Metade das linhas de produção ficará parada neste ano, prevê Anfavea

O índice de ociosidade da indústria brasileira de veículos atingiu patamar de 64% no primeiro bimestre do ano. Isso significa que o setor está utilizando atualmente apenas 36% de sua capacidade total instalada, hoje em 5,05 milhões de unidades por ano em hipotéticos três turnos de operação em todas as montadoras, segundo dados divulgados na sexta-feira, 4, pela Anfavea. Os números apontam que no segmento de leves a ociosidade chegou a 62% em janeiro e fevereiro, enquanto no de pesados a situação é bem mais grave, com inatividade em 81%.

Ao medir o índice para o ano, a Anfavea utilizou sua previsão de produção, ao estimar que em 2016 o setor fabricará 2,44 milhões de veículos, entre leves e pesados. As montadoras reconhecem que seu índice de ociosidade ficará em 52%, com nível de utilização da capacidade em 48%, representando que mais da metade das linhas de produção ficarão paradas este ano no Brasil.

Veja aqui os dados da Anfavea

No caso dos veículos leves, se a produção chegar às 2,33 milhões de unidades estimadas para o ano, as linhas terão utilizado metade de sua capacidade total, que é de 4,63 milhões. Já para pesados, a indústria nacional que pode montar até 422 mil unidades/ano deverá utilizar apenas 26% desta capacidade e apresentar 74% de ociosidade, uma vez que a produção está prevista em 107,8 mil caminhões e ônibus em 2016.

“Este é o drama que estamos passando, o que não é exclusividade do setor automotivo, porque reflete o baixo PIB”, afirma o presidente da Anfavea, Luiz Moan, ao apresentar os dados de desempenho do setor para o primeiro bimestre. “O nível de sustentabilidade do setor está bastante prejudicado neste ano. Globalmente, se considera que o nível ideal de utilização da capacidade seja de 85%”, considerou.

Segundo o executivo, o índice de uso da capacidade foi medido por hora de trabalho, um critério técnico utilizado internacionalmente. Os dados consideram a capacidade atual da indústria nacional em três turnos e não inclui novas fábricas que ainda não entraram em operação, como a de automóveis da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), cuja inauguração está prevista para este mês, e a da Honda em Itirapina (SP) que está pronta mas sem previsão para começar a operar. Também não está na conta a unidade da Jaguar Land Rover que deve iniciar atividades em Itatiaia (RJ) neste semestre.

FRACO DESEMPENHO

Com a baixa demanda do mercado doméstico, a produção nacional no primeiro bimestre ficou 31,6% abaixo do volume verificado em igual período do ano passado, de 411,7 mil para 281,4 mil unidades. A maior queda, de 45,2% no acumulado, veio do segmento de chassis de ônibus, com pouco mais de 2,6 mil unidades.

A retração na montagem de caminhões chegou a 40,7% nos dois primeiros meses do ano, para 9,4 mil contra as 15,9 mil unidades do ano passado. O segmento leve acumula queda de 31,1%, ao somar 269,2 mil, dos quais 236,3 mil automóveis e 32,9 mil comerciais leves, volumes 28,8% e 44,3% menores no comparativo anual.

Em fevereiro, as linhas de montagem que operaram no mês entregaram 131,3 mil veículos, 12,5% a menos do que em janeiro, quando a produção foi de 150,1 mil. Sobre o volume de fevereiro de 2015, houve queda de 36,4%.

ESTOQUES

A baixa atividade do setor reflete as ações de ajustes das montadoras sobre seus estoques. Em fevereiro, o total ficou em 241,4 mil unidades, das quais 181,1 mil em concessionárias e 60,3 mil nos pátios das fábricas, incluindo leves e pesados. Este volume total supre o equivalente a 46 dias de vendas, considerando o ritmo dos negócios observado em fevereiro. Em janeiro, o volume de estoque era de 51 dias.

“A queda [de 32%] da atividade é um movimento claro da necessidade de redução do estoque via ajuste da produção, cenário que permanecerá pelo menos nos próximos dois meses”, declarou Moan. “Para março, acredito que haverá um ritmo melhor, mesmo assim, com estoque elevado, acima de 40 dias, o que é ruim para a saúde financeira das associadas”, completou.

EMPREGOS

O setor automotivo encerrou fevereiro com 130,3 mil pessoas empregadas, 0,7% acima do total verificado no fim de janeiro, quando a indústria contabilizou 129,4 mil trabalhadores. Segundo Moan, houve uma movimentação atípica, uma vez que uma das associadas (Fiat) efetivou 2 mil pessoas que eram terceirizadas. “Sem isso, teríamos uma queda de 1,1 mil trabalhadores no efetivo de pessoal na comparação de fevereiro contra janeiro”, revelou.

Contra o total de empregados em fevereiro de 2015, quando a indústria contabilizou 142,3 mil trabalhadores, houve queda de 8,5%.  SUELI REIS, Leia mais em automotivebusiness 04/03/2016