Em uma partida de xadrez, a combinação de paciência, estratégia, precisão e ousadia costuma dar origem a jogadas surpreendentes. É dessa forma que a Marfrig Global Foods S.A. tem avançado no tabuleiro em direção ao controle da BRF S.A. Cada novo movimento reascende no mercado os rumores de uma possível fusão entre ambas. Foi o que aconteceu na última terça-feira (30), quando o nome de Miguel Gularte, então CEO da Marfrig para América do Sul, foi anunciado como substituto de Lorival Luz, que renunciou ao posto de CEO Global da BRF. Embora a mudança não fosse esperada, também não chegou a causar espanto, ao menos para quem tem acompanhado os passos do enxadrista em questão.

O estrategista é Marcos Molina, fundador da Marfrig, uma das maiores companhias globais de proteína animal e a maior fabricante de hambúrgueres do mundo — a capacidade de produção é de 244 mil toneladas por ano. No final de março deste ano, Molina assumiu a presidência do Conselho de Administração da BRF, logo após sua empresa se tornar a maior acionista da dona das marcas Sadia e Perdigão, com participação de 33,27% no controle. É por isso que o mercado associa a chegada de Gularte à BRF como um amadurecimento dessa potencial fusão. Por enquanto, continua tudo no campo da especulação, pois nenhuma das empresas validou o tema.

A junção tornaria mais acirrada a concorrência na indústria de proteína animal. No entanto, a líder JBS ainda seguiria à frente do segmento. A líder global em produção de alimentos à base de proteína teve receita líquida de R$ 92,2 bilhões no segundo trimestre de 2022 , enquanto a da BRF foi de R$ 12, 9 bilhões e a da Marfrig, R$ 34,5 bilhões. Essa corrida das indústrias frigoríficas listadas na bolsa tem ainda o Minerva Foods, cuja receita líquida foi R$ 8,5 bilhões. Os números estão nos relatórios de resultados financeiros das empresas .

Marfrig avança em seu apetite pela BRF

EXECUTIVOS Gularte soma quase 40 anos de experiência no setor de carnes, e com ênfase no mercado internacional. Começou a carreira pela Cooperativa Industrial de Carnes e Derivados (Cicade), no Rio Grande do Sul; comandou o frigorífico Pul, no Uruguai; foi vice-presidente internacional do Minerva; e presidiu a JBS Mercosul. Para a equipe de Research da XP Investimentos, ele “deve ser capaz de tornar a BRF mais ágil, eliminando a inércia incômoda que era responsável por oportunidades perdidas no passado da empresa”. E pode impulsionar exportações e receita. Desde que as diferenças de mercado não sejam um obstáculo, pois agora vai lidar mais com aves e suínos. Quem assume o lugar de Gularte na Marfrig é Rui Mendonça Junior, que está na empresa desde 2007 e há cinco anos dirigia o setor de industrializados para América do Sul. A experiência da Mendonça no setor de carne bovina passa de quatro décadas, também com atuação dentro e fora do País. Sob seu comando, o setor de industrializados ganhou mais relevância ns negócios da empresa.

De 2018 até a troca das cadeiras de agora, a participação do setor de industrializados na receita total da Marfrig na América do Sul saltou de 5% para 15%. Como não poderia deixar de ser, o desafio aumentou, tanto pela proporção quanto pelos resultados. A operação como um todo teve receita líquida de R$ 7,1 bilhões no segundo trimestre de 2022, com crescimento anual de 41,6%, o maior índice na história da companhia para um período de três meses… leia mais em Isto é Dinheiro 02/09/2022