O porte do mercado brasileiro de saúde e o potencial de ganhos de qualidade e produtividade proporcionado pelo uso da tecnologia estão atraindo o interesse de investidores para startups do setor. Entre eles se alinham fundos de investimentos, empresas de tecnologia e órgãos oficiais no apoio a iniciativas que vão de sistemas de gestão à biotecnologia.

A Memed é uma das mais escoladas. O receituário médico eletrônico baseado em diretório de medicamentos nasceu com capital próprio e dos pais do CEO Ricardo Moraes. A primeira versão, lançada em 2013, levou à incubação na 21212 e rendeu R$ 40 mil reais, empregados na estadia no Rio de Janeiro. No mesmo ano, o programa Startup Brasil rendeu R$ 200 mil para investimento em profissionais.

Em 2014 a ideia atraiu o fundo Redpoint Ventures e, em 2015, ganhou aporte de US$ 500 mil da Qualcomm em parceria com Monashees e Redpoint. Hoje a solução tem app móvel, com mais de 20 mil medicamentos credenciados pela Anvisa e 30 mil médicos cadastrados. Ainda não gera receita, mas Ricardo já avalia modelos como ajudar as vendas das farmácias em troca de porcentagem ou disponibilizar a plataforma para lançamentos da indústria.

A I9Access também atraiu interesses diversos. A empresa surgiu em 2008 como spin off de um projeto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Prefeitura de Porto Alegre, que instalou um programa de ultrassonografia a distância no bairro periférico de Restinga via PLC (transmissão de dados por rede elétrica, na sigla em inglês). Logo em seguida venceu editais do Sebrae – o projeto Prime rendeu R$ 120 mil do Ministério de Ciência e Tecnologia para subsidiar a criação da empresa, o Inovar outros R$ 350 mil para inovações. Com sócios acadêmicos, outros investimentos chegaram via Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE), do CNpQ, e do programa Tecnova, no valor de R$ 700 mil.

Os recursos renderam produtos como o eletrocardiograma remoto e a sala de cirurgia inteligente, construída sobre plataforma em código aberto desenvolvida pela UFRS. Com hiper compactação de vídeo e voz, o produto transmite cirurgias com imagem e som em alta definição via web em duas mãos. A joint venture Unit Care Tecnologia, com a paulista Unit Care, rendeu o Mobile Care, sistema de monitoramento remoto de pacientes crônicos baseado primeiro em equipamentos bluetooth e, mais tarde, por tecnologia própria de captação de dados por dispositivos móveis que fez o preço cair de R$ 180 para US$ 1 por paciente ao mês e deu origem ao app Glico, para monitoramento de diabéticos, com 1000 downloads e 350 usuários ativos, diz Cirano Iochpe, sócio da empresa.

A Genotyping é outra origem acadêmica. Fundada na incubadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) com foco em análises moleculares, em 2012 atraiu o investidor-anjo e hoje CEO Manuel Afonso Braga. A empresa foi dividida em duas áreas – diagnósticos genéticos para saúde humana e atividades para indústrias como agrícola e alimentícia, sob marca a BPI – e no ano passado fechou aporte de R$ 4 milhões do Fundo de Inovação Paulista, com participação minoritária. “Os investimentos serão empregados em pesquisa na BPI e na área comercial da Genotyping”, diz Braga.

Iniciativas inovadoras atraem fundos privados. A plataforma mista de CRM e ERP IClinic mirou clínicas médicas, segmento em que só 30% são atendidos por tecnologia. O negócio passou por aceleração na holandesa Rockstart em 2013 e recebeu um primeiro aporte de capital semente antes do lançamento, em 2014. O produto, em nuvem, atende milhares de médicos e o crescimento acima de 10% ao mês chamou a atenção da Endeavor e de um grupo de executivos do mercado de saúde. “Eles formaram um fundo só para investir na empresa”, diz o CEO Felipe Lourenço.

Já a Docway surfa na onda da uberização com aplicativo que conecta médicos e pacientes para atendimento domiciliar. Em fevereiro, a empreitada recebeu R$ 5 milhões do grupo Garantia. A plataforma reúne mais de 1,6 mil médicos, oito laboratórios e 22 mil pacientes com app instalado, cujos dados permitirão análises preditivas. Em julho, foram 400 consultas e a meta é fechar o ano com 14 mil ao mês e chegar ao exterior em 2017, diz o CEO Fábio Tiepolo. “Existem muitas oportunidades para solucionar problemas importantes na área da saúde por meio da tecnologia”, justifica Marisa Seibel, presidente do conselho do Grupo Garantia, que ficou com 51% do negócio.  Jornalista: Martha Funke – Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 01/08/2016