Múltis terão de mudar forma de atuação
A mudança de poder na economia global vai obrigar as empresas multinacionais a repensar a forma de atuação nos países emergentes. Um estudo realizado pela consultoria Booz & Company mostra que as companhias vão precisar delegar mais funções para as suas unidades ao redor do mundo e estabelecer quais são as atividades mais apropriadas para cada local.
Atualmente, a economia mundial enfrenta uma grande mudança para o que o estudo chama de ‘globalização 2.0’, com o surgimento de massas de consumidores nas economias emergentes. ‘As empresas vão ter que saber responder com mais rapidez às necessidades de diferentes mercados’, diz Paolo Pigorini, um dos responsáveis pelo estudo e sócio da Booz & Company no Brasil. ‘É preciso esquecer o modelo anterior de que tudo se decide na matriz.’
O estudo aponta que as empresas devem buscar distribuir melhor as atividades entre suas subsidiárias. ‘Ainda existem algumas empresas que mantêm uma centralização excessiva na tomada de decisões’, afirma Ariel Fleichman, também responsável pelo estudo e sócio da Booz & Company na Argentina.
Segundo a consultoria, o período que se inicia com a nova ‘onda de globalização’ coloca um fim na era anterior, batizada de globalização 1.0, iniciada em 1960 e que tinha como eixo principal as economias da América do Norte e da Europa.
A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) indica que no ano que vem a participação dos países emergentes e desenvolvidos no total Produto Interno Bruto (PIB) mundial seja praticamente iguais. A expectativa é que as economias emergentes tenha 49,9% do PIB mundial e as economias avançadas 50,1%.
Diante dessa troca de poder entre as economias, os executivos da Booz & Company acreditam que o futuro das multinacionais brasileiras é mais ‘positivo do que negativo’ para a conquista de novos mercados, principalmente porque os desafios nas economias emergentes serão os mesmo que os já enfrentados pelas companhias no Brasil.
‘As empresas brasileiras já sabem como lidar com vários problemas existentes nos países emergentes’, diz Pigorini. Entre as dificuldades já superadas pelas multinacionais brasileiras estão a hiperinflação, que assombrou o País antes da criação Plano Real, em 1994, e a persistente falta de infraestrutura no País.
O avanço das empresas das economias emergentes fica evidente no ranking anual realizado pela revista Fortune. A participação de empresas dos países do Brics – grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – na lista Fortune 500 pulou de 27, em 2005, para 83 companhias, em 2011. Ou seja, a participação das empresas emergentes no ranking pulou de 5,4% para 16,6%.
A China tem puxado o aumento da presença de empresas emergentes no levantamento. Entre as brasileiras a Petrobrás teve o melhor posicionamento no ranking deste ano, ocupando o 34.° lugar. Também figuraram na lista Banco do Brasil (117.° lugar), Bradesco (156.º), Vale (186.º), JBS (307.º), Itaú (360.º) e Ultrapar (400.º).
Médias. Mesmo empresas de menor porte, como a indústria paranaense Bematech, têm estratégias que miram a expansão no exterior – o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mantém uma linha para ajudar na internacionalização de empresas brasileiras. A Bematech, conhecida por fabricar as ‘maquininhas’ para o comércio – como impressoras de notas fiscais e leitores de códigos de barra -, além de softwares, iniciou sua atuação externa há dez anos.
A Bematech, que fatura cerca de R$ 350 milhões por ano, hoje fabrica e desenvolve produtos nos Estados Unidos, na China e em Taiwan. A estratégia de internacionalização da empresa começou em 2001, com a subsidiária americana. Cinco anos depois, a Bematech abriu um escritório de vendas na Argentina e o iniciou da atuação em Taiwan, um dos principais polos mundiais de desenvolvimento de tecnologia no mundo.
Em 2008, a Bematech fincou bandeira na China.’Nosso desafio como empresa nacional é colocar os braços para fora do Brasil e entender o que acontece no mundo’, explica o diretor-presidente da Bematech, Cleber Morais. Ele diz que a crise nas economias mais maduras vai favorecer o desempenho das empresas de países emergentes. ‘Em Taiwan, estou no principal polo de inovação tecnológica para o varejo’, exemplifica. Por Luiz Guilherme Gerbelli
Fonte:estadao11/12/2011