A Organização Ibero-Americana de Telecomunicações (OTI) espera que a tendência de fusões e aquisições (M&A) dos últimos dois anos continue na próxima década.

O que estamos vendo é a ponta do iceberg”, disse Gonzalo Rojón, diretor de melhores práticas e análise regulatória da OTI, à BNamericas. “À medida que o 5G começar a se tornar mais difundido, passaremos a ver muito mais fusões e movimentações”.

Rojón alerta que todos os mercados de infraestrutura tenderão à consolidação, inclusive o de telecomunicações.

No entanto, ele também vê um movimento no mercado de conteúdo. “Os [serviços] OTT estão crescendo em um ritmo muito acelerado, o que está fazendo com que o mercado e o ecossistema tenham de reagir de maneiras diferentes”, avaliou.

Um exemplo desse tipo de fusão é a da Televisa com a Univisión nos Estados Unidos, que fortaleceu o papel de principal produtora de conteúdo audiovisual em espanhol. Rojón prevê, inclusive, que possa haver telcos adquirindo empresas de conteúdo. Esse tipo de atividade já ocorreu nos Estados Unidos quando a AT&T adquiriu a TimeWarner.

Não descartaria a possibilidade de empresas de telecomunicações adquirirem conteúdo. No fim das contas, todo esse conteúdo passa pela infraestrutura de telecomunicações”, acrescentou.

No entanto, a TimeWarner está se separando e agora se fundirá com a Discovery.

Rojón também espera que o movimento na área de torres de telecomunicações continue, ainda mais do que no segmento de fibra ótica. “Acho que o caso da fibra ótica não está tendo tanto dinamismo quanto o das torres. No fim, muitas operadoras que implantam fibra querem manter o controle”, explicou.

No entanto, há exceções. A Telefónica foi uma das pioneiras na separação do seu negócio de fibra ótica, e a Entel fez o mesmo no Chile recentemente.

No caso das torres, também há uma exceção. Rojón espera que a Sitios Latinoamérica, a nova empresa de torres da América Móvil, se mantenha dentro do grupo mexicano.

CONCORRÊNCIA

As atividades de M&A dos últimos anos impulsionaram os investimentos em fibra ótica e, em alguns casos, equilibraram o ambiente competitivo. No entanto, sempre que há consolidação, há o risco de diminuir a concorrência. Por isso a regulação tem um papel fundamental, segundo Rojón.

O representante da OTI afirmou que existem opções como regulação assimétrica, compartilhamento de infraestrutura ou mesmo a divisão de empresas para conter possíveis problemas de concorrência.

Rojón não considera que as fusões anunciadas no setor de telecomunicações representem um risco à concorrência ou levem o mercado a se concentrar nos níveis observados no México ou na Colômbia, onde uma única operadora detém a maior parte do mercado.

PRINCIPAIS TRANSAÇÕES

Em 2021, foram feitos os principais anúncios de M&A no setor de telecomunicações.

Na Guatemala, a Millicom assumiu o controle da operação da Tigo ao adquirir 45% da empresa por US$ 2,2 bilhões.

Em setembro daquele mesmo ano, a Liberty Latin America comprou a Claro Panamá por um valor próximo a US$ 200 milhões. A transação obrigou a terceira operadora do mercado, a Digicel, a anunciar sua saída do país.

A Telefónica fechou a venda de sua operação na Costa Rica para a Liberty Latin America por US$ 500 milhões. Além disso, a operadora móvel se fundiu com a Cabletica, prestadora de serviços fixos da qual a Liberty detém 80% de participação.

A Telefónica Colômbia adquiriu os ativos de banda larga da DirecTV, incluindo seu espectro de 70 MHz na faixa de 2,5 GHz. No mesmo país, WOM e Avantel iniciaram seu processo de fusão.

Também em 2021, a Telefónica fechou acordos com a KKR para transferir parte de suas redes de fibra e criar veículos de fibra neutra no Chile e na Colômbia. No Brasil, fechou negócio com a canadense CDPQ.

Enquanto isso, a AT&T vendeu a Vrio (que atua como DirecTV Latinoamérica e Sky) para o grupo argentino Werthein por um valor não revelado.

Por último, foi aprovada recentemente a joint venture entre a VTR Chile e a Claro… saiba mais em bnamericas 19/11/2022