A CantuStore, dona da maior varejista de pneus do Brasil, acaba de receber um investimento de R$ 600 milhões do fundo L Catterton. A gestora de private equity fica com uma participação minoritária no grupo e deve ocupar duas cadeiras no conselho. É o primeiro investimento institucional recebido pela companhia, que chegou a fazer um registro para IPO em 2021, mas com a guinada do mercado, agora vai ganhar fôlego para crescer com a transação privada até uma nova janela.

A holding controla a CantuPneus, maior importadora e distribuidora de pneus em operação no país, e o ecommerce PneuStore, também o maior do segmento no Brasil. A companhia tem cinco centros de distribuição e 39 lojas em todas as regiões do país, com a 40ª prevista para dezembro, somando cerca de mil funcionários.

“Uma das coisas que nos atraiu foi a governança forte, mesmo sendo uma empresa privada e sem investidores corporativos até aqui. A Cantu é líder isolada em seu segmento, tem brand awareness e um negócio altamente escalável”, disse Farah Khan, managing partner da L Catterton na América Latina, ao Pipeline. “E o Brasil, claro, é um dos principais mercados da região. É um enorme consumidor de varejo”, emenda Julio Babecki, também sócio da L Catterton na região.

Fundador e CEO, Beto Cantu acabou de completar 40 anos e há 15 criou a CantuStore com um investimento de R$ 300 mil. Saiu da cidade de Pato Branco, no interior do Paraná, para estudar na FGV, em São Paulo, quando o pai o chamou de volta para ajudar a tocar a transportadora familiar. Mas ali Beto entendeu que os três maiores custos de um negócio no segmento são combustível, mão de obra e pneu – basicamente o único item em que a companhia pode fazer uma melhor gestão de custo com planejamento.

L Catterton põe R$ 600 milhões na CantuStore
Imagem/CantuStore

Era um mercado basicamente na mão dos fabricantes, como Pirelli e Bridgestone. Beto rodou o mudou – anualmente vai a países como Japão, Índia e Coreia do Sul negociar com fabricantes e garantir mais de 40 marcas no portfólio, sem depender de poucos fornecedores.

Apesar da conexão com Pato Branco – o pai, Robson Cantu, é inclusive o atual prefeito -, Beto escolheu a cidade portuária de Itajaí, no litoral de Santa Catarina como sede da companhia, pela logística. A família também é fundadora da importadora de vinhos Cantu, que foi vendida à Wine no ano passado.

O segmento movimenta mais de R$ 45 bilhões por ano só em pneus de reposição e ainda é muito pulverizado. A Cantu estima ter menos de 10% de market share, e ainda assim é duas vezes maior que o segundo player. Com o capital injetado, a companhia vai investir em expansão de lojas – que são quase mini CDs, uma vez que o ponto precisa ter peça para troca imediata, já que parte relevante de demanda é reposição de urgência – mas também engatar M&As. Há conversas estão em andamento.

Nos últimos 12 meses, o grupo faturou mais de R$ 2 bilhões e 40% disso já vem das vendas online. A CantuPneus é o maior seller em marketplaces como Magalu e Mercado Livre, e tem ampliado setores de atuação. Se antes o foco eram os pneus de caminhão, a companhia acelera na venda para motos e máquinas pesadas na construção, agronegócios e segmento florestal.

Nas conversas com os investidores, a varejista foi assessorada pelo Itaú BBA, que era o líder do sindicato montado para o IPO no ano passado. A L Catterton ganhou vantagem na disputa por sua experiência em varejo e a presença global, que pode ajudar a rede numa planejada expansão internacional.

“Alguns dos motivos que nos levaram a escolher a L Catterton foram a influência e a estrutura da gestora a nível internacional, além da vasta experiência com fusões e aquisições. É um investidor ativo, participativo, que vai nos ajudar a construir marcas fortes. Isso está no DNA deles”, diz Beto Cantu. “Além disso, contam com um time local, o que faz diferença.”

A L Catterton, que tem foco em empresas de bens de consumo e US$ 33 bilhões investidos, já investiu em outras varejistas do setor automotivo, como Vroom e RealTruck. A gestora tem também o know-how da região: seu fundo latino-americano, agora com 16 companhias no portfólio, conta com brasileiras como Espaçolaser, Femme, PetLove, OdontoCompany e Saint Marché.

Os assessores jurídicos foram Matos Filho, do lado da CantuStore, e Demarest, ao lado do fundo.

O setor de autopeças brasileiro, formado majoritariamente por empresas privadas e familiares, tem chamado a atenção de fundos estrangeiros. Recentemente, a Advent assumiu o controle da Fortbras e a HIG Capital comprou a fabricante de filtros automotivos Tecfil. Carlyle e SPX também sondaram varejistas neste ano… leia mais em Pipeline 10/11/2022