Enquanto grandes fundos de venture capital pisaram no freio, um grupo de anjos brasileiros vai fazer cheques maiores. O GVAngels, formado por ex-alunos da FGV e sem vínculo institucional com a faculdade, vai aportar R$ 12 milhões em startups de estágio inicial neste segundo semestre, quatro vezes mais do que investiu na primeira metade do ano. Somando rodadas em negociação e contratos já em fase de due diligence, serão pelo menos 10 cheques de cerca de R$ 1 milhão — alguns, de mais de R$ 2 milhões, bem acima da faixa para companhias iniciantes.

“As startups estavam com valuation distorcido, uma coisa absurda. Em 2015, a gente falava em cheques de R$ 2 milhões, R$ 3 milhões. No ano passado, tinha empresa em early stage que chegava pedindo R$ 20 milhões. Então, esse freio nos investimentos foi muito benéfico para uma correção”, avaliou Wlado Teixeira, diretor-executivo do GVAngels. “O interessante é que tudo que ficou tímido no primeiro semestre acabou se concretizando no segundo.”

Dados da plataforma Distrito mostram que o tíquete médio do investimento anjo no Brasil aumentou 21% no período de janeiro a agosto, na comparação anual. E a tendência é que o mercado aqueça gradualmente daqui em diante.

O apetite dos anjos: GVAngels quadruplica aportes
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O GVAngels, que pode ser considerado um dos veteranos de um mercado ainda muito pulverizado, investiu apenas R$ 5,8 milhões no primeiro semestre do ano. No maior aporte do período, entrou na Kor Solutions, por R$ 1,5 milhão. Foi também neste ano que o pool de investidores cruzou as fronteiras internacionais, com cheques para a canadense Boundless Life e à britânica Palqee.

Desde a fundação, em 2017, o GVAngels já investiu mais de R$ 45 milhões em cerca de 50 startups escaláveis. Em outubro do ano passado, a instituição realizou seu primeiro exit, com retorno de 80%, na venda da Chiligum à Vidmob. A segunda saída, com múltiplo de 3x, foi do EduqBank, comprada pela Vasta, uma empresa do grupo Cogna.

O grupo de anjos começou com cerca de 20 ex-alunos da FGV e já conta com 350 membros assinantes. O plano era figurar entre as 10 redes de investidores mais ativas do país. Parece ter funcionado, já que neste ano o GVAngels esteve entre os três finalistas do Startup Awards, na categoria de venture capital.

Para receber um cheque do GVAngels, é fundamental ter um cap table saudável: contando o pré-seed, o fundador não pode ter cedido mais do que 20%. O grupo pede uma participação sustentável pelo aporte, entre 8% e 12%, a depender do estágio, co-investidores e saúde da empresa. Também são favorecidas aquelas com uma receita recorrente anual (ARR) acima de R$ 300 mil e pelo menos um ano de operação, com R$ 500 mil no caixa. Empreendedores que dividem seu tempo com outros projetos ou um emprego costumam ser preteridos. Em média, o pool analisa 400 startups por ano.

À frente do grupo, Teixeira fundou sua primeira startup aos 60 anos: uma fintech que terceirizava crédito imobiliário para bancos como Bradesco, Itaú e Caixa. Em um ano, a solução saiu de R$ 1 milhão em faturamento para R$ 37 milhões. Quatro anos depois, vendeu a empresa para a Accenture e decidiu trabalhar “pro bono” para o sistema de venture capital, como ele mesmo define. “Hoje, temos uma comunidade muito respeitada: não tem cabimento ser só o cheque, tem que oferecer mentoria e networking”…. leia mais em Pipeline 21/11/2022