O balanço da Natura &Co (NTCO3) trouxe tudo que o mercado esperava: melhora contínua na operação da América Latina, especialmente com a marca Natura, esforço para manutenção de margens dentro de uma conjuntura de inflação, e pressão na última linha devido ao ambiente global de juros e aos desafios com Avon Internacional e The Body Shop. Mas, no atual cenário de volatilidade de bolsa, a confirmação das expectativas tem gerado desempenho ruim nos mercados. Não espanta, portanto, que as ações hoje tenham buscado uma nova mínima de preço desde a incorporação da Avon, chegando a ir para baixo de R$ 12 (R$11,82 foi a mínima no intraday). A companhia, que já valeu mais de R$ 80 bilhões, estava estagnada nos R$ 20 bilhões, agora vai se afastando — para baixo — desse patamar. Há pouco, as ações caíam pouco menos de 5,5%, com a empresa avaliada em R$ 17,5 bilhões.

Vale ponderar que até Grupo Soma e Arezzo tiveram dias negativos na B3, mesmo após confirmaram as expectativas — e positivas — para seus respectivos resultados. Mas só surpresa boa e grande faz ação subir no mercado atual. No caso de Natura &Co, em que confirmar expectativas significa reiterar o ambiente de pressões de curto prazo, a força da queda é ainda maior.

Como os investidores já sabem que não é do balanço, neste momento, que virão novidades de “inverter o humor”, aguardam mais assertividade sobre o plano para a nova Natura &Co, que não se vê mais como uma plataforma global de marcas de cosméticos e higiene a qualquer custo. E, sobre isso, há poucas definições — afinal, trata-se de uma reorganização que está apenas no início de seus estudos.

Dinheiro no bolso da Natura &Co, sim
Fabio Barbosa, que assumiu em junho o comando da Natura &Co para coordenar essa revisão de projeto e tamanho da holding, ainda não tem as respostas para acalmar os investidores como eles gostariam. Mas, nesta quinta-feira, 10, em conversa com jornalistas, trouxe pontos importantes.

O caminho sobre como destravar valor para Aesop não está definido, mas seja qual for, é para gerar riqueza também para a holding Natura &Co. E essa é uma ênfase nova e importante. Estão na mesa uma oferta pública inicial (IPO) da companhia australiana, como subsidiária da holding brasileira, ou seu spin off, com uma oferta em bolsa na sequência, conforme anúncio feito em outubro. Nessa segunda opção, o que ficou mais claro hoje nas declarações de Barbosa é que existem caminhos de se fazer isso sem que a geração de valor seja exclusiva para os acionistas da Natura &Co.

Num IPO de subsidiária, a Natura &Co segue com Aesop debaixo de seu guarda-chuva. Para a holding brasileira monetizar a operação, basta vender parte de sua fatia no IPO e colocar dinheiro em seu caixa — além de uma emissão primária poder enriquecer a conta bancária da própria Aesop. Já em um spin off, se ele fosse integral, o valor destravado com a marca americana iria direta e exclusivamente para o bolso dos acionistas da Natura &Co. Cada investidor da holding brasileira, receberia ações da Aesop e, pronto, ela seria uma empresa que sai do portfólio e tem vida totalmente independente.

Fusão total da Avon na América Latina
Se no consolidado geral, a Natura &Co mostra diversos desafios, a operação na América Latina traz algum alívio, aos olhos dos analistas. A receita líquida da região somou R$ 5,77 bilhões, com alta de 4,4%. Em moeda constante, considerando as desvalorizações de diversas economias da região, a expansão é de 10,2%. No Brasil, a Natura, sozinha, avançou 19,3% (a companhia não divulga valores absolutos), com um aumento de 21,4% na produtividade das consultoras. Já a operação da Avon teve queda de 1,4%, mas é reflexo da decisão estratégica de sair gradualmente do segmento de moda e casa, que recuou 26,5% na comparação anual. Considerando apenas cosméticos, a Avon teve aumento de 11% nas vendas.

A partir de agora, João Paulo Ferreira, presidente da Natura &Co, para América Latina contou que começam os trabalhos para a “segunda onda” da combinação com Avon, após o processo de revitalização e reposicionamento da marca na região, junto com as sinergias industriais. “É a fusão total”, disse ele a jornalistas. A ideia é que a força de vendas seja totalmente unificada. Ou seja, as revendedoras poderão oferecer aos consumidores produtos de ambas as marcas, Avon e Natura. Em 2023, esse trabalho vai acontecer no Brasil, no Peru e na Colômbia.

O processo é visto de maneira salutar por analistas. De acordo com o executivo, os trabalhos serão realizados sobre a plataforma da Natura, que há anos está em um processo de digitalização e de reforço do social selling. Alguns investidores acreditam que é só a partir dessa integração que a verdade sobre a aquisição surgirá: que tamanho e potencial têm a Avon de verdade para a Natura &Co.

Mas, por onde quer que se olhe, o que o grupo vai demandar dos investidores é paciência. Em um ambiente de alta volatilidade, está explicada uma boa parte da perda de valor da companhia… saiba mais em Exame 10/11/2022