O magnata que atraiu aportes de US$ 15 bilhões desde o início da Covid-19
Com uma fortuna de US$ 64,5 bilhões, o empresário indiano Mukesh Ambani é o primeiro asiático a integrar o topo da lista dos dez maiores bilionários do mundo. CEO da Reliance Industries, ele comanda um negócio de US$ 100 bilhões e cujo braço digital atraiu aportes de US$ 15 bilhões em tempos de pandemia
O seleto clube das dez maiores fortunas do mundo é ainda mais restrito quando se leva em conta a origem de seus abastados membros. Com raras exceções, a lista é dominada pelos americanos. Inclusive no topo, ocupado por Jeff Bezos, fundador da Amazon e dono de um patrimônio de US$ 160 bilhões.
Hoje, porém, esse ranking ganhou um novo sotaque. CEO do Reliance Industries, o indiano Mukesh Ambani é o mais novo integrante do Top 10 do Bloomberg Billionaires Index. Com US$ 64,5 bilhões em sua conta bancária, o magnata de 63 anos é também o primeiro empresário asiático a cruzar essa fronteira.
Ao estrear na nona posição da lista, Ambani superou a francesa Francoise Bettencourt Meyers, herdeira da L’Oreal, e desbancou do ranking o americano Larry Ellison, fundador da Oracle. Depois do indiano, Jack Ma, fundador do Alibaba, é o segundo asiático mais rico do mundo. Ele ocupa o 20⁰ lugar nessa relação, com uma fortuna de US$ 47,6 bilhões.
Além de CEO da Reliance Industries, Ambani é o maior acionista do grupo, com uma fatia de 42%. Avaliada em US$ 100 bilhões, a holding indiana tem negócios que vão da produção ao refino de petróleo e petroquímicos até empresas no varejo e no setor de telecomunicações.
À frente dessa operação, o bilionário adicionou US$ 5,83 bilhões ao seu patrimônio em 2020. Na contramão de alguns de seus ilustres pares, como o megainvestidor Warren Buffet e o cofundador da Microsoft, Bill Gates, que perderam, respectivamente, US$ 17,8 bilhões e US$ 824 milhões no período.
Boa parte da nova fortuna de Ambani foi captada a partir da chegada da Covid-19 e de um negócio, em particular, da holding indiana. Braço de telecomunicações e de negócios digitais, a Jio Platforms atraiu, em exatos dois meses, US$ 15 bilhões em aportes.
O cheque mais polpudo, de US$ 5,7 bilhões, foi assinado pelo Facebook, em 22 de abril, em troca de uma fatia de 9,99% na operação. De lá para cá, a lista ganhou outros investidores de renome: Silver Lake Partners, Vista Equity Partners, General Atlantic, KKR & Co.; e Fundo Soberano da Arábia Saudita.
Em dois meses, a Jio Platforms, empresa de negócios digitais do grupo, captou US$ 15 bilhões junto a investidores como Facebook, Silver Lake, General Atlantic e KKR & Co.
No total, o pool de novos acionistas comprou uma participação de 20,82% na empresa. E tamanho interesse encontra justificativa em alguns indicadores. No caso do Facebook, por exemplo, a Índia é o maior mercado do WhatsApp, com 400 milhões de usuários.
Esse número se conecta com a base impressionante de 388 milhões de assinantes móveis da Jio. Para efeito de comparação, esse número é superior ao volume somado de assinantes das operadoras Verizon, AT&T e T-Mobile nos Estados Unidos. Segundo a consultoria Sanford C. Bernstein, a companhia indiana deve responder por 48% do mercado local até 2025.
Outros dados explicam a atenção despertada pela empresa. De acordo com a consultoria Forrester Research, o e-commerce na Índia deve saltar de uma receita de US$ 26,9 bilhões, em 2018, para US$ 68,4 bilhões em 2022.
Nesse contexto, Ambani não tem poupado esforços para dominar o mercado digital no país. Fundada em 2016, a partir de um investimento de mais de US$ 30 bilhões, a empresa construiu, por exemplo, uma rede 4G do zero, que oferece internet rápida e barata a milhões de indianos.
Pouco a pouco, o empresário tem colocado em prática seu plano para estender a presença da Jio Platforms em outros negócios digitais, como o comércio eletrônico.
A empresa, no entanto, ainda responde por uma pequena fração da holding que, no primeiro semestre de seu ano fiscal, encerrado em 30 de setembro, apurou uma receita de US$ 47,5 bilhões, dos quais, US$ 3,4 bilhões vieram da Jio.
Disputa entre irmãos
Herdeiro de Dhirubhai Ambani, que fundou uma empresa no ramo têxtil, em 1957, Mukesh Ambani começou sua trajetória no grupo no início da década de 1980. Formado em Engenharia Química, na época, ele cursava um MBA na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. E foi convocado pelo pai para supervisionar a construção de uma nova fábrica da operação.
O grupo começava a diversificar os seus negócios, a partir de aquisições e da entrada em setores como energia e tecnologia. Mukesh teve um papel essencial nessa expansão, assim como seu irmão Anil, dois anos mais novo.
A companhia já era uma das maiores da Índia quando Dhirubhai faleceu, em 2002, vítima de um derrame e sem deixar um testamento. A morte do pai desencadeou uma disputa pela liderança do grupo entre os dois irmãos. O imbróglio só foi solucionado pela matriarca da família, Kobilaben, que dividiu os negócios entre a dupla, em 2005.
Na partilha, Mukesh ficou com o controle das operações de refino, petroquímica, petróleo e gás, e têxtil, ou, na prática, a maior parte do grupo. Anil, por sua vez, passou a comandar os negócios da holding em segmentos como telecomunicações, entretenimento e energia.
Mesmo com o acordo, os anos seguintes foram marcados pelas trocas de farpas e processos, o que provocou uma nova intervenção da mãe, em 2010, que se traduziu no estabelecimento de uma cláusula de não concorrência entre os irmãos.
Desde então, Mukesh e Anil seguiram trajetórias distintas. Apesar de um início bem-sucedido, o caçula começou a acumular dívidas em suas empresas, que rapidamente perderam valor.
Entre elas, a Relil Communications, que não conseguiu fazer frente ao avanço de rivais, como a Jio Platforms. Hoje, o patrimônio de Anil é estimado em US$ 1,7 bilhão, menos de 3% da riqueza do irmão mais velho….. Moacir Drska Leia mais em neofeed 22/06/2020