Onde há problemas, há oportunidades. Que o diga a área de saúde. De um lado, o setor público e suas dificuldades para atender bem a todos que precisam. De outro, o setor privado, com reajustes acima da inflação em seus planos, pressionando o bolso de indivíduos e o caixa das empresas. Nesse cenário, as healthtechs, startups voltadas à saúde, florescem principalmente com o propósito de oferecer soluções para organizações reduzirem seus custos com saúde e, de outro lado, aumentar o acesso de pessoas ao sistema para além do SUS.

Problemas na área de saúde impulsionam healthtechs

 

“Os dois [saúde pública e privada] estão sobrecarregados de uma forma ou de outra”, afirma Thiago Bonino, da Vidia, healthtech que possibilita a realização de cirurgias para quem não tem plano de saúde. “Acreditamos que o número de atendidos pelos planos de saúde não vai aumentar, e tem que haver algo no meio [entre os setores público e privado]”, acrescenta. É aí que está o papel que as startups esperam cumprir. E elas estão ocupando espaço.

Levantamento realizado pela plataforma Distrito, que ajuda companhias a encontrar startups capazes de oferecer soluções para suas demandas, aponta a existência de 1.023 healthtechs em atuação no Brasil em diferentes estágios de evolução.

Problemas na área de saúde impulsionam healthtechs

Levantamento realizado pela plataforma Distrito, que ajuda companhias a encontrar startups capazes de oferecer soluções para suas demandas, aponta a existência de 1.023 healthtechs em atuação no Brasil em diferentes estágios de evolução. O estudo, consolidado no Distrito Healthtech Report 2022, foi feito a partir de pesquisa da empresa em seu banco de dados proprietário, no qual constam mais de 36 mil startups de todos os segmentos no mundo. O relatório, porém, ressalta que o número pode ser maior, pois é necessário tempo para que soluções amadureçam e sejam reconhecidas.

A gama de serviços já é grande, vai de prontuário médico a teleconsultas (Veja o quadro acima). Ganham espaço os serviços com base em saúde preventiva, enquanto o setor já fala em “open health” – com permissão do paciente, seus dados médicos podem ser consultados por qualquer empresa da área. De acordo com a Distrito, a maior parte das startups detectadas pelo estudo (28,44%) é voltada à gestão e prontuário eletrônico do paciente. Em segundo lugar está o grupo formado por aquelas com o propósito de oferecer acesso à saúde para mais brasileiros (12,46%), seguido pelo de telemedicina (11,96%).

A Central da Visão é uma das que oferecem cirurgias a preço acessível. A startup negocia com cirurgiões oftalmologistas pacotes completos de cirurgia com condições mais acessíveis e formas facilitadas de pagamento – os preços são, em média, entre 30% e 50% menores do que os do mercado particular. Por usarem os horários vagos dos profissionais, ainda ajudam a clínica a aumentar a ocupação, trazer receita e diluir custos fixos. Em cinco anos, são 6 mil cirurgias feitas, sendo a de catarata a maior demanda. “Nossa meta é ter até o final de 2023 uma clínica parceira em cada Estado. O foco é expandir para cidades com mais de 1,5 milhão de habitantes”, posiciona a CEO da Central da Visão, Marta Luconi. Em 2021, a startup recebeu R$ 3 milhões dos grupos de investidores Gávea Angels, Hangar 8 Capital e 4am Capital.

Com doses de inovação e tecnologia, as healthtechs podem dar um impulso importante para negócios se diferenciarem ou solucionar problemas de empresas tradicionais. Não é de se estranhar, portanto, que grandes companhias recorram a elas. A Dasa, dona de laboratórios e hospitais, por exemplo, é patrocinadora da área de healthtechs do Cubo Itaú. “A Dasa, e as grandes corporações em geral, se beneficiam desse relacionamento com startups, porque elas proporcionam desenvolvimento interno, criando valor a partir de sua área de pesquisa e desenvolvimento, e também por meio de fusões e aquisições. A companhia vai lá e adquire o que precisa”, afirma Fabiana Salles, diretora de Engajamento com Startups da empresa.

Segundo ela, a Dasa já mapeou 371 healthtechs, fez a curadoria de 95 e já se conectou com 41 delas. Dessas, 17 passaram por testes de hipótese para avaliar a viabilidade de seu produto/serviço. A própria Salles veio de uma healthtech, a Gesto Saúde, que foi comprada pela Dasa em 2020. O que chamou a atenção da gigante foi o uso de dados na gestão de planos de saúde e o foco na prevenção.

Na prática, a Dasa reúne hoje em uma plataforma de inteligência de dados informações dos pacientes, como resultados de exames e uso do plano de saúde – com consentimento, claro. A partir daí consegue, por exemplo, alertar as pessoas sobre a necessidade de realizar um exame preventivo ou um determinado cuidado. Também detecta se houve um exame que apresentou alteração e o paciente não foi buscar. “Assim, conseguimos fazer a gestão da população de uma empresa de forma muito mais eficiente”, diz Salles.

Prevenção e gestão de planos de saúde também são oferecidas às empresas pela Axenya, que recentemente se juntou à HealthCo. O objetivo do serviço é reduzir custos para as organizações, com a racionalização do uso do plano ao mesmo tempo em que promove a saúde e o bem-estar dos funcionários.

“As pessoas estão acostumadas a somente usar plano de saúde para tratar de doença, e não da saúde. E essa é que é a sistemática errada”, Roberto Vianna, um dos sócios da Axenya. Em média, a empresa informa que consegue evitar em média 85% do reajuste anual pedido pelos planos de saúde. Por meio de um monitoramento que une software, hardware e inteligência artificial, a startup usa dados para acompanhar a saúde de doentes crônicos, com obesidade e diabetes, por exemplo, e para realizar programas de promoção à saúde.

Para Vianna, o erro está em não incentivar a pessoa a se cuidar, o que pode acarretar na descoberta tardia de alguma doença. Quando isso acontece, os tratamentos costumam ser caros, especialmente se houver intervenção cirúrgica ou internação hospitalar. “É isso que estoura a utilização do plano de saúde. Se conseguirmos evitar esses problemas e que um caso se torne grave, conseguiremos fazer um bem para a pessoa e também ajudarmos a empresa a gastar muito menos.” Colaborou Naiara Bertão… leia mais em Valor Econômico 05/10/2022