O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre promete crescer na mesma intensidade em que avançou nos três primeiros meses de 2022 e ficar acima do nível pré-pandemia. O consenso Refinitiv de mercado aponta para uma alta trimestral de 0,9% e de 2,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Economistas e analistas ouvidos pelo InfoMoney projetam crescimento entre 0,6% e 1%. O dado será divulgado na próxima quinta-feira (1) às 9h (horário de Brasília) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mais uma vez, a atividade econômica deve ser impulsionada pelo setor de serviços, no lado da oferta. Em junho, o segmento cresceu pelo segundo mês consecutivo, avançando 6,3% na comparação com um ano antes. Os serviços têm sido beneficiados pela normalização da economia, com o relaxamento quase que total das restrições adotadas durante a pandemia. A retomada de atividades presenciais também coincide com medidas de estímulo adotadas pelo governo.

“O destaque deve ficar, sobretudo, com serviços prestados às famílias, segmento que ainda não voltou para o patamar pré-pandemia e deve continuar puxando a economia também no terceiro trimestre”, afirma Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital. A casa projeta alta de 1% para o PIB do segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses do ano.

“Tem ainda a dinâmica dos auxílios, o pagamento de vouchers e o aumento de renda disponível da classe média, com a queda do preço dos combustíveis”, complementa a economista.

O Morgan Stanley prevê crescimento trimestral de 1% e de 2,8% na comparação anual. “A recuperação do mercado de trabalho se provou robusta, impulsionada pela contratação de trabalhadores informais. Além disso, o governo antecipou o pagamento do 13º salário de aposentados e pensionistas”, enumeram os analistas do banco.

O crédito, elemento importante para a expansão doméstica, vem apresentado crescimento tímido, apesar do aumento da inadimplência de pessoas físicas. “Em geral, quando os serviços vão bem, a parte de consumo das famílias também vai bem, e deve ser isso que vai puxar o PIB pelo lado da demanda”, afirma Raone Costa, economista chefe da Alphatree Capital. A casa prevê crescimento trimestral da economia de 0,9%.

Para Helena Veronese, economista chefe da B.Side Investimentos, ainda que os serviços tenham dado impulso à economia brasileira no segundo trimestre, já devem dar sinais de desaceleração no período. “A reabertura das atividades segue impulsionando, mas a normalização também já começa a ser absorvida pela economia”, afirma. A B.Side prevê crescimento de 0,8% para o PIB entre abril e junho deste ano e de 2,6%, comparando com o mesmo período do ano passado.

Expansão do PIB deve ser disseminada

Mesmo que puxado pelo setor de serviços, a previsão é que outros setores tenham contribuído com a continuidade do crescimento econômico no segundo trimestre.

“Sob a ótica da oferta, todas os grandes grupos devem mostrar avanço na margem. A agropecuária deve se recuperar após uma safra de soja marcada pelas estiagens no sul do país no 1T22 e, a indústria, deverá mostrar todos os segmentos contribuindo positivamente”, afirma João Savignon, economista da Kínitro Capital. A casa prevê crescimento de 0,8% no PIB do segundo trimestre, comparado com o período imediatamente anterior, e de 2,7% na comparação anual.

De acordo com Savignon, no entanto, ainda há uma “importante heterogeneidade” entre as atividades econômicas, sendo que algumas ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia. Essa é uma questão que também é observada por outros agentes de mercado.

A indústria deve registrar performance bem mais tímida, pois tem mostrado dificuldade em diversas frentes. Desde problemas nas cadeias de suprimento globais, até arrefecimento do consumo de bens duráveis após o boom observado durante a pandemia”, ressalva Laura Moraes, economista da Neo Investimentos, que prevê um crescimento mais moderado (de 0,6%) do PIB no segundo trimestre.

PIB tende a desacelerar já no segundo semestre

A força do consumo privado deve se estender ao longo do segundo semestre deste ano, na visão do Morgan Stanley, e também em 2023, ainda que em menor escala.

“Não devemos ver estímulos fiscais impulsionando o consumo doméstico no ano que vem”, afirma a equipe de análise do banco.

Ainda de acordo com o Morgan, os investimentos devem ser impulsionados por uma forte recuperação da China em 2023. Além disso, o banco destaca a entrada de recursos do setor privado na economia, vindas de concessões, vendas de ativos e privatizações realizadas nos últimos anos.

Raone Costa, da Alphatree, enxerga tendência de inversão já terceiro trimestre. “A expectativa é que o setor de serviços mostre uma força menor, enquanto a indústria deve apresentar uma melhora, sobretudo na parte de bens duráveis. Acredito que vai ser o inverso em termos de abertura de crescimento”.

Os estímulos à renda devem continuar sustentando o crescimento na segunda metade do ano, na avaliação dos analistas, com chances de desaceleração a partir do quarto trimestre. “É quando a política monetária [de juros mais altos] começa a fazer efeito sobre a economia”, afirma Andrea Damico. A Armor Capital, recentemente, revisou suas projeções do PIB para 2022 (de 2% para 2,5%) e 2023 (de 0% para 0,5%).

Para Savignon, da Kínitro, apesar da visão favorável de crescimento no curto prazo, a dinâmica tende a ser desafiada nos próximos trimestres. “Por conta da desaceleração da economia global, do impacto do aperto monetário implementado até então e da dissipação dessas medidas fiscais”, conclui… leia mais em indicesbovespa 31/08/2022