Alfredo Setubal, presidente da holding Itaúsa, tem um bom problema. Todo ano, entre 2013 e 2021, as empresas em que a holding investe depositam de R$ 6 bilhões a R$ 10 bilhões em seu caixa. Cabe a Setubal e sua equipe encontrar usos rentáveis para todo esse capital. O setor financeiro está deixando de ser uma alternativa. O Itaú Unibanco, principal participação da empresa em valor (observe o quadro) não tem muito mais espaço para crescer, além de gerar caixa suficiente para custear os próprios investimentos. Durante bastante tempo, a saída foi direcionar os recursos para o setor industrial. No entanto, mais recentemente, a Itaúsa descobriu a infraestrutura. E o investimento de R$ 2,9 bilhões para a compra de 10,3% das ações da empresa de concessões rodoviárias CCR, anunciado no início de julho, mostra que esse é o novo vetor de crescimento do grupo.

A aquisição foi uma oportunidade: cerca de 14% do capital votante da CCR que pertenciam à empreiteira Andrade Gutierrez foram vendidos. A Itaúsa ficou com a maior parte, e os cerca de 4% restantes foram comprados pelo grupo Votorantim. Ao comprar as ações da concessionária, a holding seguiu seus princípios de investimento: optar por empresas grandes, sólidas, geradoras de caixa e com potencial para alavancagem. “Esse investimento reúne características fundamentais da estratégia de alocação eficiente de capital da Itaúsa”, afirmou Setubal ao fechar o negócio. No entanto, a transação é mais do que isso.

Itaúsa tem bilhões para investir

Segundo analistas, o mercado enxerga a negociação de forma positiva. “Essa aquisição não deve diminuir a quantidade de dividendos a serem pagos pela Itaúsa para o investidor, pelo contrário, a CCR chega para somar”, afirmou o especialista em renda variável na Nexgen Capital Heitor Martins.

Para pagar a aquisição, além dos recursos próprios, a holding vendeu uma fatia de seu investimento na XP. Em 2016 o Itaú Unibanco fechou um acordo com a fintech criada por Guilherme Benchimol. A ideia era unir as operações, mas os negócios foram travados pelo Banco Central (BC), que temia ainda mais concentração no setor. A saída estratégica do banco foi transformar a participação da XP em um investimento independente, que será vendido aos poucos, quando o mercado estiver favorável ou quanto houver necessidade de caixa. Por exemplo para pagar parte da aquisição da CCR. Além disso, haverá mais recursos para investir. Para o analista da Terra Investimento Régis Chinchila, “o negócio beneficiará os resultados da Itaúsa do terceiro trimestre de 2022 em aproximadamente R$ 300 milhões, líquidos de impostos”.

Ele disse acreditar que há pontos positivos também para a CCR, que segue uma empresa listada na B3 e com ações negociadas no Novo Mercado, segmento onde a governança corporativa é mais avançada. “Esse negócio pode fortalecer a governança corporativa e facilitar novos avanços sobre ativos estratégicos”, disse ele. “A saída da Andrade Gutierrez do controle da concessionária remove a percepção de potenciais conflitos de interesse na licitação para novas concessões.”

DIVIDENDOS

Os analistas descartam uma das preocupações dos investidores quando do anúncio do negócio: que a Itaúsa reduziria o pagamento de dividendos. Segundo o analista da Mirae Asset Pedro Galdi, a CCR agrega resultado para a Itaúsa, mas quase toda a receita da holding é proveniente do Itaú. “Então o ritmo de pagamentos não deve mudar, a não ser que a Itaúsa queira preservar caixa para alguma nova aquisição”, disse ele. A conferir. Procurada, a Itaúsa não concedeu entrevista… leia mais em Isto é Dinheiro 15/07/2022