As investigações da Operação Lava-Jato podem estar longe de serem concluídas, mas o impacto sobre o setor de saneamento pode ser medido com precisão. Pouco menos de 10% dos ativos nas mãos de empresas privadas no setor estão à venda, depois que algumas das construtoras envolvidas na investigação do Ministério Público entraram em recuperação judicial. A CAB Ambiental, controlada pela Galvão Participações, e a OAS Soluções Ambientais, do grupo OAS, entraram nas listas de bens a serem vendidos nos planos de recuperação e têm atraído interesse.

As duas companhias têm perfis de investimentos distintos. Enquanto a CAB é uma empresa madura, com concessões em diferentes estágios e uma geração de receita mais constante, a OAS Soluções Ambientais conta com dois ativos menores, concessões ainda iniciais e que precisam ser rentabilizadas, principalmente a de Guarulhos. Na avaliação de especialistas do setor e pessoas envolvidas nas negociações de compra e venda, apesar das diferenças, os leilões das duas devem ser disputados.

A lista de empresas que podem entrar na disputa inclui desde operadores nacionais  até fundos de investimentos, fundos soberanos e estrangeiras, como a japonesa Sumitomo, a francesa Suez e a israelense Miya. A Aegea é uma das empresas que confirmou interesse nas duas companhias e que estuda a participação nos dois leilões. Já desde o ano passado, analistas de mercado acreditavam que as dificuldades enfrentadas pelas grandes construtoras decorrentes da Operação LavaJato abriria espaço para a entrada de estrangeiras no Brasil. A ressalva que uma fonte do setor faz, no entanto, é que, no caso desses ativos, dificilmente serão adquiridos por companhias que não tenham conhecimento sobre o mercado brasileiro.

Não está descartada a possibilidade de parcerias entre os interessados para a compra dos ativos. Embora fontes mais próximas digam que o processo ainda não atingiu esse estágio, diversas conversas informais têm surgido entre as interessadas.

O consenso é de que o momento é uma grande oportunidade para a iniciativa privada. O maior risco envolvido nas negociações é o tempo de finalização do processo. “A cada dia as empresas perdem valor”, avaliou uma fonte envolvida na tentativa de compra da CAB e do ativo de saneamento da OAS. Essa fonte espera que os novos controles sejam definidos até o fim do ano. Se passar das eleições municipais de 2016, diz, as concessões podem apresentar problemas mais sérios.
Tratam-se de empresas que exigem investimentos, especialmente nos primeiros anos de contrato, e em um contexto de dificuldades de acesso ao crédito. Nenhumandas fontes consultadas pelo Valor, no entanto, acredita que os processos de recuperação se estendam por tanto tempo, nem mesmo no caso da OAS, que tem credores considerados mais agressivos.

Para o presidente da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), Roberto Muniz, são ativos extremamente atrativos por terem metas já bem definidas, investimentos programados e retorno relativamente previsível, e disponibilizados em um momento em que o mercado de saneamento está “ávido pela entrada de novos recursos”. “Esses ativos que estão sendo colocados à venda são conhecidos, eles não partem do zero”, diz, mas pondera que as dificuldades que o mercado interno vem apresentando ao empresariado pode resultar em uma maior timidez na disputa pelas aquisições.

A CAB Ambiental, em atuação desde 2006, conta com 18 contratos de concessões, sendo que a mais próxima do prazo de vencimento, uma PPP de água no interior de São Paulo, ainda tem quase nove anos remanescentes. É controlada pela Galvão Participações, que detém 67% da empresa; os outros 33% são da BNDESPar. O Valor já publicou que os ativos podem atingir R$ 800 milhões. A composição acionária é considerada ponto fundamental na definição do preço. Sendo o BNDES um ator importante no financiamento do setor, sua permanência ou não na operação deve impactar o preço.

Já a OAS tem dois ativos, a concessão plena da cidade de Araçatuba e uma PPP de esgoto com a prefeitura de Guarulhos. Em torno da discussão do preço do ativo encontra-se o destino deste último contrato. Como o governo do Estado de São Paulo entrou com uma ação de inconstitucionalidade contra a prefeitura, questionando sua autonomia para fazer contratação do serviço de esgoto, ainda não se sabe qual será o resultado da tramitação ou mesmo se ele poderia afetar o contrato já firmado. Possíveis interessados estudam formas de se proteger desse  risco. Por Victória Mantoan | De São Paulo Leia mais em sinicon 03/08/2015