O Itaú fez um aporte de R$ 3,7 bilhões em uma sociedade de crédito direto (SCD) dentro da Rede, dando à credenciadora uma estrutura mais leve e ágil, que pode facilitar e acelerar a oferta de crédito. Outras adquirentes, como Getnet e Stone, já tinham uma SCD debaixo do guarda-chuva, e a Cielo também já disse que estuda criar uma.

O Itaú não se manifestou sobre o aporte na Rede SCD, mas analistas ouvidos pelo Valor apontam que a unidade pode se beneficiar ao não depender dos sistemas legados do banco e ter uma estrutura menos intensiva de capital. A Rede também pode eventualmente concentrar todos os negócios envolvendo recebíveis de sua rede de estabelecimentos, incluindo crédito de longo prazo com garantia, algo que não faz hoje em larga escala e em que o próprio Itaú é pouco ativo.

“É uma chance para o Itaú criar uma área de negócio do zero, leve do ponto de vista regulatório e também tecnológico. Muito tem se falado no banco sobre a migração para a nuvem, então essa seria potencialmente uma divisão de negócios que poderia já beber dessa fonte”, comenta Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem. Para um outro analista de mercado, a estratégia pode estar ligada à oferta de crédito para pequenos e médios lojistas. “Com a SCD, a Rede pode adaptar mais rapidamente sua oferta de produtos e serviços, concorrendo de forma muito parecida com a Stone”, comenta.

Itaú investe R$ 3 7 bi na Rede

O consultor Boanerges Ramos Freire, da Boanerges & Cia, observa que, ao conceder crédito diretamente, sem precisar passar pela estrutura do Itaú, a Rede pode simplificar processos e ganhar agilidade. “O mais provável é que seja algo mais voltado para a base da pirâmide. Esses clientes menores têm uma demanda muito grande por crédito — muitas vezes não atendida pelos bancos tradicionais — e é onde a rentabilidade é melhor. Se a Rede está criando essa SCD, obviamente é para ir além da tradicional antecipação de recebíveis.” Ele lembra que, agora que a central de recebíveis de cartões superou os obstáculos iniciais, fica mais fácil para as credenciadoras fazerem o chamado “crédito fumaça”, que usa como garantia vendas futuras.

Um observador afirma que a criação da SCD poderia estar relacionada com uma operação fiscal ou de alívio de capital, mas um advogado bastante conceituado no setor não vê muitas brechas para isso. “Do ponto de vista regulatório não tem qualquer vantagem, porque a SCD vai fazer parte do conglomerado prudencial do Itaú e, por ser S1 [grupo dos bancos sistemicamente importantes], a SCD é tratada de forma igual. A única coisa diferente é que SCD não é tratada como instituição financeira para efeitos de pagamento de impostos. Mas como uma SCD gera um empréstimo e depois vende, não tem grandes ganhos e, consequentemente, não importa muito isso para efeitos de IR.”

A Rede não é a primeira credenciadora a criar uma SCD. A Stone criou uma subsidiária em 2020 e hoje já tem um capital de R$ 501 milhões. Em 2021, a Getnet criou uma SCD com capital de R$ 76 milhões. A Cielo, por sua vez, tem dito que já recebeu aval dos seus controladores e que estuda criar uma SCD. A PagSeguro tem um banco, o PagBank, que já nasceu digital, então, em teoria, não precisaria de uma SCD, mas o movimento do Itaú agora põe essa tese em xeque…. leia mais em Valor Econômico 22/08/2022