Empresas de private equity correm contra o relógio para se preparem para a próxima onda de acordos.

Juros mais altos, riscos de inflação e recessão corroeram a confiança dos consumidores e deixaram empresas de aquisição diante de uma nova realidade de custos de financiamento mais elevados e retornos potencialmente mais baixos. Nada disso muda o fato de que há mais de US$ 1 trilhão em caixa que precisam ser gastos.

“As pessoas dizem que não há financiamento disponível, mas nossos clientes nos dizem: ‘Temos um grande fundo que precisamos gastar”, disse Umberto Giacometti, cochefe de patrocinadores financeiros na Europa, Oriente Médio e África da Nomura Holdings. “Se você precisar gastar, digamos, US$ 10 bilhões em quatro anos e não fizer nada por seis meses, está sob pressão.”

É uma mudança profunda para uma classe de ativos que, por mais de uma década, recebeu muito dinheiro de investidores que buscavam rendimentos em um ambiente de baixas taxas de juros. Essas mesmas taxas permitiram que as companhias acumulassem dívidas por meio de acordos para ampliar os retornos, enquanto “valuations” crescentes ofereciam rotas de saída com prêmios saudáveis. E foi assim mesmo no auge da crise de Covid-19.

Private equity tem pressa para investir
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Os negócios começaram a desacelerar no início de 2022 devido a temores crescentes em torno da inflação e aumento dos juros – tendências que se acentuaram depois que a Rússia invadiu a Ucrânia. Os gastos em private equity somam cerca de US$ 30 bilhões no acumulado de outubro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg – o menor desembolso mensal desde o início da pandemia. Alguns investidores até pediram às empresas que parassem de aplicar capital enquanto buscam montar reservas de caixa.

Banqueiros e consultores de empresas de private equity esperam que a atividade se aqueça no início de 2023, provavelmente na forma de transações de participações minoritárias menores e aquisições de médio porte. Com os preços das ações em baixa, operações de fechamento de capital serão uma fonte muito importante de fluxo de negócios, dizem, assim como aquisições secundárias – pelas quais um fundo vende um ativo a outro para atrair novos investidores.

“Não é que não tenhamos nada para fazer, pelo contrário”, disse Burc Hesse, sócio corporativo de private equity do escritório de advocacia Latham & Watkins, na Alemanha. “Ainda há muito ‘dry powder’ (capital disponível para investir) e muitas empresas de aquisição fecharam fundos no ano passado, então vão gastar.”

Com as pressões nos mercados de financiamento tradicionais e os custos mais altos para obter dívida privada alternativa, haverá menos aquisições gigantes muito alavancadas. Empresas como a KKR & Co. estão entre as que estão prontas para emitir cheques de ações mais gordos para fechar negócios, com a esperança de refinanciá-los quando os mercados de crédito melhorarem ou trabalhar com a dívida existente de uma companhia.

Na semana passada, a Thoma Bravo e a Sunstone Partners fecharam um acordo para comprar a UserTesting, empresa americana de insight digital do consumidor, por US$ 1,3 bilhão. Foi o segundo negócio da Thoma Bravo apenas com ações em outubro, após a aquisição da empresa de software ForgeRock.

Setores preferidos

Os setores-alvo do novo ciclo incluirão infraestrutura, saúde e energia, segundo os banqueiros. Esses tipos de empresas tendem a ter mais facilidade de repassar custos mais altos aos clientes, tornando-as atraentes para investidores de private equity, dizem.

“Uma categoria específica de negócios em que vejo muito interesse é a combinação de assistência médica e software”, disse Hesse, da Latham. “Os fundos adoram, porque esses negócios são escaláveis e têm receitas recorrentes projetáveis em dois setores de crescimento ao mesmo tempo.”… leia mais em MSN 31/10/2022