O termo fintech vem da expressão em inglês “financial technology” e descreve produtos e empresas que empregam tecnologias digitais e on-line recém-desenvolvidas nos setores bancário e de serviços financeiros.

As fintechs explodiram para valer após a última crise financeira global, que minou a confiança nas instituições financeiras tradicionais e fez com que vários fundos começassem a realizar grandes investimentos em startups do setor, uma alternativa aos bancos tradicionais que estavam quase quebrando.

No Brasil, o movimento ganhou força e, hoje, o país possui várias fintechs, algumas delas exemplo de sucesso no setor financeiro. Nesta reportagem, o Valor explica o que é uma fintech, quais são os tipos e exemplifica as maiores delas, como o caso do Nubank, e contextualiza as brigas entre bancos e essas novas instituições financeira.

O que é fintech?

Fintech é uma empresa que utiliza tecnologia nos setores bancário e de serviços financeiros. O termo foi usado pela primeira vez nos anos 1980 por Peter Knight, que editava uma newsletter de negócio no jornal britânico Sunday Times. Mesmo assim, só foi se popularizar muito tempo depois.

Em 1995, o banco americano Wells Fargo foi o primeiro a oferecer contas digitais e as primeiras fintechs propriamente ditas surgiram no fim daquela década, como o Paypal, em 1998.

As fintechs explodiram para valer após a crise financeira global de 2007/08, que minou fortemente a confiança nas instituições financeiras tradicionais e fez com que várias empresas de venture capital começassem a realizar grandes investimentos em startups do setor que serviriam como uma alternativa aos bancos tradicionais que estavam quase quebrando.

No Brasil, o movimento começou a ganhar força um pouco depois. Um caso emblemático é o da Fairplace, que em 2010 criou um site de empréstimos entre pessoas, mas teve suas operações interrompidas poucos meses depois devido a investigações do Banco Central da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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Fintechs

Quais são os exemplos de fintech?

No Brasil, há várias categorias de fintechs: de crédito, de pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento, seguro, negociação de dívidas, câmbio, criptoativos, multisserviços, entre outras.

Como muitas não precisam de licença, é impossível saber o número exato. A comunidade de startups Distrito estima que existam atualmente no país 1.264, que captaram mais de US$ 3,6 bilhões em investimentos, por meio de 166 transações, só em 2021. Já entre as fintechs reguladas, existem 45 SCDs, 37 IPs e 10 SEPs.

De acordo com a pesquisa a Distrito, na categoria Crédito existem 187 fintechs, sendo 84 na subcategoria oferta direta, 56 em marketplace, 25 em antecipação e 12 em consórcio. Já na categoria Meios de Pagamento são 186 fintechs, sendo 105 na subcategoria processamento, 54 em frente de caixa (PDV) e 27 em mobile.

E na categoria Backoffice são 173 fintechs, sendo 97 na subcategoria gestão financeira, 68 em contabilidade e 8 em precificação. Essas são as três maiores categorias, de um total de 14. A grande maioria das fintechs não presta serviços para os usuários finais, mas sim para outras empresas, ou seja, é o chamado modelo B2B, onde estão 52,9% dessas startups.

Fintechs são bancos?

Em 2013, foi aprovada a Lei 12.865, criadora do regime jurídico básico das instituições de pagamento (IP). A grande maioria das fintechs e mesmo instituições que se classificam como “bancos digitais” na verdade não são bancos, são IP.

Elas podem oferecer contas de pagamentos, que muito se assemelham às contas correntes tradicionais, mas diferentemente dos bancos não podem captar depósitos dos clientes para funding e nem oferecer empréstimos.

Assim, a enorme maioria, quando oferece esse tipo de serviço, na verdade está atuando como correspondente de um banco ou financeira. As IPs só precisam solicitar uma licença do BC depois que atingem um volume mínimo de transações de R$ 500 milhões em 12 meses.

Fintechs podem fazer empréstimos?

As fintechs de crédito foram criadas após uma consulta pública do BC em 2017. A autoridade estabeleceu dois tipos diferentes, que precisam ter capital mínimo de R$ 1 milhão.

As Sociedades de Crédito Direto (SCD) só podem realizar empréstimo com capital próprio, ou seja, diferentemente dos bancos, não pode se alavancar com capital dos clientes.

Já as Socieades de Empréstimos entre Pessoas (SEP) são, como o nome indica, plataformas que conectam um poupador e um tomador de crédito.

Fintechs são confiáveis?

Em maio de 2018 o mercado de fintechs no Brasil sofreu um baque, quando o BC decretou a liquidação do Neon após encontrar irregularidades na instituição.

O problema foi que a Neon Pagamentos, que era a IP que operava as contas digitais, fez uma parceria para se tornar correspondente bancária do Banco Pottencial, só que este acabou trocando seu nome para Banco Neon .

Quando houve a intervenção do BC, a confusão dos nomes acabou levantando todo mundo no turbilhão, até porque a sociedade brasileira ainda não entendia muito bem o que era um banco digital. Rapidamente, no entanto, a Neon Pagamentos acabou encontrando outro banco com o qual se conectar: o BV (antigo Votorantim).

Hoje, no entanto, há bastante segurança jurídica sobre os modelos de negócios das fintechs e todas as que adquirem um porte significativo estão sob supervisão do BC, o que garante segurança aos usuários e evita eventuais danos ao sistema financeiro se uma delas tiver problemas

Como uma fintech se financia?

Quando uma fintech é criada, ela pode ser financiada de várias formas.

Quando recebe basicamente capital dos sócios, é chamada de bootstrap. Também pode receber um aporte de um investidor anjo, normalmente um empresário, empreendedor ou executivo que já trilhou uma carreira de sucesso, acumulando recursos suficientes para alocar em uma nova empreitada.

Depois, começam as rodadas de aporte, com o pré-seed, seed (“semente”, em inglês), e as séries A, B, C… que não têm um limite. Quando uma startup atinge um valor de mercado (valuation) de US$ 1 bilhão, é chamada de unicórnio.

Quais são as fintechs brasileiras mais conhecidas?

O Brasil tem atualmente 28 unicórnios, mas nem todas são fintechs, algumas são startups de outros setores. São elas: iFood, Movile, Gympass, Ebanx, C6 Bank, Hotmart, Mercado Bitcoin, unico, Nuvemshop, Daki, Olist, Creditas, CloudWalk, Facily, MadeiraMadeira, Loft, QuintoAndar, Loggi, CargoX, Wildlife Studios, Merama, PagSeguro, Nubank, Arco Educação, Stone, Brex, Vtex e Ascenty.

A PicPay, como pertence à holding J&F e não recebeu aportes externos, não tem dados mais concretros sobre seu valuation, mas em uma tentativa frustrada de IPO no ano passado, iniciou as conversas prévias falando em uma avaliação na casa de US$ 20 bilhões. Situação parecida tem o banco Original, também da holding J&F.

O Nubank ainda é uma fintech?

Muitas fintechs que já cresceram bastante acabam se listando na bolsa de valores, com uma oferta pública inicial de ações (IPO0, na sigla em inglês).

O caso recente mais emblemático é do Nubank, mas antes dele outras companhias seguiram esse caminho, como Stone e PagSeguro.

O banco Inter, apesar de hoje em dia ser todo digital, nasceu como financeira em 1994 e depois virou um banco em 2008. Só lançou a conta digital em 2014 e abriu seu capital em 2018. Assim, há controvérsias sobre se seria uma fintech. É a mesma situação de Pan, Bmg, BV, entre outros.

Algo parecido acontece com a XP, que foi fundada em 2001, como uma corretora, mas em diversas ocasiões se apresenta como uma fintech. Outras companhias listadas que poderiam se encaixar na classificação de fintechs são Méliuz, Traders Club e mesmo Dotz (apesar de essa última ter nascido como uma empresa de fidelidade).

Como as fintechs vão mudar os bancos e o sistema financeiro?

Com o forte crescimento das fintechs nos últimos anos, e campanhas de marketing cada vez mais agressivas, teve início uma verdadeira guerra entre elas e os bancos incumbentes. Conforme o Valor mostrou, essa disputa fez inclusive a geralmente discreta Febraban sair dos bastidores e se tornar muito mais vocal na defesa dos bancões.

Um ponto essencial nessa discussão é a consulta pública 78, que deve alterar o tratamento prudencial de conglomerados liderados por instituições de pagamentos. A proposta, ainda não regulamentada, ampliará, na prática, as exigências de capital para as instituições de pagamentos maiores e com atividades mais complexas. O BC concluiu a consulta em janeiro, mas passado um ano ainda não editou as regras, o que é um prazo incomumente grande.

Com o advento do open banking, sistema de compartilhamento de informações bancárias, e órgãos como BC, CVM e Susep criando seus sandboxes – espaços onde novas companhias podem testar modelo inovadores de negócio de forma controlada – a expectativa é que as fintechs ganhem ainda mais espaço e importância nos próximos anos, continuando a explorar brechas mal servidas pelos bancos e atraindo mais pessoas que estavam às margens do sistema financeiro. Saiba mais em Valor Econômico 28/01/2022