Resultados melhoram, mas empresa mantém economia para pagar dívidas e se preparar para esperada onda de consolidação no setor

A Fibria passou seus primeiros cinco anos de existência tentando se curar do endividamento. Vendeu fábricas, abriu mão de florestas e fez uma oferta de ações para sanear as contas e recuperar a confiança do mercado. Os resultados melhoraram e as agências de classificação de risco já sinalizam com a possibilidade de atribuir à companhia o grau de investimento até o fim de 2013.

 Mas a lição de casa servirá também para que a Fibria se prepare para um movimento previsto para acontecer daqui a dois ou três anos: uma nova rodada de consolidação do setor de celulose.

 O presidente da companhia, Marcelo Castelli, espera que a empresa esteja 100% pronta para um possível processo de fusão e aquisição. A ideia da companhia é entrar numa consolidação como “mandante”, e não como negócio a ser incorporado. “Estamos atentos às oportunidades de consolidação.”

 Para não desviar do rumo, a Fibria descarta iniciar qualquer projeto de expansão de capacidade antes do segundo semestre de 2014. Isso porque, apesar de a dívida estar nos menores níveis da curta história da empresa, há pesadas obrigações a serem cumpridas até 2020 (veja quadro abaixo). Para satisfazer as agências de risco, o executivo sabe que precisará reduzir a dívida para, no máximo, 2,5 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) até dezembro.

 A Fibria trabalha hoje com a possibilidade de dobrar a capacidade da fábrica de Três Lagoas (MS), adicionando 1,5 milhão de toneladas de celulose à sua oferta anual, com um investimento de US$ 2 bilhões. “Vejo uma janela para ampliarmos a produção em 2016, o que nos dá até o fim do ano que vem para decidir”, diz Castelli. “Mas podemos simplesmente concluir que não é algo viável.”

 É esse conservadorismo que ajudou a Fibria a recuperar parte de sua reputação no mercado financeiro após ser castigada por anos com previsões sombrias. Formada a partir da união da Votorantim Celulose e Papel (VCP) e da Aracruz, a empresa sofreu um baque com a valorização do dólar no Brasil após a eclosão da crise financeira internacional, em 2008.

 A Aracruz apostou em derivativos financeiros atrelados à manutenção do real forte e acabou amargando um prejuízo de R$ 4,5 bilhões com a operação. Isso elevou o endividamento da Fibria a mais de 7 vezes o Ebitda, obrigando a empresa a recorrer ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a se comprometer com um penoso processo de saneamento que só terminará no fim desta década.

 Entraves. Além do desafio financeiro, há dúvidas se uma oferta adicional da Fibria não desequilibrará os preços da commodity. Isso porque, enquanto a empresa sentou no banco de reservas, toda a concorrência partiu para expansões ousadas. O crescimento do mercado mundial de celulose de fibra curta – usada para a produção de produtos como papel higiênico e lenços de papel, cujo consumo cresce fortemente nos mercados emergentes – é de 1,5 milhão de toneladas por ano, justamente o tamanho médio das fábricas que vão começar a operar nos próximos anos.

 Além disso, a experiência da concorrência prova que há dores no crescimento. A Suzano deverá inaugurar no fim do ano uma fábrica de celulose no Maranhão. Para financiar o projeto, orçado em US$ 3 bilhões, a companhia precisou inflar seu endividamento, que hoje está em 5,2 vezes o Ebitda – número que não vai parar de crescer até que a planta comece efetivamente a gerar caixa. Diante dos números adversos, a Suzano também começou a tomar medidas de austeridade.

 A ordem do novo presidente, Walter Schalka (ex-Votorantim Cimentos), é promover a venda de ativos para aliviar as contas. Para alguns analistas, a empresa apostou em muitos projetos ao mesmo tempo e agora precisa pôr o pé no freio.

 O mercado de celulose terá de absorver, em curto espaço de tempo, a produção de outras duas fábricas: a da nova unidade uruguaia da finlandesa Stora Enso, prevista para 2014, e a da primeira unidade da Eldorado Celulose, que atingirá seu pico de capacidade no segundo semestre. Isso vai adicionar 4,5 milhões de toneladas de celulose no mercado, o que deverá ter efeitos no preço da commodity, hoje negociado acima de US$ 800 por tonelada.

 O presidente da Fibria diz que esse movimento pode jogar a cotação para menos de US$ 700. “O preço vai dar uma enfraquecida no início do ano que vem, o que pode obrigar algumas fábricas a reduzir a produção”, diz Castelli.

 Após esses três projetos concomitantes, já há outras expansões programadas mais para o fim da década. O presidente da Eldorado, José Carlos Grubisich, diz que a empresa precisa dobrar a capacidade de sua única fábrica até 2017 para brigar com as gigantes mundiais. Entre 2015 e 2016, a chilena CMPC e a Klabin também pretendem colocar suas novas unidades em operação. “Acho que só será viável para a Fibria entrar com alguma capacidade nova a partir de 2020”, diz Grubisich.

 Mas a consolidação do mercado pode ocorrer antes disso, segundo o executivo da Eldorado. “Não acredito que isso ocorra em menos de dois anos”, diz. “Mas fusão é oportunidade. Pode surgir a qualquer momento.” FERNANDO SCHELLER –
Fonte: O Estado de S.Paulo 29/04/2013