O susto da Hypera na Hapvida
A Hapvida colocou na pauta da assembleia com acionistas a inclusão de uma poison pill em seu estatuto. A operadora verticalizada de saúde propõe que a proteção contra um avanço de investidor sem prêmio aos demais esbarre no limite de 20% do capital.
O curioso é que a Hapvida, como se sabe, tem acionista de referência e é muitas vezes tratada pelo mercado como uma empresa de dono. É identificada, no formulário de referência, como companhia com controlador definido. Mas a família Pinheiro tem uma posição de 36,5% – o que lhe dá o maior poder individual de votos e o poder na prática… a menos que alguém comece a acumular ações no free float de 56%.
A proteção, proposta justamente pelo conselho de maioria da família, vem num momento em que as ações estão desvalorizadas – o que tende a abrir o apetite de fundos e estratégicos em companhias sem controle formal (50% mais uma ação). A ação da Hapvida acumula queda de 41% em 12 meses. Não seria um movimento trivial já que, mesmo com a desvalorização, 20% equivalem a R$ 3,6 bilhões – um cheque para poucos.
A proteção também garante que, caso a companhia precise fazer nova captação e isso implique em alguma diluição da família, os Pinheiro ainda teriam a voz de dono – mas a companhia tem conseguido reduzir a desalavancagem a cada trimestre.
Mas gestores experientes não deixaram de notar que o timing da proposta também coincide com um episódio recente na bolsa. Se parecia pouco provável que um investidor ou empresário partisse para cima de uma companhia com um bloco de acionistas de referência que exercem papel de dono, o caso da Hypera mostrou que não é tão improvável assim – e acendeu um alerta em outras empresas.
Quando Carlos Sanchez, dono da EMS, decidiu lançar uma oferta hostil pela Hypera, o empresário João de Alves de Queiroz Filho e a mexicana Maiorem somavam 36,1% da farmacêutica, amarrados em um acordo de acionistas (fatia semelhante à dos Pinheiro na Hapvida). A movimentação fez os acionistas, especialmente o brasileiro, desembolsar alguns milhões para comprar ações adicionais no mercado à vista e por meio de derivativos (hoje, a participação já voltou ao mesmo patamar anterior).
E, ainda assim, isso não limitou o avanço de Sanchez, que está comendo pelas beiradas. Depois de ter sua proposta de fusão rechaçada pelo conselho da Hypera, o dono da EMS seguiu avançando e tem hoje 6% da Hypera por meio do fundo Perenne. Sanchez também já esteve de olho na Oncoclínicas. Fundos soberanos e fundos de private equity também se voltaram para companhias abertas, de olho nos valuations descontados.
Na área de atuação da Hapvida, o setor de saúde registrou movimentações recentes relevantes, como a compra da Amil por José Seripieri Filho, o acordo entre a empresa e a Dasa, e a joint venture de Rede D’Or e Bradesco. “As empresas se movem quando veem tubarões na água”, diz um investidor de Hapvida. As ações da operadora de saúde subiram 3% nesta segunda-feira... leia mais em Pipeline 27/01/2025