Depois de cinco meses de conversas e negociações, o Itaú acaba de fechar a compra de 35% da corretora Avenue e, em dois anos, terá o controle do negócio. É a primeira transação relevante no jogo internacional de varejo, rompendo as fronteiras de banking e investimentos nesse segmento.

A Avenue foi avaliada em R$ 1,25 bilhão, pre-money. Na primeira fase do acordo, o Itaú vai pagar R$ 493 milhões, referentes a uma tranche primária de R$ 160 milhões e o restante secundária, dando à companhia valor de R$ 1,4 bilhão após o aporte. Em dois anos, o Itaú vai comprar mais 15,1%, assumindo o controle. A terceira etapa acontece no quinto ano, num evento de liquidez final (a compra do restante ou um IPO).

As conversas foram amarradas por Carlos Constantini, o diretor de gestão de investimentos do Itaú que também conduziu, no início do ano, a aquisição da corretora Ideal pelo banco. O Itaú tem uma estrutura robusta no exterior na gestão de fortunas, mas ainda não tinha desenhado seu negócio de varejo – coisa que os concorrentes tinham começado a fazer.

O banco vai plugar a Avenue dentro de seu aplicativo, para que o cliente possa fazer num mesmo ambiente as transações bancárias e de investimento no Brasil e no exterior.

Itaú adquire Avenue

A Avenue tem cerca de 500 mil investidores, com pouco mais de R$ 6 bilhões sob custódia – um naco do potencial que o Itaú pode alavancar. Para reforçar sua estrutura no último ano, a companhia comprou a corretora de câmbio Bexs e distribuidora de valores mobiliários Coin, e cogitava a compra de um banco americano de pequeno porte.

Grandes bancos já vêm fazendo movimentações no exterior há anos, mas voltadas para o público de alta renda e private banking – caso da aquisição feita pelo Bradesco em 2019, pagando US$ 500 milhões pelo BAC Florida Bank. No ano passado, com a movimentação de fintechs como a própria Avenue, a Nomad e Passfolio, o Bradesco lançou o US Invest no segmento de varejo, aproveitando a estrutura do BAC. Inter, BTG Pactual e XP Investimentos também estão se posicionando, organicamente – o que explica a necessidade, para a Avenue, de um sócio parrudo.

A ideia da companhia nasceu quando Lee ainda estava na XP. Em 2014, ele vendeu a corretora Clear ao grupo de Guilherme Benchimol por R$ 90 milhões e virou sócio da plataforma. Formatou lá dentro o projeto Atlas, mas numa época em que a XP apostava na importação de produtos internacionais e tinha outras prioridades de expansão.

Foi justamente a transação da plataforma com o Itaú que deu saída – e capital – a Lee para engatar o projeto por conta própria. Num acordo, a XP abriu mão da cláusula de não competição do executivo, em troca de uma opção de compra de participação na Avenue, que acabou não querendo exercer no prazo contratual.

Além de capital proprietário, o seed money de R$ 28 milhões da Avenue veio dos sócios da Vectis – Paulo Lemann, Patrick O’Grady e Alexandre Aoud – e do ex-Matrix Marco Kheirallah. Lee começou a estruturar a Avenue ainda em 2017, mas foi só em fevereiro de 2020 que a fintech começou efetivamente a operar, com atendimento em português. A operação chegou a tomar um stop order da CVM no meio do caminho, e teve que rever a arquitetura de funcionamento.

Naquele ano, reforçou o caixa com uma rodada de US$ 6 milhões com a Igah Ventures, os ex-Garantia Ricardinho de Paulo e Guilherme Amaral, além de Carlos Ambrósio, da Claritas, e Christian Klotz, da Brasil Capital. Em agosto de 2021, o Softbank fez um aporte de US$ 30 milhões. Faz tempo que Lee diz aos investidores e à imprensa que a concorrência ia chegar, num movimento que definia como benéfico para fortalecer a categoria de negócio.

Depois da transação com a XP, o Itaú ficou restrito pelo Cade para comprar qualquer agulha no Brasil. Mas com o crescimento do mercado como um todo, com a estrutura em que o banco entregou ações da XP para seus acionistas diretamente, bem como tranches de venda da holding desses papéis no mercado e o foco da Avenue no mercado americano, o banco não espera um obstáculo regulatório ou concorrencial na transação.

Um indicativo é que, em maio, o Cade aprovou sem restrições a compra do controle da Ideal, que é concentrada no mercado nacional. Em abril, criou uma joint venture com a Totvs, também submetida ao órgão antitruste e ao BC… leia mais em Pipeline 08/07/2022