A 4ª Rodada do pré-sal reforçou, na semana passada, a presença das principais petroleiras globais no Brasil, numa investida que começou a ganhar corpo ainda no ano passado e que promete movimentar novas atividades de exploração já a partir deste ano. Ao todo, 27 empresas já investiram R$ 21,1 bilhões na aquisição de ativos nos cinco leilões realizados nos últimos nove meses.

A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estima em R$ 3,5 bilhões os investimentos mínimos na exploração das 68 áreas leiloadas, desde o ano passado, nas 14ª e 15ª Rodadas de concessões e nas 2ª, 3ª e 4ª Rodadas de partilha do pré-sal.
O potencial dos ativos licitados, localizados sobretudo nas bacias de Santos e Campos, é dos mais atrativos do mundo. Não à toa, os leilões conseguiram atrair as maiores empresas do setor, dentre elas a ExxonMobil.

Ninguém investiu mais do que a companhia americana, que pagou, ao todo, R$ 6,7 bilhões por 20 blocos – o mesmo número de áreas arrematadas pela Petrobras, que desembolsou outros R$ 6,15 bilhões.

Com as aquisições, a Exxon reestreou no pré-sal brasileiro, depois de uma campanha exploratória malsucedida, no início da década, no bloco BM-S-22, na Bacia de Santos, que fez a empresa se distanciar do Brasil. Até o ano passado, a petroleira vinha atuando timidamente, com apenas duas concessões exploratórias no país.

Quem também decidiu aproveitar as oportunidades para marcar presença no pré-sal foram a BP (Reino Unido), Chevron (EUA) e a Qatar Petroleum (QPI), que já atuavam no mercado brasileiro, mas estavam de fora da região mais profícua do país. Empresas como Shell (Reino Unido), Repsol (Espanha) e Petrogal (Portugal), figurinhas carimbadas no pré-sal, por sua vez, reforçaram suas carteiras de ativos na região.

A Shell, aliás, foi, ao lado da norueguesa Equinor (ex-Statoil), a única empresa – além da Petrobras – que arrematou, como operadora, uma área leiloada sob o regime de partilha do pré-sal. Embora tenha sido marcado pela diversidade de atores, o calendário de leilões 2017-2018 consolidou a liderança da Petrobras como principal operadora do pré-sal, posição garantida pela lei que lhe dá preferência na aquisição de blocos no regime de partilha.

Os cinco leilões realizados pelo governo desde o ano passado atraíram também novos entrantes. Caso da americana Murphy Oil e da alemã Wintershall – que saiu do pais em 2005, mas voltou neste ano, após desembolsar R$ 154 milhões por sete concessões, na 15ª Rodada, de março.
Embora a atenção das petroleiras tenha se direcionado para o pré-sal, as companhias também estão apostando em outras regiões. A chinesa CNOOC e a Repsol, por exemplo, estão estreando no Espírito Santo, enquanto a Exxon, Murphy e Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) entraram em águas profundas de Sergipe-Alagoas. A Bacia do Potiguar, por sua vez, atraiu a Shell e a Wintershall – que também está apostando no Ceará.

Para o secretário de exploração e produção do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Antônio Guimarães, ao realizar cinco leilões nos últimos nove meses, em meio à queda das atividades da indústria de óleo e gás, o governo garantiu as condições para a retomada do setor para a próxima década. Segundo ele, a atração dos investimentos é fruto da melhoria do ambiente de negócios – traduzida, por exemplo, na flexibilização da política de conteúdo local e no fim da operação única da Petrobras na partilha.

Ele destaca que a ausência de leilões por cinco anos, entre 2008 e 2013, a queda do preço do barril desde 2014 e a crise financeira enfrentada pela Petrobras criaram uma “tempestade perfeita” que reduziu os níveis de exploração e afetou a cadeia fornecedora de bens e serviços. Segundo Guimarães, portanto, a decisão do governo de licitar os ativos de maior potencial do país, em águas ultraprofundas das bacias de Campos e Santos, foi certeira.

“A indústria nos últimos anos ficou com poucos ativos para serem desenvolvidos. O que o Brasil fez agora [ao realizar os leilões] foi contratar o sucesso futuro. Há uma grande demanda por serviços vindo em 2021, 2022, 2023, 2024… Dá ânimo para quem está instalado aqui saber que a partir de 2020 o nível das atividades vai se acelerar”, disse.

Algumas petroleiras já manifestaram a intenção de acelerar a exploração das áreas recém adquiridas e já programam perfurações em 2018 (caso da Petrobras, em Peroba) e Shell e Equinor (que têm planos de perfurar no pré-sal em 2019).

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-diretor da ANP, Hélder Queiroz, explica que a aceleração desses investimentos está relacionada com a atratividade das áreas leiloadas, sobretudo o pré-sal, e com a recuperação dos preços do barril do petróleo. “A alta dos preços reforça o caixa das empresas”, afirma.

Guimarães, contudo, alerta para a necessidade de continuidade do calendário dos leilões. Ao todo, ao menos mais cinco rodadas estão marcadas até 2021. “O que não pode acontecer é ter a descontinuidade dos leilões”, afirma o executivo do IBP.  Fonte: Valor Econômico Leia mais em energia.sp 14/06/2018