma transparência e uma governança própria para abertura de capital, mas alguns estão mais próximos”, afirma Pracownik, que foi vice-presidente de finanças do Flamengo durante a gestão de Eduardo Bandeira de Mello, marcada pela reestruturação financeira do time. Segundo ele, os que já viraram SAF ainda estão muito distantes de um IPO.

O professor de economia da Unicamp Marcelo Proni também lembra dos entraves para a entrada de alguns clubes, que não conseguem cumprir as exigências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Ser uma Sociedade Anônima é uma condição necessária para entrar na Bolsa de Valores, mas não suficiente. Há vários requisitos, principalmente no que se refere à governança corporativa, à saúde financeira da empresa e às perspectivas de rentabilidade ao longo do tempo. Além disso, poucos clubes têm porte econômico de grande empresa para credenciá-los a lançar ações na B3”, diz Proni.

Ele ainda adverte que não há garantias de que a estratégia será bem-sucedida. “Há vários exemplos de clubes europeus que fracassaram na Bolsa de Valores e tiveram de se retirar”, conclui.

Europeus

O primeiro time de futebol a listar ações foi o Tottenham, de Londres, em 1983. O índice Stoxx Europe Football calculava a performance de clubes do continente, mas foi descontinuado em agosto de 2020. Entre os que negociam ações nas bolsas de valores atualmente estão o Manchester United (Inglaterra), Borussia Dortmund (Alemanha), Benfica, Porto, Sporting (Portugal), Roma, Lazio, Juventus (Itália) e Ajax (Holanda).

Quanto vale um gol?

Eles também apresentam uma peculiaridade desse mercado: para um clube, um gol pode significar ganhos elevados na Bolsa. Em 2019, o Ajax fez uma boa campanha na Champions League – principal torneio do continente – eliminando o Real Madrid e a Juventus da competição, nas oitavas e quartas de finais, respectivamente. Antes do primeiro jogo contra o time de Madrid, as ações do Ajax (AJAX) valiam 15,10 euros. Antes do segundo jogo da semifinal, contra o Tottenham, já estavam em 24,70 euros, uma valorização de 50,61%.

O brasileiro Lucas, atacante do Tottenham, fez um gol no último minuto da disputa da semifinal, que ocorreu em 8 de maio de 2019, eliminando os holandeses e fazendo os papéis do Ajax caírem 20%.

“A chegada em uma semifinal de Champions League traz uma perspectiva de melhor desempenho e maiores retornos financeiros, mas a boa gestão e a boa condução dos negócios com resultados consistentes, independentemente da performance dentro de campo, também pode garantir a valorização das ações. É um misto da expectativa relacionada a desempenho e performance financeira consistente”, explica Ávila, da XP, sobre o desempenho das ações de clubes.

Matheus Jaconeli, analista de investimentos da Nova Futura, diz que é necessário que o investidor deixe a torcida por determinado time de lado e observe a solidez e os riscos inerentes ao clube, especialmente o endividamento, comum entre os times brasileiros e estrangeiros.

Além disso, Jaconeli aconselha o investidor mais conservador a considerar alguns pontos antes de investir em tais ações. “Na Europa, times como o Benfica, Porto, Borussia Dortmund e Ajax têm as contas mais ajustadas. Quando analisamos as trajetórias dos clubes, eles sempre geraram receitas com grandes promessas do futebol, como Rui Costa e Lewandowski. Os clubes maiores, como Manchester United e Juventus, acabam comprando tais esportistas ou estrelas consolidadas, o que amplia fortemente os custos”, avalia Jaconeli.

“Vai ter aquele investidor que estará pela paixão pelo clube. Assim como vai ter o rival que tem a chance de não comprar a ação para ‘não ajudar’”, diz Claudio Pracownik. Segundo ele, o componente emocional é inegável nesse mercado, mas os clubes precisarão atrair  também os investidores ‘tradicionais’ para sustentar a entrada na Bolsa.

Tokenização

Enquanto o IPO ainda não sai do papel, os clubes brasileiros de futebol buscam na tecnologia do blockchain outras formas de alavancar recursos. Nos últimos meses, a notícia de lançamentos de tokens, como os FanTokens e NTFs (tokens não fungíveis), tornou-se cada vez mais comum.

Palmeiras, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Corinthians são exemplos de alguns clubes que enxergaram neste mercado boas oportunidades de retorno financeiro e de fidelização do torcedor.

As possibilidades de uso desta tecnologia são diversas. Segundo Nicollas Paulino, head de marketing da BitPreço, além dos NFTs, uma das mais comuns tem sido o lançamento de utility tokens, também denominados como Fantokens. Na prática, são moedas digitais, como o  bitcoin, que oferecem ao torcedor o acesso a alguns produtos e serviços ofertados pelos clubes…. leia mais em EInvestidor 11/04/2022